Abra a boca, extraterrestre!
19 de janeiro de 2004Supondo que não estivéssemos sozinhos no espaço, por que os extraterrestres nunca nos deram um toque, já que civilizações extraterrestres bem poderiam ter aparecido antes de nós? Isto porque o nosso sistema solar é três vezes mais jovem que os planetas mais velhos do universo. Charles Lineweaver, da Universidade de Nova Gales do Sul (Austrália), também acha que somos nós – os terrestres – a geração mais nova no cosmo. Calculou que, com seus 4,5 bilhões de anos, o planeta Terra deve ser um verdadeiro filho temporão, visto que as melhores condições para surgirem planetas parecidos com a Terra já existiam 6,4 bilhões de anos atrás.
O paradoxo Fermi
Com uma simples tecnologia espacial e ambições imperialistas, qualquer civilização poderia conquistar nossa galáxia em "pouco tempo" – segundo a tese do físico italiano Enrico Fermi (1901 – 1954). Ele achava que o novo império poderia ocupar todos os sistemas solares da Via Láctea em apenas dez milhões de anos. Visto que nossa galáxia tem a idade de 10 bilhões de anos, é rapidinho. Uma conquista relativamente fácil, mas até hoje nenhum “alô” de um marciano. Isso sem falar em ETs aterrissando em nossos jardins.
Sem água não dá
O planeta mais próximo da Terra é Marte. Como existem mudanças sazonais, formam-se no inverno calotas de gelo nos seus pólos – calotas compostas de água congelada e de dióxido de carbono. Isso significa que em Marte existem as substâncias-chave para a vida: carbono e, principalmente, água líquida. A transmissão hereditária – o fundamento da evolução – não seria possível sem carbono, sendo ele a base ideal para a textura complexa de correntes moleculares. E a água é o solvente ideal para substâncias orgânicas. Por essa razão, o suspeitado grande reservatório de água no planeta vermelho atrai quase toda a atenção dos cientistas. "A chance de encontrar seres vivos em Marte é muito grande. Mas isto não quer dizer que eles rastejem pela sua superfície", disse Karl Stetter, astrobiólogo da Universidade de Regensburg.
E nem deveríamos esperar que eles sejam muito inteligentes. "Se for encontrada água um ou dois quilômetros abaixo da superfície, pelo menos alguns micróbios poderiam morar lá felizes", acha o biólogo. Melhor que outros organismos, eles sabem adaptar-se às circunstâncias mais difíceis: sobrevivem num frio violento, num calor insuportável, em profundidades enormes, pressões altas ou salinidade e acidez extremos. E até o vácuo – para eles não é problema. A população dos micróbios compostos de carbono, hidrogênio, nitrogênio e fósforo cresce com uma rapidez sensacional, mas só enquanto houver água em estado líquido.
Daqui para lá – ou de lá para cá?
"Talvez a vida em Marte tenha a mesma origem que nós temos", especula Stetter, "ou talvez sejamos os descendentes dos marcianos?" Seria possível: na época em que o universo ainda existia há pouco tempo, havia muitas colisões entre matérias espaciais. "Empacotados em pedaços de rocha, os micróbios primitivos ficavam protegidos. Como astronautas, viajaram pelo cosmo", explica o cientista. Resta esclarecer qual era o rumo dos micróbios viajantes: daqui para Marte, ou de lá para cá? Obviamente os micróbios se sentem em casa na Terra. Mas talvez existam outros lugares agradáveis onde eles tenham se multiplicado.
Os astrocientistas ainda debatem entre si se organismos unicelulares se transformam forçosamente em pluricelulares. A Terra já existia três bilhões de anos antes de aparecer um ser multicelular. Demorou tanto tempo porque era preciso que micróbios produzissem oxigênio suficiente através do seu metabolismo para que seres multicelulares pudessem viver. Esse processo foi fechado 700 milhões de anos atrás, quando a vida pluricelular começou.
Por causa da demora desse processo, muitos cientistas acham que a evolução humana é pura coincidência, que não se repetiu em outros lugares, nem se repetirá. Mas o biólogo Simon Conway Morris, por exemplo, não acredita na tese da coincidência. Na sua opinião, a evolução humana pode se repetir em qualquer tempo e lugares diferentes. As condições para a inteligência surgir novamente já estão em muito seres vivos, nos golfinhos, por exemplo. "Se hoje a humanidade se extinguisse, daqui a 20 ou 30 milhões de anos reapareceria de novo" , acredita Morris.
Os conquistadores somos nós
Essa teoria também é defendida pelo instituto de pesquisa SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence), que tem como objetivo a exploração espacial. Seus membros acreditam que nosso universo deve esconder mais civilizações além da nossa. Por isso o SETI tem uma missão: procurar os extraterrestres. Um dos seus líderes é Paul Horowitz, da Universidade de Harvard em Massachusetts, nos EUA.
Ele acredita – baseado em cálculos de probabilidade – que a cerca de mil anos-luz da Terra deve existir pelo menos mais uma população inteligente. Segundo ele, deveria ser possível captar seus sinais com radiotelescópios. Mas parece que nenhum dos extraterrestres se esforça em nos mandar um “oi”. Ou decidiram que não vale a pena conquistar um planeta em que moram “bichinhos primitivos” como nós. Parece que somos os únicos querendo conquistar o espaço.