1871: Fundação do Império Alemão
Na Sala dos Espelhos do Palácio de Versalhes, em Paris. A luz de 32 lustres de prata se multiplicava pelo reflexo das paredes ao longo do salão de 73 metros. Flores, laranjeiras e móveis barrocos luxuosos compunham o cenário ao redor de centenas de pessoas em trajes de gala. Lá estavam o rei prussiano e sua corte, muitos príncipes alemães e numerosos militares de alto escalão exibindo suas medalhas.
O coral encerrou a cerimônia religiosa encomendada pelos soberanos alemães no palácio real do inimigo já praticamente derrotado. Mas não era a missa em ação de graças que eles celebravam. Eles vieram para concretizar um velho sonho alemão: o sonho do Império Alemão, o sonho de ter novamente um imperador. Aos 71 anos, Guilherme 1º, rei da Prússia, era proclamado imperador alemão pelos príncipes presentes.
Na cerimônia cheia de ostentação, o escolhido não se sentia muito confortável. Na véspera, havia escrito: "Assumo um império apenas nas aparências. Não serei mais do que um 'presidente'. Mas se já chegamos até aqui, tenho de carregar esta cruz. Amanhã me despedirei da velha Prússia, à qual sempre estive ligado e sempre estarei. Nem consigo expressar como me sinto desesperado."
Papel de Bismarck
Uma pessoa, ao menos, estava mais do que satisfeita. Afinal o restabelecimento do Império era basicamente obra sua, cujos frutos ele finalmente podia colher após longos anos de trabalho: Otto von Bismarck, primeiro-ministro prussiano e primeiro chanceler (chefe de governo) do Império recém-fundado.
Demorou longos anos até que a colcha de retalhos Alemanha, com seus pequenos principados e reinos, formasse um Estado nacional único, sob liderança da Prússia. O reino de Guilherme 1º e Bismarck travou duas guerras para atingir seu objetivo: em 1866, contra a Áustria, e em 1870/71, contra a França.
Através da guerra contra a França, Bismarck conseguiu despertar o entusiasmado espírito nacional que lhe permitiu conquistar a adesão dos principados que ainda resistiam à unificação nacional. No fim de 1870, chegara a hora. A Liga Setentrional Alemã rebatizou-se como Império e, em vez de uma presidência, passaria a ter um imperador. Apenas o rei Ludwig da Baviera hesitava ainda em declarar sua adesão.
Data histórica para a Prússia
Na última noite de 1870, o príncipe herdeiro da Prússia e futuro rei Frederico 3º anotou em seu diário: "O imperador declarou não desejar fazer qualquer manifestação amanhã, porque a Baviera ainda não aderiu. Por outro lado, Delbrück comunicou que, hoje à noite, já estará impressa em Berlim a nova Constituição Imperial, que entrará em vigor amanhã, proclamando o imperador e o Império. Bismarck, que eu encontrei na cama e cujo quarto mais parece um verdadeiro depósito de tralha, desaconselhou uma proclamação sem a adesão da Baviera. Então, o remeti à histórica data de 18 de janeiro, com o que ele pareceu concordar."
De fato, não teria havido dia melhor para encenar o novo capítulo da história nacional, pois o 18 de janeiro é dia santo para os prussianos. Neste dia, 170 anos antes, em 1701, o príncipe eleitor de Brandemburgo fora coroado como o primeiro rei da Prússia. Desde então, a data era lembrada todos os anos.
E a encenação foi bem-sucedida. Embora o Império já existisse formal e juridicamente há algumas semanas, a proclamação festiva de Guilherme 1º em Paris como imperador entrou para os livros de história como a data de fundação do Império Alemão.