19 de março de 1994
Os tumultos iniciados em 19 de março de 1994 na Alemanha tiveram um saldo de centenas de feridos e 500 manifestantes presos num só dia. Os bloqueios e tentativas de suicídio foram orquestrados pelo clandestino Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Segundo Abubekir Saydam, diretor da Associação Internacional pelos Direitos dos Curdos, o conflito escalou por vários motivos: "No início de 1994, foram proibidos os partidos pró-curdos na Turquia. Em março daquele ano, o Exército turco fortaleceu suas tropas nas regiões curdas, e delegações de observadores foram impedidas de entrar no país para visitarem essas regiões".
Violação do direito dos estrangeiros
Na época, a TV alemã transmitiu cenas dos ataques turcos com tanques alemães a povoados curdos no sudeste de Anatólia. Em faixas e cartazes, os adeptos do PKK pediam o fim do fornecimento de armas à Turquia. O governo Helmut Kohl, porém, reagiu com severidade às manifestações. "O terror desses grupos atingiu uma nova dimensão, tornando-se uma inaceitável violação do direito dos estrangeiros. Os culpados podem contar com penas rigorosas e até a expatriação", ameaçou Kohl.
A legislação alemã, no entanto, proíbe a expatriação de criminosos estrangeiros que estejam ameaçados de tortura e até pena de morte em seus países de origem. Em conseqüência, várias lideranças da União Democrata Cristã (CDU) passaram a defender uma lei de estrangeiros mais rigorosa. As manifestações violentas do PKK acabaram prejudicando as iniciativas de cerca de 500 mil curdos radicados na Alemanha, que buscavam uma solução pacífica para o conflito.
A proibição do PKK, em novembro de 1993, não acalmara os ânimos, tendo dificultado ainda mais o acesso das autoridades de segurança a informações sobre a estrutura da organização. O partido continuou sua luta em solo alemão, sendo responsabilizado por cerca de 300 incêndios em 1995. Em março de 1996, ocorreu outra onda de manifestações violentas em Bonn e Dortmund.
O governo do estado da Renânia do Norte-Westfália (no oeste alemão) deu um impulso à retomada do diálogo com a organização curda, autorizando eventos culturais promovidos anualmente pelo PKK. Em abril de 1997, cerca de 65 mil pessoas participaram em Düsseldorf de uma manifestação não violenta pela paz no Curdistão. A polícia evitou qualquer confronto, até mesmo quando foram levantados cartazes (proibidos) com a fotografia do líder do PKK, Abdullah Öcalan.
Curdos reivindicam Estado independente
Em 2005, cerca de 26 milhões de curdos viviam espalhados entre a Turquia (13,7 milhões), Irã (6,6), Iraque (4,4), Síria (1,3) e países do sudoeste da ex-URSS (Armênia e Azerbaijão – cerca de 300 mil). Trata-se do maior grupo étnico sem pátria do mundo. Os curdos, que reivindicam um Estado independente, são freqüentemente perseguidos por governos locais, além de enfrentarem fortes divisões internas.
A maioria dos curdos é de muçulmanos sunitas. Radicados nas montanhas e nas encostas do nordeste da Mesopotâmia desde a Antiguidade, já foram um povo nômade. Eles consideram sua sobrevivência como prova de certa integridade, tendo como lema "os curdos não têm amigos".
Após a derrota do Império Otomano na Primeira Guerra Mundial (1914-18), tentaram criar um Estado autônomo, mas franceses e britânicos dividiram seu território. Desde a Guerra do Golfo Pérsico (1991), os curdos radicados no Irã têm vivido de forma mais autônoma, porém mais tensa.