A fórmula da felicidade
20 de março de 2019Quando se quer medir o grau de felicidade de uma nação, o que conta não são estados eufóricos voláteis, como quando se ganha uma Copa do Mundo. O que importa é o nível de satisfação das pessoas com a vida que levam.
É exatamente isso que interessa o pesquisador da felicidade Jan Delhey, professor de sociologia na Universidade Otto von Guericke, de Magdeburg. Ele desenvolveu uma fórmula para medir a felicidade individual: ter + amar + ser = grau de felicidade.
"Ter" se refere, segundo Delhey, a coisas materiais, como renda ou riqueza. A categoria "amar" abrange todas as relações sociais, como a família ou amigos. "Ser" diz respeito ao significado que alguém vê na sua vida, a forma como planeja sua vida ativamente e qual a resposta que recebe de seu ambiente.
Juntas, as três áreas resultam no nível de satisfação pessoal. O peso de cada quesito depende, segundo Delhey, de preferências individuais, mas nenhum deles deve ficar de fora. "Um milionário que é solitário não faria uma cruz na nota 10 da escala de satisfação com a vida. E, da mesma forma, quem só tem o mínimo para sobreviver pode ter uma vida familiar ótima, mas é improvável que marque um 9 ou 10", exemplifica.
A receita da felicidade é influenciada pelas raízes culturais e o lugar onde a pessoa vive. A fórmula criada por Delhey pode ser aplicada universalmente, mas devem ser consideradas tendências locais. "Em sociedades que estão num clima de expansão econômica, como nas asiáticas, em particular na China, felicidade é quase que equiparada a ter sucesso e ganhar muito dinheiro." Já as sociedades ocidentais, comparativamente, são avaliadas pelo sociólogo como "relativamente pós-materialistas" – onde os itens "amar" e "ser" se tornaram mais importantes.
Crescimento econômico não é tudo. Isso é algo que o Reino do Butão, no Himalaia, reconheceu há tempos. Desde 2008, a "felicidade nacional bruta" consta de sua Constituição. O objetivo é alcançar uma sociedade justa, equitativa e harmoniosa. Existe também um Ministério da Felicidade. Para medir a felicidade nacional bruta, nove áreas são consideradas: padrão de vida, saúde, bem-estar mental, educação, distribuição do tempo, boa governança, sentimento comunitário, diversidade ecológica e cultural.
O país é considerado o iniciador do Dia Internacional da Felicidade, adotado em 2012 pela ONU como dia mundial. Com a data, as Nações Unidas reconhecem que a busca da felicidade é uma meta humana fundamental – e pedem a seus Estados-membros que façam com que suas políticas nacionais sejam guiadas por ela.
Delhey acha "enriquecedor" que a política atualmente considere que os dados econômicos por si só não refletem o estado de uma sociedade. "Por muito tempo, se disse que, numa sociedade rica, a vida é necessariamente boa. E exatamente os EUA, em particular, nos mostram que esse não é o caso. O país está entre os mais ricos, mas tem uma carga incrível de problemas sociais", afirma.
Os países escandinavos ocupam regularmente o topo do ranking anual no Relatório Mundial da Felicidade das Nações Unidas. Em 2018, a Alemanha ficou em 15º lugar entre 156, e o Brasil, em 28º lugar. Numa comparação europeia, a Alemanha ocupa os últimos lugares do primeiro terço do ranking.
O sociólogo Jan Delhey avalia que o fato de a Alemanha não ocupar as primeiras posições não tem a ver com o "mau humor" ou a "insatisfação" que alguns estrangeiros gostam de atribuir aos alemães. O especialista ressalta que não apenas as circunstâncias e atitudes pessoais afetam o nível de satisfação, mas também as condições sociais. E estas incluem o nível de prosperidade, a coesão social, as condições de igualdade na sociedade e a qualidade da governança pública. Em todos esses pontos, a Alemanha está bem, na avaliação de Delhey. "Mas existem algumas sociedades que têm um desempenho ainda melhor."
Na Alemanha, as pessoas estão se tornando cada vez mais satisfeitas com suas vidas, ao longo dos anos. "Curiosamente, chegamos a um ponto alto que dura anos – a despeito de todo esse debate sobre descontentamento e medos", pondera Delhey. Uma possível explicação para esse desenvolvimento aparentemente paradoxal reside nas taxas de emprego. "Estar desempregado reduz a satisfação com a vida de forma realmente drástica. E temos há anos uma taxa de desemprego em queda."
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