"A Grécia não precisa deixar o euro"
23 de junho de 2015Existe uma solução para a disputa com Atenas? Em entrevista à DW, Ferdinand Fichtner, chefe do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica, descarta que o fim dos pacotes de resgate possa afastar a Grécia da união monetária.
DW: Qual é o cenário que se apresenta caso o programa de ajuda à Grécia não seja prolongado?
Ferdinand Fichtner: O maior perigo são cortes substanciais em salários, especialmente em cargos públicos, e nas pensões. Apenas desta forma algum dinheiro pode entrar nos cofres do Estado grego em curto prazo, porque a arrecadação está longe de ser suficiente para cobrir as despesas em curso. Por isso, eu esperaria uma redução nos benefícios de aposentadoria. Possivelmente outras despesas também devem ser interrompidas, como projetos de infraestrutura, por exemplo. Essa seria uma reação imediata e obrigatória se o governo Grego não conseguir mais financiamento dos pacotes de resgate.
Isso já soa bastante dramático. Como você explica o comportamento relativamente tranquilo do Governo grego diante destas circunstâncias?
Eu não tenho tanta certeza de que o governo grego está realmente tranquilo. É claro que eles tentam passar essa impressão, e eles têm que fazer isso mesmo, porque uma "corrida desenfreada aos bancos" tem um elemento psicológico muito forte. Parece que a população grega ainda tem alguma confiança no futuro do país, no euro, e, consequentemente, no futuro do sistema bancário. O grande pânico, até o momento, não se concretizou. Nós observamos de fato que os gregos retiram mais e mais dinheiro de suas contas, mas não é um fluxo grande de capital. Ou seja, não há nenhuma "corrida desenfreada aos bancos". Mas é claro que, uma vez que aumenta o nervosismo, porque o governo sinaliza que a situação vai ficar mais apertada, isto pode mudar rapidamente. A segunda razão para o governo grego mostrar sangue frio é que essa é, possivelmente, uma estratégia muito inteligente nas negociações com Bruxelas. Quando as pessoas veem que Tsipras e seu pessoal ainda estão tranquilos, significa que o país pode não estar tão arruinado. Embora eu sinceramente não esteja certo de que Merkel, Schäuble e os outros à mesa em Bruxelas vão verdadeiramente se deixar impressionar por isso.
Os gregos continuam blefando porque sabem que a União Europeia (UE) vai ajudá-los?
Eu posso imaginar que o governo grego está apostando que a UE, o Banco Central Europeu e as outras instituições realmente vão fazer tudo o que puderem para resgatar a Grécia. E resgatar significa manter o país na zona do euro. Em última análise, os riscos de uma saída do euro não são altos somente para a Grécia, mas também para todos os países da moeda comum.
Se não houver acordo e nenhum novo auxílio, isso significaria a saída da Grécia da zona do euro?
Não há uma relação obrigatória. Primeiro, mesmo que o programa de resgate não seja prorrogado, a Grécia pode permanecer na união monetária. Pode-se conseguir dinheiro de outra forma. Mas a probabilidade de a Grécia ter que sair da união monetária se os empréstimos não forem estendidos é relativamente grande, simplesmente porque o controle do fluxo de capital, que certamente ocorrerá, é incompatível com a moeda única. Desta forma, não restará opção verdadeira para continuar no euro. Mas, a princípio, não há qualquer correlação necessária entre o fim do resgate financeiro e uma saída do país da zona do euro.
Por que o governo grego não busca legalmente recuperar o dinheiro guardado no exterior pelos gregos ricos?
A princípio isso é concebível. Na Alemanha, depois da Segunda Guerra Mundial, passou a existir o imposto sobre o capital, onde ficou decidido que uma parte dos ativos tinha de ser paga ao Estado. Era preciso pagar praticamente um imposto único sobre a fortuna, algo que pode ser pensado no caso grego. Aparentemente, porém, parece que mesmo o governo de esquerda grego se afasta dessa ideia. Eu imagino que exista a preocupação de que a fuga de capitais, que já está acontecendo, fique mais acelerada. Porque os ricos basicamente estão tentando retirar ainda mais dinheiro do país.