“É preciso que os angolanos elejam diretamente o Presidente”
4 de setembro de 2012O que aconteceu em Angola nestas eleições gerais não foge ao ritual eleitoral em África, frisa David Zounmenou, pesquisador do Instituto para Estudos de Segurança (ISS), em Pretória, na África do Sul.
De acordo com este analista, tanto o Presidente José Eduardo dos Santos como o MPLA prepararam, nos últimos dois anos, o terreno para que as eleições tivessem o resultado que tiveram. “Foram introduzidas alterações na Constituição e todo o sistema eleitoral foi controlado”, afirma Zounmenou.
Também a oposição tem, na opinião do especialista, responsabilidades no resultado. “Primeiro, pela sua dispersão e também pela desorganização. Por outro lado, não soube capitalizar a insatisfação popular ligada ao desemprego e, principalmente, à Revolução Árabe”, explica.
Jogo eleitoral desigual
A legalidade e a normalidade das eleições gerais angolanas “são controversas”, segundo David Zounmenou, porque houve desigualdades que favoreceram o regime. Algo que a oposição angolana tem criticado vivamente, mas que, tal como foi no passado, "não levará a nenhum resultado, principalmente quando José Eduardo dos Santos se sente reconfortado pelos mais de 70% de votos que recebeu”.
Ainda segundo o especialista do ISS, não se pode falar da legitimação de Eduardo dos Santos na sequência das eleições uma vez que o contexto eleitoral não foi totalmente transparente.
David Zounmenou sublinha que o presidente angolano soube encontrar a fórmula necessária para se manter no poder. Mas que, mesmo assim, se pode falar de um passo para o estabelecimento de bases visando uma democratização do país e uma verdadeira democracia participativa em Angola, embora muito ainda esteja por fazer.
“É preciso que os angolanos aprendam a votar diretamente para eleger um presidente em vez de passar por estratégias políticas como o maior partido ou o mais votado é que deve decidir quem será o presidente da República", afirma.
Zounmenou completa, "a luta pela aplicação do sufrágio universal direto permanece um elemento muito importante que irá dominar as futuras mudanças políticas em Angola”.
Risco de derrapagem pós-eleitoral em Angola existe, mas é pequeno
O analista do ISS acredita que o risco de derrapagem pós-eleitoral, em Angola, é possível, mas nunca com a amplitude de casos como, por exemplo, o da Costa do Marfim. Para Zounmenou, o período que antecedeu a campanha e as eleições angolanas demonstrou que tudo pode acontecer após a publicação oficial dos resultados.
“Vimos como as forças sociais, os jovens e os movimentos políticos se mobilizaram e, assim, forçaram o regime de Luanda a impor praticamente uma proibição total das manifestações”, diz Zounmenou.
Isto, ao mesmo tempo, em que "vigiava de muito perto os movimentos sociais para não ter lugar no país o que aconteceu com alguns regimes no norte de África. Portanto, existe risco de derrapagem, mas não se deve estar preocupado com a sua amplitude”, finaliza.
Autor: António Rocha
Edição: Helena Ferro de Gouveia/Cristiane Vieira Teixeira