1911: Alemanha reconhece o domínio francês no Marrocos
Publicado 4 de novembro de 2012Última atualização 4 de novembro de 2018Em 1911, a Alemanha partiu para a ofensiva. O envio do navio de guerra Pantera a Agadir, no Marrocos, e a consequente ocupação da cidade por tropas alemãs foram planejados como trunfo para futuras negociações com a França e a Inglaterra.
Em 1880, a Convenção de Madri havia assegurado a independência ao sultanato. Apesar disso, o Marrocos continuou o pomo da discórdia entre as potências europeias, em razão das suas riquezas naturais.
Também o Império Alemão mantinha intensas relações comerciais com o Marrocos. Para a Alemanha, as desavenças entre as potências coloniais França e Inglaterra, em relação à região, vinham até mesmo a calhar. Enquanto Paris e Londres brigavam, e não apenas por causa da questão marroquina, Berlim aproveitava.
Essa situação mudou em 1904, após a criação da Entente Cordiale pela França e pela Inglaterra. Nesse acordo foram esclarecidas várias desavenças entre os dois países com relação a diversos territórios espalhados pelo mundo.
O principal ponto do acordo dizia respeito à divisão do norte da África: o Egito foi posto na esfera de interesses de Londres, e Marrocos, na de Paris. Falava-se na época de uma "penetração pacífica" nessas regiões. A Alemanha, porém, viu suas relações comerciais ameaçadas pelo pacto franco-inglês.
Prova de fogo
A primeira crise do Marrocos chegou ao ápice em 1905. Com o objetivo de colocar à prova o acordo entre a França e a Inglaterra, o imperador alemão Guilherme 2º decidiu viajar a Tânger. Lá foi recebido com todas as honrarias e fez uma declaração que aludia claramente ao papel da França: "Espero que, sob o comando do sultão, um Marrocos livre e soberano abra-se para a concorrência pacífica entre todas as potências europeias".
A França reagiu com indignação. Em Londres e Paris cogitou-se até mesmo uma intervenção militar contra a Alemanha. O Império Alemão, no entanto, conseguiu impor a sua exigência de uma conferência internacional que discutisse o assunto.
A Alemanha queria isolar a França no cenário político e forçá-la a abandonar a Entente Cordiale. Entretanto, a conferência realizada em abril de 1906 em Algeciras, no sul da Espanha, acabou por provar o contrário: a Alemanha é que estava isolada no conflito. Em caso de uma guerra envolvendo o Marrocos, apenas o Império Austro-Húngaro estaria do lado dos alemães.
A Entente Cordiale saiu fortalecida da conferência. Entre outras resoluções, ficou estabelecido que a vigilância policial dos portos marroquinos ficaria a cargo da França e da Espanha. As relações franco-alemãs continuavam estremecidas.
Em 1911, o conflito agravou-se ainda mais com a ocupação da cidade marroquina Fès por tropas francesas. A cidade, sede da monarquia, tornou-se um foco de agitações e tumultos. A independência do Marrocos, assim como tinha sido sublinhada pela Convenção de Algeciras, mostrava ser apenas uma farsa.
O imperador Guilherme 2º comentou, após a ocupação francesa: "A miserável questão do Marrocos tem que ser encerrada rápida e definitivamente. Não há nada mais a fazer, o país vai tornar-se francês. A solução é, então, abandonar o conflito de cabeça erguida".
A barganha
No Ministério alemão do Exterior cogitou-se uma troca: Berlim abdicaria de seus interesses no Marrocos e ganharia, em troca, o Congo francês. Para dar força a essa exigência, o navio de guerra Pantera aportou em Agadir, provocando uma verdadeira crise.
A Europa encontrava-se à beira de uma guerra em função da escalada na crise do Marrocos. França e Inglaterra, parceiros na Entente Cordiale, uniam-se cada vez mais. Os dois países estavam dispostos a tudo, menos a ceder à pressão alemã.
No final do conflito, Berlim teve de se satisfazer com um mínimo de exigências. Uma parte do Congo francês, com a superfície de 263 mil quilômetros quadrados, foi transferida para o Império Alemão em 4 de novembro de 1911, com a assinatura do Acordo Marrocos-Congo.
Em troca, Berlim ainda teve de abrir mão de parte de Camarões, então sua colônia. Um fiasco para a política alemã. As relações entre a França e a Alemanha continuaram estremecidas e trouxeram principalmente uma consequência: um desenrolar contínuo da espiral da política armamentista na Europa.