A importância da comunicação intercultural
20 de setembro de 2005Vamos supor que um funcionário de uma firma alemã mude-se para o Brasil. No seu primeiro dia de trabalho, ele terá que resolver um problema na firma e resolve fazê-lo de forma escrita. Dias depois, ele se admira que a questão ainda não tenha sido resolvida e resolve ir pessoalmente ao departamento responsável, que prontamente lhe apresenta solução do caso.
Saber que, para se comunicar no Brasil, a presença pessoal é mais importante que um documento escrito e que, na Alemanha, ocorre o oposto, é um exemplo de facilitação da comunicação intercultural, cada vez mais valorizada por empresas e instituições alemãs.
Com a consciência de que a era da colonização já acabou e que não se pode adaptar a cultura local ao visitante e sim o visitante à cultura local, as empresas contratam, cada vez mais, os serviços de especialistas, os chamados facilitadores da comunicação intercultural.
As dimensões culturais
A professora Cristina Ramalho abriu em 1998 seu escritório de treinamento intercultural em Colônia. Em sociedade com Ricarda Gregori, especialista em desenvolvimento organizacional, ela presta serviços para firmas como Bosch, Basf, DaimlerChrysler, Behr, e também treina oficiais do Exército alemão que vão trabalhar no Brasil.
Cristina explica que parte do treinamento se baseia nas chamadas dimensões culturais, ou seja, um esqueleto de situações que se repetem em todas as culturas:
Comunicação: Enquanto na Alemanha teríamos um exemplo de país com comunicação direta, no Brasil ela é indireta, ou seja, nem sempre um "sim" é "sim" e um "não" é "não".
Hierarquia: Na Alemanha, o chefe e o empregado se tratam por "o senhor"; no Brasil, o patrão trata o seu motorista por "você", mas não admitiria ser chamado assim por seu empregado.
Lidando com o tempo: O tempo do brasileiro é policrônico, ou seja, ele consegue desenvolver várias tarefas ao mesmo tempo. O do alemão é monocrônico, quer dizer, ele se incomoda ao ser interrompido enquanto está escrevendo uma carta.
Relação grupo x indivíduo: Enquanto o brasileiro é capaz de conviver com um conflito para não prejudicar o espírito de grupo, para o alemão é muito importante enfrentá-lo, mesmo que isso seja negativo para o clima de trabalho.
Relação pessoa x objeto: O brasileiro entenderia uma crítica direta ao seu trabalho como ofensa pessoal. Para o alemão, o objeto do trabalho seria mais importante que a sensibilidade do colega.
Lidando com regras: Enquanto um punk é capaz de esperar o sinal abrir na Alemanha, o brasileiro sempre tende a relativizar as regras, atravessando o sinal vermelho (segurança).
Lua-de-mel e inferno astral
O treinamento intercultural pretende motivar a comunicação sobretudo através do reconhecimento das semelhanças entre as diversas culturas. Assim, o funcionário alemão descobre que seu colega brasileiro é apaixonado pelo Bayern de Munique e, a partir daí, nasce uma empatia.
Cristina explica que após uma fase de lua-de-mel seguida de inferno astral, em geral o estrangeiro precisa de seis meses para atingir uma estabilidade no novo país. Esta estabilidade objetivada seria "eu moro aqui, convivo bem com a nova cultura e não tenho conflitos com a minha personalidade". O treinamento ajudaria o aluno a desenvolver, conforme a sua personalidade, a sua posição no novo país.
Segundo a professora, o mercado de treinamento intercultural para o Brasil ainda é restrito, existindo preferência, por parte do empresariado, por países como a China e Índia, devido sua emergente economia.
Entretanto, o Brasil é um mercado que só tende a crescer, porque continua a ser um país historicamente próximo dos alemães, devido à colonização e à presença de inúmeras empresas instaladas no sul do país, entre outros. Além do fato de oferecer alternativas de investimento e servir de contraponto ao peso dado aos países asiáticos.