A hora da escolha
10 de abril de 2003A Alemanha já sediou duas olimpíadas. Em 1936, Hitler recebeu o mundo em Berlim e teve de ver sua tese da superioridade ariana humilhada por atletas negros. Munique, por sua vez, foi o palco do maior evento esportivo do mundo em 1972, mas a grande festa saiu chamuscada por uma ação terrorista contra atletas israelenses.
Logo após a reunificação do país, Berlim tentou em 1993 aproveitar-se do momento histórico para ser palco dos Jogos Olímpicos de 2000. A candidatura naufragou na concorrência internacional diante da resistência dos próprios habitantes da capital e dos atropelos dos organizadores do projeto.
Apoio popular
O espírito olímpico continua entusiasmando os alemães. Não só os idealizadores das pré-candidaturas, mas também os cidadãos. É grande o apoio popular à iniciativa, assim como o otimismo. Em janeiro, uma pesquisa do instituto Forsa apontara que 60% dos alemães acreditavam que suas cidades pré-candidatas têm condições de derrotar concorrentes como Paris e Nova York na disputa internacional.
Quem partirá para esta briga, será conhecido no próximo sábado, quando a assembléia geral do Comitê Olímpico Nacional (NOK) reúne-se em Munique para escolher entre Düsseldorf, Frankfurt, Hamburgo, Leipzig e Stuttgart. Outras cinco cidades disputam a indicação para sediar as provas de vela: Cuxhaven, Kiel, Lübeck, Rostock e Stralsund.
Favoritismo
Hamburgo é apontada como a grande favorita, especialmente depois da divulgação do relatório da Comissão de Avaliação do NOK, que visitou todos os lugares e analisou os projetos. Uma disputa como esta, entretanto, não se decide apenas por critérios técnicos. Dentro da política esportiva, Düsseldorf é forte, uma vez que muitas das entidades com direito a voto na assembléia do NOK estão instaladas na região do Ruhr.
Por outro lado, Leipzig desponta junto à opinião pública. Pesquisa do Forsa de janeiro indicava que 75% da população do leste do país deseja que a única cidade pré-candidata da antiga Alemanha comunista seja a escolhida, enquanto os alemães-ocidentais se dividiram entre as outras quatro opções. Entre estes, Hamburgo lidera, com 23%. No entanto, até mesmo na parte oeste, Leipzig aparece cotada como a segunda melhor opção, dando-lhe a preferência nacional com 30%.
Prós e contras de cada pré-candidata
Düsseldorf
– A capital da Renânia do Norte-Vestfália representa o desejo de diversas cidades dos vales do Ruhr e do Reno, que igualmente haviam expressado o interesse em se candidatar. A seu favor tem o papel de destaque que a região – com 11 milhões de habitantes – tem no cenário esportivo alemão. Uma das desvantagens é, que para tornar-se pré-candidata, Düsseldorf distribuiu as competições por várias cidades, como Dortmund, Halle, Colônia e até mesmo Aachen, a 80 quilômetros de distância. Os organizadores prometem que 70% das competições serão em locais a no máximo 30 minutos do centro de Düsseldorf, mas especialistas duvidam que isto seja possível. Outro aspecto negativo é a resistência dos moradores do bairro onde está prevista a construção da Vila Olímpica.Frankfurt
– O centro financeiro da Alemanha tem boa projeção internacional, inclusive por possuir o mais movimentado dos aeroportos do país. A cidade, entretanto, é considerada zebra na concorrência nacional. Não possui experiência em grandes eventos esportivos e a infra-estrutura neste setor é precária. Se por um lado os organizadores conseguiram cadastrar já mais de 17 mil voluntários, o poderoso lobby de moradores contrários à ampliação do aeroporto representa um pedra no sapato. Berlim já viveu esta experiência em 1993. Além do mais, o governo estadual demorou a dar garantias financeiras ao empreendimento, deixando claro não ser um entusiasta da pré-candidatura.Hamburgo
– Se Frankfurt é a porta da Alemanha por via aérea, a cidade portuária do norte alemão é a porta marítima. O retrospecto histórico de que as sedes de olimpíadas costumam ser metrópoles com mais de 1 milhão de habitantes favorece Hamburgo, a única das cinco pré-candidatas que sozinha atende este pré-requisito inoficial. Com seu projeto de reurbanizar um velho cais de contêineres com as instalações olímpicas – a exemplo de Sydney –, a cidade prevê a promoção de 90% das competições num raio de 10 quilômetros, um dos principais pontos elogiados pela Comissão de Avaliação do NOK. Além disto, para aumentar a capacidade hoteleira não serão necessárias muitas obras. O projeto prevê o ancoramento de 18 navios de cruzeiro no rio Elba.Leipzig
– A pré-candidatura da queridinha da opinião pública alemã carrega significados além dos esportivos. Sua vitória poderá estimular o sentimento de reunificação da Alemanha e resgate do ainda discriminado leste, assim como acelerar os investimentos em infra-estrutura e impulsionar a economia local. Leipzig também tem a ser favor o apoio de 92,4% de sua população e sua tradição esportiva. Além de possuir uma renomada universidade de educação física, a coleção de medalhas olímpicas da região soma mais de 500 unidades. Enquanto alguns vêem desvantagem no fato de Leipzig não ter mais de 500 mil habitantes, os organizadores da pré-candidatura vêem este aspecto como uma vantagem: há mais áreas livres para as instalações olímpicas. A cidade, entretanto, não goza de projeção internacional, o que pode dificultar a disputa com Nova York e Paris, por exemplo.Stuttgart
– A elogiadíssima organização e o entusiasmo de sua população no Campeonato Europeu de Atletismo de 1986 e no Mundial de 1993 são boas referências para a capital de Baden-Württemberg. Outro pró é a realização de 84% das competições num raio de 12 quilômetros. Por abrigar grandes empresas (DaimlerChrysler, Porsche e Bosch, por exemplo), financiar o empreendimento não deve ser problema. Mas embora o Estado seja o principal exportador da Alemanha, há quem ache difícil a candidatura de Stuttgart entusiasmar o colégio eleitoral do Comitê Olímpico Internacional (COI), responsável pela escolha final da sede de 2012.