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A verdade dos protestos e greves trabalhistas

(ca)13 de março de 2006

Enquanto o serviço público alemão entra na sexta semana de greve e estudantes franceses vão às ruas e ocupam universidades, políticos afirmam que os cofres estão vazios. Quem tem razão?

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Lixo nas ruas é uma das verdades da greveFoto: picture-alliance/dpa

Lixo nas ruas, creches fechadas e operações médicas canceladas continuarão fazendo parte do dia-a-dia dos alemães após o fracasso das negociações entre representantes dos governos estaduais e das organizações sindicais, neste sábado (11/03) em Berlim.

Enquanto isso, na vizinha França, a polícia invadia a Sorbonne, confrontando-se com estudantes que ocupavam o prédio da Universidade desde quarta-feira última, apoiados por passeatas em todo o país.

Embora com atores e locações diferentes, as greves dos servidores alemães e os protestos dos estudantes franceses têm um ponto comum: as reformas no mercado de trabalho que os governantes de seus países querem implementar.

Quem trabalha mais?

Streik im öffentlichen Dienst
Greve de servidores públicos entra na sua sexta semanaFoto: picture-alliance/dpa

O ponto central da greve que já se alastrou em onze Estados alemães é a exigência por parte dos empregadores do aumento da jornada de trabalho de 38,5 para 40 horas semanais, sem compensação salarial.

A greve entra agora na sua sexta semana e, segundo a Confederação dos Sindicatos Alemães (DGB), trata-se da mais longa greve do serviço público em 80 anos e da maior greve desde 1992.

Para tentar resolver a questão, representantes da União Tarifária dos Estados (TdL) e do Sindicato dos Trabalhadores do Setor de Serviços (Ver.di) encontraram-se neste último final de semana, em Berlim.

As negociações fracassaram. Os sindicatos não aceitaram a proposta governamental, oferecendo uma contraproposta de aumento de 14 minutos semanais de sua jornada de trabalho, recusada pelo governo.

Afrouxar melhora?

BDT Polizei greift in Studentenprotest vor der Sorbonne ein
Policiais dissolvem protesto estudantil na Sorbonne, na última sexta-feira (10/03)Foto: picture-alliance/dpa

O protesto dos estudantes franceses, por sua vez, tem origem nas reformas do mercado de trabalho que seu primeiro-ministro, Dominique de Villepin, quer implementar.

Com a introdução do Contrato do Primeiro Emprego (CPE), empresas poderão contratar jovens abaixo dos 26 anos por um período de até dois anos, sem a necessidade de empregá-los de forma definitiva.

Segundo o jornal francês conservador Figaro, as reformas são imprescindíveis para a mobilidade do mercado de trabalho francês e poderão criar até 70 mil novos empregos para jovens, cuja rescisão contratual, nos primeiros dois anos, não implicaria indenização.

Diferentes pontos de vista

Öffentlicher Dienst streikt weiter
Frank Bsirske, chefe do Ver.di, anuncia a continuação da greveFoto: AP

Na Alemanha, o governo afirma que os cofres estão vazios e que o prolongamento da jornada de trabalho é necessária, argumentando que, em alguns setores do funcionalismo público, a jornada de 42 horas semanais já é realidade.

Os sindicatos dos trabalhadores alemães afirmam, por sua vez, que este aumento virá em detrimento de novos postos de trabalho.

Já na França, o primeiro-ministro Villepin reiterou, em entrevista à emissora TF1, a intenção de implementar as reformas em seu país, salientando as garantias sociais que nelas também estão envolvidas e as vagas de trabalho a serem criadas.

Enquanto jornais conservadores como o Figaro francês e o ABC espanhol apóiam veementemente a proposta do premiê francês, críticos às reformas francesas vêem na proposta governamental somente vantagens para as empresas, que a partir de agora poderão demitir mais facilmente empregados jovens.

Pontos em comum: verdades ou mentiras?

Bundeskanzlerin Angela Merkel in Berlin
Para Merkel, a coalizão já desenvolveu confiança mútua internaFoto: AP

Parece que atrás das greves e atrás dos protestos estudantis encontra-se também uma batalha ideológica, como se existisse uma verdade de esquerda e uma de direita.

Apesar de a chanceler federal Angela Merkel ter declarado em entrevista ao jornal Die Welt, no último domingo (12/03), que a coalizão entre social-democratas e conservadores tenha desenvolvido uma confiança interna mútua, não foi isso o que se constatou nas negociações em Berlim.

Hartmut Möllring (CDU), chefe da delegação dos negociadores do governo e secretário de Finanças da Baixa Saxônia, e seu vice, Ralf Stegner (SPD), secretário do Interior de Schleswig-Holstein, trocaram duras acusações após o fracasso das negociações em Berlim.

"Quanta verdade suporta a democracia?" foi justamente o tema ao qual o filósofo alemão Peter Sloterdijk dedicou seu programa Quarteto Filosófico da madrugada de segunda-feira (13/03), na emissora ZDF.

Tematizada foi principalmente a surdez da população para temas como cofres vazios e inadimplência estatal, o que talvez explicaria a sua apatia perante as recentes greves.