A arte da Alemanha em crise após a 1ª Guerra
14 de novembro de 2017A República de Weimar (1918-1933) foi a primeira tentativa de estabelecer uma democracia na Alemanha. Ela surgiu após a Primeira Guerra Mundial e durou até a tomada de poder por Hitler em 1933. Esse período é frequentemente descrito como decadente e vanguardista: as mulheres passaram a aproveitar as liberdades conquistadas, como o direito de voto; a homossexualidade não era mais um tabu – ao menos, não na vida noturna das grandes cidades – álcool e drogas podiam ser adquiridos sem grandes problemas nos clubes de dança de Berlim.
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A imagem de Berlim oscilava entre decadente e metrópole pulsante. A ampliação dos limites da cidade e a intensa imigração transformaram Berlim na década de 1920 a terceira maior cidade do mundo. Entre os imigrantes, havia grupos totalmente variados, como mutilados de guerra, milionários, trabalhadores e artistas. Todos eles traziam experiências diversas e tornaram Berlim durante o período conhecido como República de Weimar um lugar de fortes contrastes. Enquanto damas elegantes da alta burguesia desfilavam com seus casacos de pele pelo emblemático bulevar Ku'Damm, famílias inteiras passavam fome nos apartamentos minúsculos dos bairros pobres.
Retratada pelo cineasta alemão Tom Tykwer na aclamada série televisiva Babylon Berlin, essa época também é o tema da exposição de arte Esplendor e miséria na República de Weimar no museu Schirn Kunsthalle em Frankfurt. A mostra, que pode ser vista até fevereiro de 2018, traz cerca de 200 obras de 62 artistas que eternizaram aquela época turbulenta em seus desenhos, rascunhos e pinturas.
A exposição concentra-se em ilustrar a inquietação social e política da época. Isso pode ser observado tanto nos conteúdos das obras como também na estética e nos temas adotados, que deixam evidente a influência de movimentos de vanguarda como o Dadaísmo e o Cubismo. Ingrid Pfeiffer, curadora da mostra, procurou explorar de que forma esse período marcou os princípios modernos. "Estamos acostumados a interpretar a história da República de Weimar a partir de seu final – mais exatamente da transição ao nacional-socialismo e à Segunda Guerra Mundial", comenta.
Progresso industrial e recessão econômica
Os artistas do período de Weimar, sejam literatos, dançarinos, atores ou músicos, procuravam retratar o tumulto e a turbulência de seu cotidiano – especialmente o da metrópole Berlim.O escritor Alfred Döblin é um desses exemplos, ao publicar em 1929 o romance Berlin Alexanderplatz. Por um lado, o romance enfoca o progresso industrial e testemunha até sinais de uma riqueza crescente entre as duas guerras mundias. Por outro lado, já se podia sentir a desigualdade social, decorrente da recessão econômica e que culminaria na Grande Depressão de 1929.
Apesar de todas suas tensões sociais e lutas políticas, a República de Weimar foi um terreno fértil para a arte. A berlinense Jeanne Mammen, pintora, desenhista e tradutora, havia retornado como refugiada da França a sua cidade natal ainda durante a Primeira Guerra Mundial.
Durante os anos da República de Weimar, a artista tinha seu atelier muito próximo à agitada avenida Kurfürstendamm: um espaço muito apropriado para observar a elite rica e privilegiada que ela gostava de retratar nos clubes noturnos e festas privadas.
Outro pintor célebre da época, o veterano de guerra Otto Dix, dedicou-se em suas obras à paisagem social da cidade em forma de caricaturas. Os marginalizados da sociedade, que se encontravam espalhados por toda a cidade, eram o tema principal transposto em suas telas e desenhos, ao lado de muitas prostitutas, personagens da vida noturna e mutilados de guerra.
Sociedade em transição para a modernidade
Artistas como Dix e seus contemporâneos também ilustravam a luta pela democracia. Suas obras refletiam a realidade do dia a dia de uma sociedade em transição, situada exatamente entre crises. O Novo Realismo ou a Nova Objetividade, movimento artístico do momento e que era um desdobramento do expressionismo alemão, fazia fortes críticas políticas e sociais. Os artistas traziam à tona a segregação econômica que estava intrinsecamente ligada à industrialização na Alemanha.
Através da documentação das contradições sociais, o esplendor e a miséria, a arte do período da República de Weimar amadureceu, observa a curadora da mostra. "Apesar dos desenvolvimentos políticos e sociais negativos que os artistas retratavam muito pontualmente, surgiu o que hoje chamamos de modernidade", explica.
Ainda segundo Ingrid Pfeiffer, a República de Weimar foi uma época progressiva, com muitas ideias pioneiras não somente na arte, na arquitetura e no design. (...) "Para mim, essas tendências, junto com a miséria explícita na época, marcaram o brilho da República de Weimar."
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