A importância do sobrenome na Alemanha
26 de outubro de 2018"Vou te mandar um e-mail ainda nesta sexta-feira. Hoje, meu sobrenome ainda é Höfer, mas na segunda-feira será Günther. Vou me casar!", me explicou a contadora durante a minha declaração de imposto de renda deste ano. "Por isso, não estranhe a diferença no meu sobrenome a partir da semana que vem", explicou.
Na Alemanha, sobrenome é algo importante nas relações interpessoais. Ao marcar uma consulta médica por telefone, preciso me apresentar pelo meu sobrenome. "Olá, aqui é Gomes", devo dizer. Se eu disser que é a Karina, podem pensar que esse é o meu sobrenome. Em ambientes profissionais, também é comum ser tratado pelo sobrenome. A exceção é entre colegas que convivem diariamente e se chamam pelo primeiro nome.
Por aqui, você não vai encontrar alguém chamado Thomas Schmitz Becker Müller Meier. Um cidadão alemão que nasce ou se casa na Alemanha deve ter apenas um sobrenome. Se houver dois sobrenomes, eles precisam ser combinados com um hífen.
Se o Herr Schmitz se casar com a Frau Müller, a lei alemã permite que o casal mantenha seus sobrenomes originais. Caso o casal queira alterar, apenas um dos dois poderá combinar o próprio sobrenome com o do parceiro, separando-os com um hífen. A Frau Müller poderá passar a ser chamada de Frau Müller-Schmitz ou Frau Schmitz-Müller.
Outra possibilidade seria excluir o próprio sobrenome e passar a ser chamada de Frau Schmitz. Outra opção é que o marido abdique do próprio sobrenome e passe a se chamar Herr Müller.
A possibilidade mais tradicional na Alemanha é a mulher adquirir o sobrenome do marido e abdicar do próprio, mas muitos casais hoje em dia vêm optando por outras das variações.
Minha sogra, holandesa da região da Frísia, não quis seguir a regra e decidiu manter o nome de família: Van der Lei. Entretanto, na hora de dar nome aos filhos, o casal teve que escolher entre o sobrenome do pai ou o da mãe. Todos os três filhos têm o sobrenome único do pai: Junge. O sobrenome Van der Lei não foi transmitido para as próximas gerações.
Num casamento, valem as leis notariais dos países de origem dos dois parceiros. Como brasileira, eu posso escolher adotar a lei do Brasil e me chamar Karina Gomes da Silva Junge sem ter que usar o hífen. Mas como o Gomes veio da minha mãe e o Silva do meu pai e com o Junge meu nome ficará muito longo, prefiro ficar apenas com os dois originais.
Na coluna Alemanices, publicada às sextas-feiras, Karina Gomes escreve crônicas sobre os hábitos alemães, com os quais ainda tenta se acostumar. A repórter da DW Brasil e DW África tem prêmios jornalísticos na área de sustentabilidade e é mestre em Direitos Humanos.
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