África surge como o “el dorado” da Turquia
13 de junho de 2012
A viagem do vice-primeiro-ministro turco, Bekir Bozdag, a Mogadíscio, no início de março, foi um golpe de relações públicas bem orquestrado. Há mais de vinte anos que nenhum avião de linha aérea fiável aterrava na capital da Somália. Agora as linhas aéreas turcas fazem-no duas vezes por semana.
Depois da visita à Somália, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, em agosto de 2011, acompanhado de uma numerosa delegação, muita coisa aconteceu: a Turquia abriu uma embaixada no país, ajudou a reconstruir o aeroporto e oferece bolsas de estudo a jovens somalis.
Os primeiros passos da ofensiva africana foram dados em 1998, quando a Turquia delineou uma nova política para África. Seguiu-se, em 2005, o “Ano de África” e uma série de visitas ao continente que incluíram a África do Sul e a Etiópia. Ancara também obteve o estatuto de observador na União Africana.
O analista Gero Erdmann, do instituto GIGA (Instituto Germânico de Estudos Globais e Regionais) de Hamburgo, explica que “este interesse por África explica-se pelo fato de a Turquia ter necessitado de reorientar a sua política externa depois do fim da Guerra Fria. Após do fim do mundo bipolar a Turquia teve, como os outros países, de se reorientar e daí este conceito de mostrar o máximo de presença possível no continente africano”.
Entre 2005 e 2012 o número de embaixadas turcas no continente africano passou de quatro para 15. Além das embaixadas, a Turquia criou também escolas privadas para a formação de Imans.
De acordo com Gülistan Gürbey, da Universidade Livre de Berlim, “este é um conceito geoestratégico que bebe do passado otomano, ou seja é uma política externa que procura criar uma identidade religioso-cultural muçulmana”.
Turquia tem interesses geoestratégicos e económicos
O novo interesse da Turquia reflecte-se nas estatísticas do comércio. De 2002 a 2011, o volume de transações comerciais quintuplicou. Muitos investidores turcos têm apostado em projetos de infra-estruturas ou de construção, por exemplo na Etiópia e no Sudão, mas também em sectores tradicionais como o têxtil ou a produção alimentar que têm merecido o interesse do empresários turcos.
Ao contrário de países concorrentes em África, a Turquia coloca o interesse estratégico antes da política de recursos, segundo Gero Erdmann. O analista diz que “a Turquia quer conquistar para si os votos africanos na Organização das Nações Unidas (ONU). Os turcos gostariam de voltar a ter um assento ,não permanente, no Conselho de Segurança e África tem mais de 50 votos nas Nações Unidas”.
Gero Erdmann, analista do instituto GIGA, prossegue, afirmando que o “segundo interesse é económico, embora ainda não orientado para os recursos naturais. Nesta fase, a Turquia procura sobretudo mercados para escoar os seus produtos”.
Esta estratégia de caça ao voto africano nas Nações Unidas é concretizada através de uma política agressiva de ajuda ao desenvolvimento, como foi o caso por exemplo, durante a seca na Somália.
Autores: Yilma Hinz / Helena Ferro de Gouveia
Edição: Glória Sousa / António Rocha