A importância da eleição no estado mais populoso da Alemanha
12 de maio de 2017Com quase 18 milhões de habitantes, o estado da Renânia do Norte-Vestfália, no oeste da Alemanha, é o mais populoso do país. Por isso, a eleição estadual deste domingo (14/05), a última da série de pleitos legislativos deste ano na Alemanha, serve de indicador para a eleição em nível federal marcada para setembro e que vai definir se a chanceler federal Angela Merkel continuará na chefia de governo.
A diversidade econômica, social e cultural do estado o tornam uma versão menor da Alemanha. O que acontece na Renânia do Norte-Vestfália costuma ter reflexos no governo federal, em Berlim. Não é à toa que existe um ditado: "Quando a Renânia do Norte-Vestfália espirra, Berlim pega uma gripe".
A Renânia do Norte-Vestfália é um reduto do Partido Social-Democrata (SPD). Em 50 anos houve apenas um governador da União Democrata Cristã (CDU). O estado criado pela ocupação britânica no pós-Guerra é constituído pelo norte da região alemã banhada pelo Reno e pela Vestfália, tem Düsseldorf como capital e faz fronteira com a Bélgica e a Holanda. Atualmente é governado por uma coalizão entre social-democratas e verdes, tendo como governadora Hannelore Kraft, do SPD.
O estado não tem só uma grande relevância na política, mas também na economia. Ele responde por 20% do eleitorado alemão. Para qualquer partido, é difícil atingir maioria em Berlim sem o apoio dos parlamentares do oeste.
No estado fica a tradicional região mineradora do Ruhr, cuja última mina de carvão fechará em 2018. Mesmo que a indústria pesada tenha perdido relevância, empresas importantes, como ThyssenKrupp, Bayer, RWE, Lufthansa, Henkel, Eon, Telekom e Deutsche Post têm suas sedes no estado.
Um gigante em crise
Apesar disso, o estado enfrenta problemas. O desemprego (média de 7,7% em 2016) caiu, mas em nível nacional a cota da Renânia do Norte-Vestfália é a maior, com 27%. Em 2010, eram 24%. Também o número de pessoas consideradas pobres está crescendo.
Na área da educação, o governo em Düsseldorf é acusado de investir menos por aluno em escola do que os demais estados. E também o índice de criminalidade é alto. A cota de elucidação dos casos é de 55%. Só para comparar, na Baviera chega a quase 66%. A dívida pública é tão alta que já se fala em "condições gregas".
Outro superlativo da Renânia do Norte-Vestfália é o recorde de engarrafamentos. Em nenhum outro estado alemão os motoristas perdem tanto tempo no trânsito. Embora os problemas não tenham sido todos criados pela governadora Kraft, eles são temas bem-vindos para a campanha da CDU.
Os dois grandes concorrentes
Hannelore Kraft é natural da região do Ruhr e sabe lidar com as pessoas, o que é o seu maior trunfo. Ela fala com estranhos como se já os conhecesse há muito tempo. Ela tem carisma, mas, há sete anos no cargo, já começou a mostrar sinais de desgaste.
A grande vantagem do SPD neste domingo deve ser a fraqueza da CDU. Não é por acaso que há uma piada com o sobrenome de Armin Laschet, o principal concorrente da governadora. "Lasch", em alemão, significa insosso.
A campanha eleitoral não teve novidades, ambos os candidatos evitaram confrontos e, mais uma vez, os principais temas foram reivindicações por mais mais professores e policiais. Nas pesquisas de intenção de voto, Kraft sempre esteve à frente, ainda que diferença tenha caído nas últimas semanas e esteja em apenas um ponto percentual (32% para o SPD e 31% para a CDU).
CDU e SPD parecem se beneficiar dos grandes temas atuais. Seja o Brexit, o populismo de direita ou Donald Trump: os dois grandes partidos de centro vivem um bom momento pois são considerados garantias de estabilidade.
Papel-chave do partidos menores
Enquanto o Partido Verde sofreu uma queda de popularidade, o Partido Liberal Democrata está ressurgindo. E isso graças ao seu líder, Christian Lindner, de 39 anos. As pesquisas preveem um resultado de mais de 10% dos votos neste domingo. Um bom ponto de partida para a eleição de setembro.
À parte a rivalidade entre SPD e CDU, a crise dos verdes e o ressurgimento dos liberais, as atenções estão voltadas para a força do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão). Segundo os prognósticos, o partido deverá conseguir mais de 5% dos votos, mas provavelmente não passará dos 10%, como se previa no auge da crise dos refugiados.
Quem coligaria com quem?
A Renânia do Norte-Vestfália não foi pioneira numa coalizão entre SPD e verdes, mas colaborou decisivamente para a formação dessa coalizão em nível federal em 1998, quando Gerhard Schröder se tornou chefe de governo, tendo ao seu lado o verde Joschka Fischer. Nesse sentido, o futuro governo da Renânia do Norte-Vestfália pode ser um indicador do que acontecerá em Berlim após a eleição parlamentar de setembro.
Uma aliança entre CDU e verdes, cogitada há tempos, é improvável. E certamente os verdes não aceitariam uma coalizão com a CDU e os liberais. A maior probabilidade é que se forme a chamada "grande coalizão", entre SPD e CDU, no estado, o que não enviaria nenhum sinal para a eleição federal de setembro, pois Merkel já governa com o apoio do SPD.