2005: ano difícil para União Européia
23 de dezembro de 2005Com a visita do presidente norte-americano George W. Bush a instituições européias e à sede da Otan em Bruxelas, em fevereiro de 2005, o ano começou promissor para as relações entre a Europa e seu parceiro norte-americano do outro lado do Atlântico.
Até o próprio presidente francês Jacques Chirac o chamou de "bom cowboy", enquanto George Bush garantia que "nenhum poder terrestre pode separar a amizade entre a Europa e os Estados Unidos, essencial para a paz e o bem-estar do mundo".
Em 2005, as relações entre a Europa e os Estados Unidos estiveram sob uma boa estrela, sendo somente abaladas pelas acusações de transporte de prisioneiros, organizado pela CIA. O que foi negado pela secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, em sua visita a Bruxelas no dia 8 de dezembro.
Entretanto, do ponto de vista interno, o ano foi bastante árduo para a UE.
Pacto relaxado, expansões, mas nenhuma constituição
Nas finanças, o ano começou com uma vitória alemã: o então ministro das Finanças, Hans Eichel, conseguiu em março o relaxamento do Pacto de Estabilidade do euro, que prescreve um déficit público não superior a 3% do PIB. Pela quinta vez consecutiva, a Alemanha não conseguira cumpri-lo, mas escapou à punição.
Em abril, Romênia e Bulgária assinaram o tratado de ingresso na União Européia em 2007, o mais tardar em 2008. Em discurso, o presidente romeno, Trajan Basescu, lembrou a conferência de Ialta, após o fim da Segunda Guerra, onde "ninguém nos perguntou o que queríamos. Agora assinamos um tratado que nos põe de volta na Europa".
Mas já em maio tinha-se a impressão de que "acabou-se o que era doce". No dia 29, os franceses disseram "não" ao projeto de Constituição européia. Chocado, o presidente francês advertiu que seu país perderia autoridade na futura UE, caso bloqueasse o desenvolvimento europeu.
Apesar do aviso, no dia 1° de junho os holandeses seguiram o exemplo da França, igualmente rejeitando a Constituição da UE.
E as dificuldades continuam
No mesmo "junho negro", o Reino Unido, a Holanda, Suécia, Finlândia e Espanha votaram contra o projeto de orçamento. Principalmente o Reino Unido foi atacado, por insistir na redução de sua contribuição financeira à União.
Em compensação, as relações com a Otan e os Estados Unidos continuaram bem. Em junho, a Otan decidiu ampliar sua força-tarefa no Afeganistão. A Otan, a ONU, os EUA e a União Européia planejam para o final de janeiro de 2006 uma segunda conferência internacional sobre o Afeganistão, após a de Bonn, em 2001.
O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, assumiu em julho a presidência do Conselho da União Européia. Apesar de muitas palavras, poucas foram as ações de Blair dentro da União, preocupado com os atentados terroristas de 7 e 21 de julho em Londres. A UE teve que esperar.
Um outro britânico, entretanto, o ministro das Relações Exteriores, Jack Straw, conseguiu em outubro que fossem abertas as negociações para a entrada da Turquia na UE, embora não sem antes enfrentar a oposição do Chipre e da Áustria. A Croácia também pôde começar negociações para o ingresso e a Macedônia recebeu o status de candidata.
Super-Merkel em ação
O encontro para a decisão do projeto de orçamento, no dia 17 de dezembro, ameaçava ser um novo fracasso. Parlamentares e membros da Comissão da UE não pouparam críticas ao presidente do Conselho da União, Tony Blair, pelas exigências impossíveis de seu país ao projeto de orçamento.
Até entrar em cena a chanceler federal alemã, Angela Merkel. O projeto de orçamento foi aprovado em menos de 20 horas de negociaçõese e a estréia de Angela Merkel na União Européia coroada de sucesso.
A premiê alemã tornou-se a estrela do encontro, ao agir como intermediária no conflito entre Tony Blair e Jacques Chirac. Blair abdicou de uma parte do chamado "cheque britânico" e o presidente francês prometeu aprovar mudanças orçamentárias estruturais.
Pela paz no mundo
Em 2005, a União Européia ampliou sua atuação em missões de paz pelo mundo e; até 2015, pretende utilizar 0,7% do seu PIB para projetos de desenvolvimento nos países do Terceiro Mundo.
A África é um importante ponto de atuação da UE na política externa, principalmente após as tentativas dos refugiados africanos de migrar para a Europa através do enclave espanhol de Ceuta, no norte africano.
E, por falar em África, o ano acaba com a triste lembrança dos protestos dos filhos de imigrantes árabes e africanos nas ruas das cidades francesas.
Para 2006, a pauta principal dos países reunidos em Bruxelas se concentrará nos planos de expansão.