A vida de Humboldt antes da expedição latino-americana
11 de setembro de 2019Se alguém pudesse ter previsto como Alexander von Humboldt se tornaria famoso, certamente teria sido mais cuidadoso ao registrar seu nascimento. Embora seja certo que ele nasceu em 14 de setembro de 1769, durante o reinado de Frederico, o Grande, não está claro onde foi, se na casa de seus pais em Berlim ou na propriedade deles perto de Tegel.
Já o batismo, em outubro, foi um grande evento social, oficializado pelo capelão real. Na lista de padrinhos de Friedrich Wilhelm Heinrich Alexander von Humboldt estavam o príncipe Henrique, irmão de Frederico, o Grande; Frederico Guilherme, futuro rei da Prússia; nobres; militares de alto escalão e ministros da corte prussiana.
Quando Humboldt nasceu, a Prússia era apenas um dos muitos estados do Império Alemão, que perdurou até 1806. Sua capital, Berlim, era uma cidade provinciana. Dos 132 mil habitantes, 20% eram militares ou tinham algum tipo de relação com eles.
O pai de Humboldt, Alexander Georg, foi major do Exército com atuação destacada na Guerra da Sucessão Austríaca e na Guerra dos Sete Anos, antes de receber o título de camareiro da princesa da coroa. Dois anos mais tarde, em 1766, com a idade de 46 anos, casou-se com Marie Elisabeth Colomb, que já era viúva, embora tivesse apenas 25 anos de idade.
Encontro com Goethe
As relações sociais e sua posição como responsável pelos alimentos e equipamentos de seu regimento podem ter sido um bom alicerce financeiro pra a família, mas foi Marie Elisabeth que trouxe a riqueza. Seu dote incluía uma grande casa em Berlim, uma propriedade rural e o aluguel do palácio de Tegel. Ela trouxe também um filho, Heinrich, de seu primeiro casamento com o barão Friedrich Ernst von Holwede.
O casal logo teve dois filhos: Wilhelm e, dois anos depois, Alexander. No ano em que Alexander nasceu, seu pai desistiu do emprego e foi morar no campo, em Tegel. Muito carismático, ele continuou se ocupando da família real e recebeu até mesmo o poeta e dramaturgo alemão Johann Wolfgang von Goethe em sua única viagem a Berlim. Mais tarde, Goethe mencionaria Tegel em sua obra "Fausto".
A mãe de Alexandre, porém, geralmente é retratada como uma pessoa distante e fria. Ela já tinha perdido o primeiro marido e uma filha jovem. Agora, estava ocupada com os filhos em crescimento, a administração das propriedades e lutava para ser levada a sério no mundo masculino. Após Heinrich seguir a carreira militar, ela planejou trajetórias brilhantes para Wilhelm e Alexander no serviço público prussiano, recrutou tutores iluministas e transformou os dois prodígios em gênios.
Marie Elisabeth contratou o então desconhecido Gottlob Johann Christian Kunth, de 20 anos. No início, Kunth foi apenas mais um de uma série de professores particulares. Ele estava começando seu trabalho quando o pai de Alexander morreu. Para o jovem, um golpe devastador.
Kunth tornou-se a partir daí parte integrante da família e ajudou a mãe, viúva pela segunda vez, a administrar as propriedades. Além de ensinar aos meninos os conceitos básicos de alemão, francês e história, ele supervisionou outros professores e organizou palestras particulares com especialistas em matemática, filosofia, grego e latim.
Muitos cursos, nenhum diploma
Wilhelm era estudioso, ao contrário de Alexander, que mais tarde escreveria: "Até os 16 anos, mostrei pouca inclinação para atividades científicas. Eu era inquieto e desejava ser soldado".
Kunth, no entanto, o incentivou e providenciou para que os meninos fossem convidados para os poucos salões intelectuais que Berlim tinha a oferecer. Naquela época, a população judaica da cidade era restrita em muitos aspectos, mas alguns ofereciam suas casas como locais de encontro e eram parte importante da cena intelectual de Berlim. Henriette Herz e Rahel Varnhagen reuniam artistas, escritores, pensadores e seus amigos. Alexander floresceu nestes ambientes únicos, praticou danças e até aprendeu um pouco de hebraico.
Os irmãos Humboldt nunca frequentaram a escola regular, mas os 10 anos de atenção de Kunth foram muito proveitosos. Ainda havia muito a aprender e, como Berlim não tinha universidade na época, Alexander foi para a Universidade de Frankfurt do Oder, onde ficou só por seis meses. Depois disso, ele passou um ano em Berlim estudando física, tecnologia, matemática, grego, desenho e botânica com professores particulares.
Na primavera de 1789, mudou-se para a Universidade de Göttingen para estudar ciências naturais. Foi lá que o seu destino foi selado quando conheceu Georg Forster, um naturalista que participou da segunda viagem de James Cook pelo mundo e escreveu sobre as suas experiências. Para Humboldt, foi o aventureiro ideal e tornou-se um verdadeiro mentor.
A amizade floresceu e, juntos, viajaram pela Alemanha, Holanda, Inglaterra e França. Forster apresentou Humboldt aos seus amigos e conhecidos científicos. A expedição mudaria sua vida e Humboldt encontraria seu objetivo de vida: a ciência. Em 1790, com 21 anos de idade, ele publicou seu primeiro livro. A obra de 126 páginas com observações mineralógicas sobre basaltos do rio Reno foi dedicada a Forster.
Embora Alexander não tenha nenhum diploma universitário, ele alimentou seu enorme talento natural em várias instituições. Depois de uma curta passagem por uma escola de comércio e economia em Hamburgo, ele estudou na famosa academia de mineração de Freiberg, na Saxônia, onde concluiu o curso em somente oito meses.
Emprego na mineração
Assim, ele obteve o primeiro emprego, como inspetor de minas. Rapidamente foi promovido a superintendente. Na época, as minas de prata, ouro, ferro, vitríolo e sal eram uma importante fonte de renda. Para o rei, eram especialmente atraentes, pois só ele controlava os direitos de mineração.
De 1792 até 1797, ele viajou muito, visitando e inspecionando minas, fazendo relatórios, coletando minerais. Ao mesmo tempo, fez experimentos, começou uma escola para mineiros e escreveu um livro didático. Tudo isso por um salário anual de cerca de 400 táleres prussianos.
Com a morte da mãe, em 18 de novembro de 1796, os irmãos Humboldt herdaram 90 mil táleres em propriedades, dinheiro e investimentos. Só em juros ganhavam cerca de 3 mil táleres por ano. Alexander havia sido um bom funcionário público e aprendido muito no seu trabalho na mineração. Mesmo assim, demitiu-se para viajar pela Europa por dois anos.
Em Paris, ele comprou os melhores instrumentos científicos disponíveis na época e conheceu Aime Bonpland, um médico e botânico francês, que também procurava por uma grande aventura. Em março de 1799, com a ajuda de um diplomata, Humboldt foi apresentado ao rei espanhol, que ficou tão impressionado a ponto de conceder passaportes a Humboldt e Bonpland, permitindo-lhes o acesso a todos os territórios espanhóis na América Latina. Um banco em Berlim deu a Humboldt o crédito ele precisava.
Em uma época em que a maioria das pessoas nunca se arriscava por aventuras longe de casa, Humboldt já tinha viajado muito pela Alemanha e pela Europa. E havia escrito e publicado cinco livros, um deles em latim. Aos 29 anos, ele estava cheio de energia.
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