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Aberta a temporada de bons negócios

Geraldo Hoffmann21 de junho de 2004

Comércio bilateral cresce no primeiro semestre. Empresários alemães e brasileiros reunidos em Stuttgart pressionam governos a concluírem acordo UE-Mercosul.

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Encontro em Stuttgart discute cooperação teuto-brasileiraFoto: Geraldo Hoffmann

"Há um enorme potencial para a cooperação econômica bilateral, desde que o quadro político seja favorável", declarou o presidente da Confederação da Indústria Alemã (DBI), Michael Rogowski, diante de 400 empresários e representantes do setor público, reunidos no Encontro Econômico Brasil-Alemanha, em Suttgart.

"A temporada de bons negócios no Brasil está aberta", acrescentou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, ressaltando que as condições para investimentos nunca foram melhores. Rogowski, no entanto reclamou que o governo alemão poderia dar mais apoio aos empresários para o financiamento de projetos no Brasil.

Segundo o ministro Furlan, o comércio entre os dois países volta a crescer. Em 2003, as exportações alemãs para o mercado brasileiro foram de 4,2 bilhões de dólares, enquanto o Brasil exportou o equivalente a 3,2 bilhões de dólares para a Alemanha.

Nos primeiros cinco meses de 2004, o fluxo de comércio entre os dois países já aumentou 15%, tendo a Alemanha exportado 1,88 bilhão para o Brasil e importado produtos brasileiros no valor de 1,5 bilhão. Furlan disse que o resultado da balança comercial poderia até ser melhor, se não fosse a "boa notícia de que o mercado nacional também está se expandindo". Ele citou o exemplo da Siemens, que teve de reduzir a exportação de telefones celulares fabricados em Manaus para atender à demanda brasileira.

UE-Mercosul

Sob o slogan "Crescimento e investimento – prioridades para a Alemanha e o Brasil", o primeiro assunto discutido nesta segunda-feira (21/06) em Stuttgart foi o Tratado de Livre Comércio entre União Européia e Mercosul. Os empresários dos dois países pressionam os governos a concluírem as negociações. "Espero que o governo federal fale com uma só voz em Bruxelas, na defesa dos interesses da economia alemã. A integração não deve fracassar por causa de determinados interesses setoriais ou nacionais. Ainda estou otimista de que o acordo sai até outubro", salientou Rogowski, do BDI.

Segundo Furlan, o Brasil e a Alemanha, como maiores economias respectivamente do Mercosul e da UE, deveriam ser "as locomotivas do processo de negociação nessa reta final". O vice-presidente do Fórum Empresarial UE-Mercosul, Ingo Plöger, espera que a Alemanha e a França ajudem fortemente a concluir o acordo, previsto para outubro próximo. "Em 90% dos 9400 itens negociados – naqueles em que somos concorrentes - não há problemas.

Exatamente nas áreas em que os dois blocos se complementam, como por exemplo, nos agronegócios, há divergências. A complementação aumenta o protecionismo. Ao defender suas cotas de importações agrícolas que não valem mais de 20 milhões de dólares, a UE entrava o fechamento de um acordo que lhe pode representar um aumento de comércio entre 7 e 10 bilhões de dólares em 10 anos. Queremos maior espaço para competir num fair play – não um descalço e outro de chuteiras", disse.

Oportunidade extraordinária

O secretário-adjunto do ministério alemão da Economia e Trabalho, Ditmar Staffelt, lembrou que o governo alemão não participa diretamente das negociações feitas pela Comissão da UE. Ele acredita, porém, que se o Brasil abrisse mais seus setores de serviços e compras governamentais isso facilitaria a conclusão do tratado.

No âmbito das relações bilaterais, ele espera do governo brasileiro um acordo de proteção aos investimentos. Nesse ponto, ele foi rebatido pelo ministro-adjunto das Relações Exteriores do Brasil, Samuel Pinheiro Guimarães Neto. "Um acordo desses não vai trazer mais investimentos e, sim, a perspectiva de lucro que o país pode oferecer. O Brasil não é um risco. O Brasil é uma oportunidade extraordinária", enfatizou.

Segundo Furlan, em função da expansão do mercado interno e da demanda externa, o PIB brasileiro deverá crescer entre 3,5% e 4% em 2004. Enquanto isso, as previsões de crescimento econômico da Alemanha oscilam entre 1,3% e 2%. "Estaríamos muito contentes, se tivéssemos um crescimento como o do Brasil", destacou Rogowski.

Furlan anunciou em Stuttgart uma série de medidas para atrair novos investidores, entre elas, a simplificação do sistema aduaneiro, a redução de entraves burocráticos para o registro de novas empresas e uma Lei da Inovação, destinada a aumentar os investimentos em pesquisa aplicada. Até o fim do ano, também entrará em operação o Centro de Biotecnologia da Amazônia, que deve abrir novas perspectivas de negócios para pequenas e médias empresas nacionais e estrangeiras. Nesta terça-feira, Furlan visita a empresa alemã de software SAP, em Waldorf, com o objetivo de tentar convencê-la a investir mais no Brasil.

Agronegócios

Na avaliação dos executivos que participam do Encontro Econômico Brasil-Alemanha, o setor de agronegócios é um dos mais dinâmicos e competitivos das economia brasileira. No ano passado, foi responsável por 42% das exportações brasileiras (um aumento de 23% em relação ao ano anterior). O setor já é responsável por 34% do PIB (2002: 29%) e gera aproximadamente 40% dos empregos no Brasil.

O Brasil é o maior exportador mundial de alguns produtos desse setor, como é o caso do açúcar, café, carne bovina, frango, soja, suco de laranja e fumo. Exatamente este setor espera com maior ansiedade a conclusão do acordo UE-Mercosul e já procura parceiros para tentar vender, por exemplo, etanol à União Européia.