A perigosa aliança entre radicais de direita e hooligans
30 de outubro de 2014A violência se anunciou desde cedo: cerca de 4.500 homens, muitos de cabeça raspada, estavam reunidos no domingo (26/10) na praça Breslauer Platz, nas proximidades da estação central de Colônia. Em grupos, entoavam: "Fora, estrangeiros!"
Quando os grupos se juntaram e iniciaram uma marcha, as vozes se uniram em coro. Seu texto se resumia a uma única palavra de ordem: "Não queremos nenhum porco salafista!"
Após umas poucas centenas de metros, eles se defrontaram com os policiais. A manifestação chamada "Hooligans contra salafistas" terminou com 44 agentes feridos e 17 extremistas presos.
Busca de novas bases
A passeata foi registrada junto aos órgãos de segurança por Dominik Roeseler, um dos vice-presidentes do partido de extrema direita Pro NRW no estado da Renânia do Norte-Vestfália.
Em seu site, o partido diz se distanciar de confusões. Mas, segundo a especialista Claudia Luzar, o Pro NRW quis se aproveitar do mal-estar de muitos alemães diante dos salafistas e persegue interesses concretos aliando-se aos hooligans.
"O Pro NRW está debilitado. Em toda a Alemanha, o movimento 'Pro' está sendo suplantado pela Alternativa para a Alemanha (AfD). Eles estão pescando novos afiliados", afirma.
Há tempos o grupo descobriu para si o potencial do tema "radicalismo islâmico", e aparentemente também incentivou outros extremistas de direita a se destacarem desse modo.
"No Ocidente, precisamos abordar ainda muito mais intensamente o tema 'islamização'", exortava em 2010 um artigo no Deutsche Stimme, órgão do ultradireitista NPD (sigla do Partido Nacional Democrático da Alemanha). "Do ponto de vista estratégico, o Pro NRW já é um exemplo positivo."
A frase é citada pelo órgão de defesa da Constituição da Renânia do Norte-Vestfália em seu mais recente relatório anual.
Prazer da violência
Não é novidade radicais de direita e hooligans predispostos à violência se associarem, como agora em Colônia. Tais alianças existem há anos, e ambos os grupos têm muito em comum: "Há o prazer da violência, o prazer da destruição e o dissolver-se na massa", afirma Claudia Luzar.
Os números da ZIS, a central de informações da polícia alemã para mobilizações relacionadas a eventos esportivos, também são representativos. Raramente esses dois grupos se encontram através da política, pois é pequena demais a percentagem de hooligans ultradireitistas nos estádios.
Segundo a ZIS, na temporada 2012-2013 a taxa de torcedores extremistas na primeira e segunda divisões da Bundesliga era de 4,1%. Há apenas 90 agressores identificados no esporte que estão relacionados aos meios radicais de direita. O relatório conclui que a associação entre os dois grupos se deve especialmente à vontade de praticar violência.
No evento em Colônia, só na fachada havia algum tipo de confrontação séria com a temática salafista. "Há um ódio contra todos os muçulmanos. A questão era bradar 'fora, estrangeiros', vociferar contra os muçulmanos aqui na Alemanha. Não havia nenhum sinal de um movimento antissalafista", diz Luzar.
Hooligans procuram aceitação
Mas parte dos torcedores violentos também procura utilizar a ligação com os partidos ultradireitistas em interesse próprio, explica o sociólogo esportivo Gunter Pilz em entrevista à emissora alemã de televisão ZDF. Eles sabiam que amplas camadas da população rechaçavam os salafistas.
"Por esse motivo, os hooligans esperam receber ressonância positiva do centro da sociedade, ao se posicionar agora contra os salafistas. Com isso, querem se tornar um pouco mais socialmente aceitáveis", afirma.
Originalmente, extremistas e hooligans esperavam tirar vantagens da aliança. Os partidos radicais de direita, cujos números nas eleições federais, estaduais e municipais minguam continuamente, queriam alcançar projeção pública e talvez alguns novos eleitores. Os hooligans, por sua vez, tinham esperança de legitimar politicamente o próprio gosto pela violência.