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Acidente no Itaquerão impõe novo revés às obras para Copa

Fernando Caulyt27 de novembro de 2013

Tragédia paralisa trabalhos no palco da estreia da seleção brasileira e faz crescer a já longa lista de problemas da organização do Mundial. Estádios já custam 8 bilhões de reais, quase o dobro da previsão inicial.

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O estádio do Corinthians após acidente, que deixou pelo menos dois operários mortosFoto: Miguel Schincariol/AFP/Getty Images

Já minado por greves, impasses judiciais, problemas no repasse de verbas e até pelas chuvas, o andamento de obras para a Copa de 2014 teve nesta quarta-feira (27/11), com a tragédia na Arena do Corinthians, mais um revés, que ameaça elevar ainda mais o já inflado preço das construções e dificultar o cumprimento do cronograma da Fifa.

O acidente, que deixou ao menos dois mortos, aconteceu quando a última peça da cobertura do Itaquerão, pesando mais de 500 toneladas, desabou de um guindaste. Parte da arquibancada do estádio de abertura da Copa ficou danificada, e os trabalhos não têm prazo para serem retomados. A arena, que já estava em 94% concluída, entra agora na lista das obras que mais preocupam.

"O trabalho no Itaquerão já estava bem avançado, mas agora ele complica o jogo", diz José Roberto Bernasconi, presidente do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia do Estado de São Paulo (Sinaenco/SP). "O estádio entra em sinal amarelo neste momento, junto com outros, como os de Natal, Manaus e Cuiabá."

Prazos apertados

A cerca de sete meses do início da Copa, apenas seis dos 12 estádios estão prontos – em Rio de Janeiro, Fortaleza, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Brasília. Os demais têm suas obras em diferentes estágios – Curitiba (83%), Cuiabá (87%), Manaus (89%), Porto Alegre (87%), Natal (91%), além do Itaquerão (94%).

A Fifa estipulou o dia 5 de janeiro para a entrega de todos os estádios do Mundial, prazo já estendido em relação ao original, que era dezembro. A Arena da Baixada, por exemplo, já admite que o evento-teste, marcado para 26 de janeiro, será realizado sem que as obras estejam 100% acabadas. O estádio não tem sequer um número oficial sobre o estado das obras – a construtora fala em 83%, e a Fifa em 75%.

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Uma projeção de como deve ficar o palco de abertura da Copa de 2014Foto: CDC arquitetos

"Ficamos quase três anos apenas discutindo quais seriam as cidades-sede", critica Agostinho Guerreiro, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado do Rio de Janeiro (CREA-RJ). "Perdemos tempo precioso no arranjo de interesses regionais e políticos. Não que isso não exista em outros lugares do mundo, mas não se pode demorar tanto tempo assim."

Guerreiro lembra que, quando não acontecem acidentes como o do Itaquerão, ocorrem problemas posteriores, como nos Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007. O Estádio Olímpico João Havelange (Engenhão), por exemplo, está interditado desde março passado por falhas estruturais.

"Quando fomos analisar as condições estruturais das áreas dos Jogos Pan-Americanos havia uma quantidade muito grande e indesejável de problemas de engenharia. Por isso, podemos certamente considerar que a pressão em cumprir os prazos foi certamente um dos fatores que contribuíram para o acidente", opina o especialista.

Problemas sem fim

Os problemas durante as obras da Copa foram muitos. Dos 12 estádios, oito enfrentaram greves de operários. Juntas, as paralisações somaram mais de três meses. Por conta das chuvas, a construção da arena de Cuiabá, sede de quatro jogos, foi interrompida por quase uma semana. Na Bahia, um temporal em maio derrubou parte do toldo que cobria as arquibancadas. Funcionários tiveram que tirar com baldes o excesso de água da cobertura para evitar novo acidente.

A Arena do Pantanal, em Cuiabá, enfrentou também um incêndio há menos de dois meses, quando placas de isopor armazenadas no subsolo se incendiaram. O início da instalação das cadeiras se arrastou por quase dois meses devido a um questionamento do Ministério Público quanto aos valores dos assentos.

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Manifestantes ironizam custos das obras em protestos que levaram milhões às ruas neste anoFoto: picture alliance / GES-Sportfoto

Sede de quatro partidas, a Arena da Baixada, por sua vez, viu suas obras serem prejudicadas por um impasse relativo à transferência de uma das parcelas do empréstimo concedido pelo BNDES. Em março, a Arena do Corinthians enfrentou entrave similar, quando o banco estatal ameaçou não liberar quase metade do financiamento à construção do estádio.

O acidente desta quarta-feira, por sinal, não foi o primeiro a deixar mortos nas obras para o Mundial. Em março passado, um operário morreu ao cair de uma altura de cinco metros na Arena da Amazônia. Em junho de 2012, um trabalhador não resistiu à queda de 30 metros no Estádio Nacional de Brasília.

Aumento dos custos

A série de reveses agravou ainda mais a questão dos custos. Em outubro de 2007, as 12 cidades-sede, então candidatas, apresentaram orçamento de 3,25 bilhões de reais para os estádios. A conta não incluía o Mineirão, que terminou custando 700 milhões de reais, mas representa metade do balanço atual, cifrado em 8 bilhões de reais.

"Dinheiro público terá de alguma forma entrar nesse processo para garantir os prazos. Não tem outra forma", diz Guerreiro. "Então, são necessários mecanismos como turnos de 24 horas, maior número de operários e engenheiros, o que acaba tirando o atraso, mas prejudica o bolso do país e os contribuintes."

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A Arena Pernambuco, já pronta e que teve custo de 532 milhões de reaisFoto: YASUYOSHI CHIBA/AFP/Getty Images

O crescimento nos custos dos estádios se deu sobretudo pela conclusão das arenas públicas utilizadas na Copa das Confederações. O Mané Garrincha, em Brasília, custou mais de 1,4 bilhão de reais, 400 milhões a mais que no balanço inicial.

Juntos, os quatro estádios públicos do Mundial – Mané Garrincha, Arena Amazônia, Maracanã e Arena Pantanal – tem custo superior a 3 bilhões de reais, 23% a mais que a estimativa inicial. A diferença seria suficiente para construir mais um estádio como o de Manaus.

O andamento das obras:

Fußball WM 2014 Brasilien England Fans
Torcedor no novo Maracanã, que receberá a final da Copa e foi um dos estádios mais caros do MundialFoto: Christophe Simon/AFP/Getty Images

Rio de Janeiro - Maracanã

Capacidade: 79 mil torcedores
Jogos da Copa: sete, incluindo a final
Custo: 1,05 bilhão de reais
Status: Pronto

Belo Horizonte - Mineirão

Capacidade: 63 mil torcedores
Jogos da Copa: Seis
Custo: 695 milhões de reais
Status: Pronto

Fortaleza - Arena Castelão

Capacidade: 64 mil torcedores
Jogos da Copa: Seis
Custo: 518 milhões de reais
Status: Pronto

Salvador - Arena Fonte Nova

Capacidade: 55 mil torcedores
Jogos da Copa: Seis
Custo: 689 milhões de reais
Status: Pronto

Recife - Arena Pernambuco

Capacidade: 46 mil torcedores
Jogos da Copa: Cinco
Custo: 532 milhões de reais
Status: Pronto

Brasília - Estádio Nacional Mané Garrincha

Capacidade: 75 mil torcedores
Jogos da Copa: sete
Custo: 1,4 bilhão de reais
Status: Pronto

São Paulo - Arena Corinthians

Capacidade: 68 mil torcedores
Jogos da Copa: Seis, incluindo a abertura
Custo estimado: 820 milhões de reais
Status: 94% das obras concluídas

Cuiabá - Arena Pantanal

Capacidade: 43 mil torcedores
Jogos da Copa: Quatro
Custo estimado: 570 milhões de reais
Status: 87% das obras concluídas

Manaus - Arena Amazônia

Capacidade: 44 mil torcedores
Jogos da Copa: Quatro
Custo estimado: 670 milhões de reais
Status: 89% das obras concluídas

Curitiba - Arena da Baixada

Capacidade: 43.981 torcedores
Jogos da Copa: Quatro
Custo estimado: 326 milhões de reais
Status: 75% das obras concluídas segundo a Fifa; 83% segundo a construtora

Natal - Arena das Dunas

Capacidade: 43 mil torcedores
Jogos da Copa: Quatro
Custo estimado: 400 milhões de reais
Status: 91% das obras concluídas

Porto Alegre - Beira-Rio

Capacidade: 52 mil torcedores
Jogos da Copa: Cinco
Custo estimado: 330 milhões de reais
Status: 87% das obras concluídas