Novo ministro sul-africano das Finanças admite desconfiança
1 de abril de 2017O novo ministro das Finanças da África do Sul, Malusi Gigaba, reconheceu este sábado (1.04), num comunicado à imprensa, o "ambiente de profundo desacordo e desconfiança mútua”, numa altura em que a demissão do seu antecessor, Pravin Gordhan, acentua a divisão no seio do Congresso Nacional Africano (ANC), o partido no poder, e continua a gerar críticas dos partidos da oposição e da população sul-africana.
A moeda da África do Sul, uma das maiores economias do continente, caiu esta semana perante suspeitas de corrupção entre os mais altos membros do Governo. Muitos sul-africanos temem que as agências de notação financeira passem a economia nacional para a categoria "lixo” na classificação de risco.
O novo ministro das Finanças sublinhou este sábado o compromisso com a manutenção de uma classificação de crédito de categoria "investimento” para a África do Sul, afirmando que tem estado a falar com as agências de notação financeira.
Acalmar e transformar
Malusi Gigaba prometeu "uma transformação económica radical” no país, mas acrescentou que isto significa mais do que empoderar a maioria negra sul-africana. Segundo o ministro das Finanças, a transformação da economia passa por distribuir riqueza que tem estado concentrada num grupo limitado de pessoas.
Gigaba garantiu ainda que não vai "trair” o povo sul-africano, reconhecendo a falta de confiança no país. O papel do ministro das Finanças, acrescentou, "é restaurar a calma”. O antigo ministro dos Assuntos Internos e ex-líder da juventude do partido no poder, tem pouca experiência no setor da economia, mas anunciou que vai reunir com Pravin Gordhan para consultas.
A agência de notação financeira Fitch prevê que as mudanças no Executivo sul-africano vão agravar as tensões no partido no poder e podem prejudicar as finanças públicas. Também a população teme que as mudanças políticas tenham consequências económicas. A demissão de Gordhan, visto como um político na linha da frente do combate ao uso de dinheiros públicos para ganhos pessoais, é um novo golpe na economia sul-africana, que cresceu apenas 0,5% no ano passado. A taxa de desemprego no país ronda os 27%.
Ambiente de suspeitas
O novo ministro das Finanças é considerado próximo do chefe de Estado: um facto que contribui para alimentar a controvérsia em torno da demissão de Parvin Gordhan.
O partido dos Combatentes pela Liberdade Económica (EFF), da oposição, critica o "estilo de vida inexplicável" de Malusi Gigaba e a má gestão da empresa estatal South African Airlines (SAA), quando era ministro das Empresas Públicas.
Também o seu novo assistente do Tesouro, Sfiso Buthelezi, é mencionado num relatório oficial sobre irregularidades financeiras na altura em que era o responsável pela companhia ferroviária nacional.
Por outro lado, Pravin Gordhan deixa o Ministério das Finanças no auge da sua popularidade, como campeão da luta contra a corrupção.
"Zuma não se compara aos anteriores líderes do ANC, ele sabe-o e é muito sensível a isto”, considera Mari Harris, do instituto Ipsos, na África do Sul. "Tentou purgar o Governo dos seus opositores, colocando nesses lugares pessoas mais conciliadoras”, acrescenta o analista político ouvido pela Agência France-Presse.
A remodelação do Executivo é vista por muitos sul-africanos como uma tentativa de garantir a liderança do partido no poder, tendo em vista a sucessão de Jacob Zuma. O ANC deve escolher o sucessor de Zuma em dezembro. O próximo líder do ANC será o candidato à Presidência sul-africana nas eleições gerais de 2019.
Jacob Zuma não esconde o apoio ao nome da sua ex-mulher, Nkosazana Dlamini-Zuma, para a liderança do ANC. Dlamini-Zuma acaba de concluir o seu mandato como chefe da Comissão da União Africana (UA).