Sinais contraditórios
5 de novembro de 2011
Apesar do acordo acertado nesta semana entre a Liga Árabe e o presidente da Síria, Bashar al-Assad, para cessar a violência, o país continua sendo palco de batalhas sangrentas.
Neste sábado (05/11), disparos de um tanque de combate mataram pelo menos três civis e deixaram dezenas de feridos durante repressão a protestos na cidade de Homs, a 140 quilômetros de Damasco, segundo informações de ativistas e moradores. Prédios inteiros teriam sido destruídos pelo fogo dos tanques e pessoas atingidas pelos tiros estariam morrendo nas ruas, já que o socorro não chega.
De acordo com ativistas, pelo menos 14 pessoas haviam morrido na sexta-feira nas cidades de Kanaker, Saqba e Homs, centro das manifestações contra Assad. O número de civis mortos por tropas do governo nessa cidade desde a última terça-feira já teria chegado a 80.
As autoridades sírias, por sua vez, afirmam que lutam contra gangues de militantes armados, responsáveis pela morte de civis e de figuras importantes em Homs. A mídia estatal vem divulgando que vários "terroristas" estão sendo mortos e que apreendeu várias armas, entre elas lança-granadas, coquetéis molotov e explosivos.
As ações colocam em dúvida a eficácia do acordo fechado com a Liga Árabe, segundo o qual o líder sírio compromete-se a acabar com a violência na repressão às manifestações, a retirar o Exército das ruas e a libertar cidadãos presos durante os protestos no país em até duas semanas. A violência, no entanto, tem aumentado. A ONU calcula que mais de 3 mil pessoas já morreram nos confrontos.
Sinais contraditórios
Assad tem mandado contraditórios sinais para as lideranças internacionais. Ao mesmo tempo em que promete reformas no país, ele ameaça adversários. Há meses a mídia estrangeira independente não está autorizada a atuar no país – questão que também não mudou após o acordo.
Para observadores, ainda não está claro se Assad realmente está abrindo diálogo com a comunidade internacional que condena a violência na Síria ou se apenas tenta ganhar tempo.
As razões que o levaram a assinar o acordo, por exemplo, são motivo de grande especulação. Avalia-se que nem o regime Assad nem o movimento contrário ao governo são suficientemente fortes para tomar as rédeas do país no momento. "Há um grande impasse", afirma Sadik Al-Azm, filósofo sírio que atua na Universidade de Bonn.
Segundo ele, é difícil avaliar quanto tempo Assad – há 11 anos à frente do governo na Síria – ainda deverá ficar no poder. No entanto, Al-Azm está convencido de que esta permanência está limitada. "A era Assad não tem mais como ser o que era antes. De certo modo, o regime já chegou ao fim – pois assim os sírios já o consideram".
Apoio árabe
Assad, porém, ainda conta com muitos aliados. China e Rússia, por exemplo, têm sinalizado claramente que não apoiariam uma intervenção das Nações Unidas na Síria. Mesmo a Liga Árabe mantém-se cautelosa em relação ao país, estabelecendo um posicionamento diferente do adotado no caso da Líbia. Para muitos chefes de Estados árabes, Assad é considerado um importante interlocutor – diferentemente do que foi Muammar Kadafi.
A Arábia Saudita não conseguiu impor a sua proposta de bloquear a participação da Síria na Liga Árabe. O governo do Líbano – que é controlado pelo Hizbollah e, assim como o regime sírio, também adota uma posição pró-Irã – se opôs à proposta saudita, da mesma forma que a Argélia e o Sudão.
A preocupação de que os protestos também cheguem a seus países também pode ter contribuído para o posicionamento desses Estados, na opinião de observadores.
Após a série de manifestações e de quedas de chefes de governo na região, cada vez menos governos árabes têm interesse em ver líderes fora de seus postos.
Futuro da Síria
Mesmo dentro da Síria o apoio a Assad ainda é grande. Ele ainda conta com a lealdade de grande parte das Forças Armadas, assim como da classe média. "Ainda há uma parcela relativamente grande da população que se estabeleceu durante o sistema Assad", avalia Heiko Wimmen, especialista em Síria no Instituto Alemão de Política Internacional e de Segurança (SWP). "E essa parcela da população não sabe o que aconteceria a ela se Assad não estivesse mais lá".
Há ainda uma grande apreensão de que, sem o atual líder sírio, o Estado laico não consiga mais proteger as minorias religiosas. E Assad lucra com essa incerteza.
Autoras: Anne Allmeling / Mariana Santos
Revisão: Carlos Albuquerque