1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Acordo com Alemanha pode beneficiar infraestrutura no Brasil

Fernando Caulyt19 de fevereiro de 2015

Em agosto, Brasil fará parte de grupo seleto de países que realizam diálogo de alto nível com Berlim. Portos, ferrovias e aeroportos devem ganhar com experiência alemã no setor e interesse de empresários.

https://p.dw.com/p/1Edtq
O porto de Santos, maior do Brasil, pode se beneficiar da experiência alemã no setorFoto: picture-alliance/dpa

Em 2015, o Brasil fará parte de um seleto grupo de países que realizam o mecanismo de Consultas Intergovernamentais de Alto Nível com a Alemanha. Na esteira da subida de mais um degrau na parceria estratégica e com reuniões bilaterais periódicas entre políticos e empresários do alto escalão, o fluxo de comércio e investimentos – principalmente na área de infraestrutura – deverá aumentar.

Um dos principais pontos a serem discutidos no encontro de agosto em Brasília, com a presença da chanceler federal Angela Merkel e da presidente Dilma Rousseff, é o interesse brasileiro em aprofundar o arrendamento de portos, incrementar soluções de logística e a exploração, por empresários alemães, de terminais de uso privado no Brasil. Há interesse também em projetos na área de ferrovias, aeroportos e energia.

A Alemanha tem grande experiência no setor portuário – possui, por exemplo, o porto de Hamburgo, o segundo maior da Europa. Há ainda uma extensa rede de ferrovias no país usadas para transporte de passageiros e cargas. Além de significar um diálogo mais próximo entre os dois países sobre temas globais, alemães e brasileiros vão identificar, em agosto, outros projetos de investimentos que poderão ser anunciados já durante o encontro em Brasília.

"Para a Alemanha, uma maior proximidade com o Brasil representa o fortalecimento de sua presença econômica na América Latina, justamente no país no qual já possui a maior presença industrial", diz Marcos Troyjo, diretor do BricLab da Universidade de Columbia. "A aproximação representa um convite à intensificação de investimentos, parcerias comerciais, formação de joint ventures e o adensamento da cooperação científico-tecnológica."

A Índia, que possui o mesmo mecanismo com a Alemanha desde 2011, passou a receber mais investimentos diretos do país europeu após o início do diálogo bilateral de alto nível. A cifra saltou dos 860 milhões de dólares de 2012 para 1,038 bilhão em 2013, de acordo com dados do Ministério do Exterior alemão.

Para Troyjo, o aprofundamento das relações com Berlim é algo bem-vindo para Brasília e uma boa notícia em meio a uma série de desdobramentos negativos para o Brasil no cenário internacional.

"A imagem do país é seriamente afetada pelo crescimento medíocre dos últimos quatro anos, a crise energética e hídrica, além do escândalo da Petrobras", diz Troyjo, que também é professor do Ibmec/RJ.

Brasil como parceiro importante

Além do aumento de investimentos e das trocas comerciais, está prevista a assinatura de acordos nas áreas de inovação, educação e a promoção de uma joint venture entre pequenas e médias empresas dos dois países nos setores de energia renovável, ciência e tecnologia. Haverá maior interação entre universidades e agências de pesquisa brasileiras e suas contrapartes alemãs como os institutos Max Planck e Fraunhofer.

O reforço da parceria e prováveis anúncios de investimentos devem vir em boa hora para o Brasil. Instituições financeiras e economistas preveem crescimento nulo – ou até mesmo negativo – do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, após medidas de austeridade já anunciadas pela nova equipe econômica de Dilma.

Steinmeier zu Besuch in Brasilien
Dilma recebe Steinmeier em BrasíliaFoto: Reuters/U. Marcelino

Por meio de nota, a Embaixada do Brasil em Berlim informou que a Alemanha já é, historicamente, um dos maiores investidores externos no Brasil, com um estoque de investimento direto de mais de 30 bilhões de dólares em setores como automotivo, químico, médico-hospitalar e de máquinas.

"Há interesse em expandir e diversificar a presença alemã no Brasil. As Consultas de Alto Nível serão grandes oportunidades para promover essa agenda", diz a nota.

Ao intensificar a parceria, o Brasil se tornará alvo de mais exportações e investimentos alemães, afirma Markus Fraundorfer, pesquisador alemão na Universidade de São Paulo (USP). Para ele, a visita de Merkel e sua comitiva a Brasília vai enfatizar ainda mais essa premissa.

"Considerando a situação econômica difícil do país no momento, esse aprofundamento das relações teuto-brasileiras pode significar uma chance para o Brasil”, afirma o cientista político. "Certamente essa aproximação da Alemanha significa o reconhecimento do Brasil como um parceiro econômico importante e como uma das potências relevantes da Nova Ordem Global."

A Alemanha já realiza o diálogo bilateral de alto nível com França, Polônia, Itália, Espanha, Israel, Rússia, China, Índia e, a partir deste ano, também com a Turquia.

Mercosul e União Europeia

A Alemanha é o principal parceiro comercial do Brasil na Europa e o número quatro no mundo – atrás somente de China, EUA e Argentina. Segundo o Itamaraty, em 2014, o intercâmbio comercial entre os dois países atingiu 20,4 bilhões de dólares. O Brasil é o país onde se encontra o maior número de empresas alemãs fora da Alemanha: são mais de 1.600.

Enquanto Brasil e Alemanha – respectivamente as duas maiores economias do Mercosul e União Europeia – estreitam seus laços econômicos e culturais, os dois blocos ainda não conseguiram fechar um acordo de livre-comércio. As negociações entre europeus e sul-americanos começaram em 1999 e foram interrompidas em 2004. Em 2010, as discussões voltaram à pauta, mas sofreram reveses criados pelos dois blocos.

Containerschiff CSCL Globe
O porto de Hamburgo é um dos maiores da EuropaFoto: picture-alliance/dpa/D. Bockwoldt

Em visita ao Brasil na semana passada, o ministro do Exterior alemão, Frank-Walter Steinmeier, afirmou que a Alemanha tem interesse em acelerar as negociações entre UE e Mercosul. A proposta do bloco sul-americano para a liberalização do comércio já está em Bruxelas para ser analisada pelo bloco europeu.

O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, lembrou que os dois países precisam aumentar o comércio "para o bem" das duas economias e deixou claro que o Brasil tem a necessidade de ampliar a participação de produtos de maior valor agregado na pauta de exportações.

"Seria uma ótima notícia se o acordo fosse fechado neste ano, pois as economias do Mercosul estão com baixa performance, com possível recessão para seus dois maiores integrantes – Brasil e Argentina", afirma Troyjo. "E, hoje, a Europa é a região do mundo que menos cresce."