Adesão da Croácia à União Europeia ocorre em tempos difíceis
30 de junho de 2013A filiação da Croácia à União Europeia transcorre em meio à pior das crises já atravessadas pelo bloco. O desejo de incluir novos membros baixou a zero. Ao visitar a capital Zagrebe no final de março, o comissário de Ampliação da UE, Stefan Füle, realizou um esforço para promover a "credibilidade da política de ampliação", afetada especialmente pela inclusão na EU da Romênia e da Bulgária, em 2007.
Na época, ambos os países ainda estavam bem longe dos padrões desejados por Bruxelas, no tocante ao combate à corrupção. Entretanto a esperança era que a adesão à UE, por si só, acarretaria as mudanças necessárias. Só que o efeito foi, antes, contrário: uma vez dentro do "clube", o ímpeto para reformas cedeu. E assim a Romênia e a Bulgária seguem excluídos da Zona de Schengen, na qual não há controles de fronteiras.
Critérios mas rígidos
Tal negligência não deverá ocorrer em relação à Croácia. Em Zagrebe toma-se cuidado extremo para que as medidas não sejam apenas anunciadas, mas também implementadas. Füle declarou em março último: "A Croácia está em condições de comprovar reformas que são críveis, sustentáveis e irreversíveis".
Também no caso croata, para a UE a luta contra a corrupção é de fundamental importância. O presidente Ivo Josipovic admitiu em entrevista à DW: "É, nós tínhamos e ainda temos problemas com a corrupção". No entanto, a mentalidade agora é outra: "Não haverá ninguém, quer presidente, premiê ou ministro ou quem quer que seja, capaz de voltar atrás a roda".
Em termos econômicos, é provável que a Croácia se torne, antes, um peso para a UE. Há anos o país se encontra em recessão, o índice de desemprego gira em torno de 20%. Por outro lado, boa parte dos membros mais antigos do bloco tem problemas iguais ou ainda maiores que esses.
A adesão não fará o país próspero da noite para o dia, mas o capacitará com mais competitividade, acredita o primeiro-ministro Zoran Milanovic. "Estou convencido de que a Croácia estará pronta para os desafios que a integração europeia e a globalização representam para um país pequeno. Pois os pequenos devem estar abertos. A União Europeia dá à Croácia uma enorme chance", observou.
Fim de hostilidades antigas
Tal chance significa também suporte financeiro. Johannes Hahn, o comissário europeu de Política Regional, previu em fevereiro último que, após o ingresso, "o reforço estrutural da UE irá perfazer até 70% dos investimentos públicos da Croácia". Ele destaca a importância de "que as pessoas sintam esse apoio: na forma de empregos e crescimento, e tão logo quanto possível".
A Croácia é o segundo ex-membro da antiga Iugoslávia a entrar para a UE – o primeiro foi a Eslovênia. O presidente Josipovic não acredita que isso implicará trazer para o seio da política europeia as hostilidades da guerra civil dos anos 90. Pois as tensões com os sérvios diminuíram significativamente, argumenta.
O presidente da Sérvia, Tomislav Nicolic, classificado como nacionalista, estará em Zagrebe em 1º de julho, para as comemorações da filiação à UE. E os sérvios terão nos croatas até mesmo uma fonte de apoio, em seu caminho para a Europa, diz Josipovic. Ou seja: eles não pretendem vetar uma eventual pretensão sérvia de filiar-se à UE, caso ela entre em pauta um dia. Ao contrário da Eslovênia, que bloqueou por meses o processo de adesão da Croácia, devido a uma disputa de fronteira.
UE ainda tem atrativos
Para os croatas, a esperança é que a filiação à UE trará prosperidade e segurança. Mas, segundo Corina Stratulat, especialista em Croácia do think tank European Policy Centre, de Bruxelas, há mais em jogo. "Trata-se também um símbolo de status. O ingresso na UE mostra que a Croácia é agora parte de uma comunidade com valores e princípios democráticos. Aos olhos do mundo, ela passa a representar as mesmas coisas que a UE."
Por outro lado, justamente em face das dificuldades atuais, essa ampliação representa também um mérito para o grêmio europeu, ressalta a cientista política. "É a prova de que, para os países com pretensões a integrá-la, a União Europeia continua tendo uma força transformadora, e de que, para os que estão de fora, ela segue sendo atraente."
A Croácia tenciona até mesmo adotar o euro – hoje visto por diversos críticos como um símbolo de dissensão, ou mesmo de fracasso –, assim que preencha os critérios para tal. Isso deverá ocorrer dentro de três a cinco anos, prevê o presidente Josipovic.
No entanto, como revelou à DW, ele não alimenta ilusões: não haverá explosões de júbilo em 1º de julho. "Somos realistas, sabemos que a adesão não resolverá todos os nossos problemas. Mas ela é uma oportunidade para nós, e espero que iremos aproveitá-la."