1940: França e Alemanha acertam cessar-fogo na 2ª Guerra
O próprio Adolf Hitler foi quem mais se surpreendeu com o suposto maior êxito dos nazistas. Em 17 de junho de 1940, ao receber a notícia de que o novo governo da França, liderado pelo marechal Philippe Pétain, queria um cessar-fogo, ele festejou o triunfo.
A campanha militar ocidental contra França, Holanda, Bélgica e Luxemburgo durara apenas seis semanas. De largada, os nazistas atingiram uma meta que fora considerada decisiva na Primeira Guerra Mundial (1914–1918): a imobilização do poderio militar francês e a conquista da costa do Canal da Mancha. Hitler via a si mesmo como o maior comandante militar de todos os tempos.
Para completar a humilhação do inimigo, ele exigiu que o acordo de paz fosse negociado na Floresta de Compiègne, próxima a Paris, no mesmo vagão em que o general francês Ferdinand Foch ditara as condições da rendição alemã, em 10 de novembro de 1918. Soldados alemães arrombaram o museu e empurraram o vagão 24 19 D até um bosque próximo à localidade de Réthondes.
A 21 de junho, Hitler sentou-se no lugar do marechal Foch. Pétain, de 84 anos, comandante superior das tropas francesas na Primeira Guerra Mundial, foi obrigado a ocupar o lugar em que Matthias Erzberger assinara a capitulação alemã. Hitler ordenou ao general Wilhelm Keitel que lesse as exigências alemãs.
Depois de um dia e meio de negociações, às 18h55 de 22 de junho de 1940, o destino da França estava selado. Keitel, chefe da delegação alemã, e o general Charles Huntzinger assinaram o cessar-fogo que dividiu a França.
Três quintos do território francês (o norte), incluindo as principais cidades industriais e a costa atlântica, passaram diretamente ao controle da administração militar alemã. Para a Alsácia-Lorena, foi estabelecida uma administração civil. A região desocupada no sul, com a capital em Vichy, ficou para o governo francês.
Promessa de reunificação da nação francesa
Pétain, oficialmente "chefe do Estado francês", no entanto, prometeu cooperar com os nazistas. A França foi obrigada a desmobilizar suas tropas. As Forças Armadas francesas foram reduzidas a um Exército de voluntários, uma Marinha com poder limitado e uma pequena Força Aérea.
A Alemanha considerava-se invencível. Pétain prometeu aos compatriotas que reunificaria a nação francesa. Achava que, cooperando com os alemães, conseguiria proteger o país contra ataques externos.
Escritores como André Gide desconfiavam da estratégia. Em 24 de junho de 1940, após um pronunciamento de Pétain ao povo francês, ele questionou: "É possível que Pétain tenha dito isso livremente? Como se pode falar numa ‘França intacta’ depois de se entregar mais da metade do território ao inimigo? Como não concordar de coração com a declaração do general De Gaulle? Não basta que a França tenha sido derrotada? É necessário que, além disso, ela ainda seja difamada?".
O comportamento do regime de Vichy em relação aos nazistas passou da benevolência para a colaboração. O governo fantoche perseguiu militantes da Resistência, participou de atos criminosos de vingança contra a população civil, bem como da deportação de judeus. Ajudou a Gestapo a matar 20 mil franceses e a prender outros 60 mil.
Intelectuais foram extraditados
O cessar-fogo de Compiègne teve consequências terríveis também para os exilados alemães. A França comprometeu-se a extraditar para a Alemanha todos os refugiados políticos. Os imigrantes foram proibidos de deixar o país. Escritores alemães como Ernst Weiss, Carl Einstein, Walter Hasenclever e Walter Benjamin suicidaram-se no exílio francês. Lion Feuchtwanger, Heinrich Mann e Alfred Döblin conseguiram fugir, no último momento, para os Estados Unidos.
Quem também conseguiu escapar no último momento foi o general de brigada Charles de Gaulle. Como chefe do governo francês no exílio, em Londres, ele conclamou os franceses, em 18 de junho de 1940, a passarem para o lado da Inglaterra na luta contra o nazismo.
"Nada está perdido, porque esta é uma guerra mundial. Gigantescas forças do mundo livre ainda não intervieram no conflito. Um dia, essas forças irão destroçar o inimigo. É necessário que a França, nesse dia, participe da vitória. Então, ela reencontrará sua liberdade e grandeza. Esse é meu único objetivo", disse.
Um objetivo que ele conseguiu realizar: em 25 de agosto de 1944, De Gaulle invadiu Paris e libertou a França. Um ano depois, Pétain, com 89 anos de idade, foi condenado à prisão perpétua por atos de terror e colaboração. A esta altura, até mesmo o vagão do cessar-fogo de Compiègne havia sido destruído pelos nazistas.