Mesmo confirmada, adoção do euro ainda enfrenta ceticismo na Letônia
10 de julho de 2013Já é oficial: a partir da virada do ano, os letões terão aos poucos que esquecer o lats e começar a pensar em euro. Na última terça-feira (09/07), a Letônia se tornou o 18º membro da zona de moeda única – num passo tratado como histórico pelo governo, mas ainda visto com desconfiança pela maioria no país.
A adoção do euro ainda é largamente impopular a Letônia. As últimas pesquisas, realizadas em junho, apontam que menos de 40% dos letões se dizem favoráveis à entrada na zona de moeda única. Muitos temem o aumento dos preços no país, como aconteceu em outros novos membros do bloco.
"Para mim, é como se eu abandonasse a minha pátria, a bandeira nacional e outros símbolos", diz Ieva Dabolina, designer e poetisa de 44 anos, em referência às notas de lats, que para muitos estão entre as mais bonitas do mundo.
O ministro das Finanças, Andris Vilks, lembra que ao entrar para a União Europeia, em 1° de maio de 2004, o país já havia sido decidido também a adesão à zona do euro. Desde 2005, afirma, o lats está acoplado ao euro. "Após aderir à UE e à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), restava somente a introdução do euro", disse Vilks à Deutsche Welle.
A Letônia é, depois da Estônia, o segundo país do Báltico a trocar a moeda local pelo euro. O outro Estado da região, a Lituânia, espera seguir os passos dos vizinhos até 2015 – o que deve selar o atual ciclo de expansão da zona de moeda única.
"A Letônia é um dos quatro países – incluindo Estônia, Finlândia e Luxemburgo – que atualmente atendem a todos os critérios do Tratado de Maastricht", diz Vilks, membro do Partido da Unidade, que lidera a coalizão de centro-direita à frente do governo da Letônia.
Segundo relatório do Banco Central Europeu (BCE), o déficit orçamentário letão corresponde a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB). A taxa média de inflação girou, no ano passado, em torno de 1,3%, bem abaixo do valor de referência de 2,7%. Em 2012, o endividamento estatal foi de 40,7%, também muito menor que os 60% permitidos.
A Letônia se associa à zona do euro como um país de grande disciplina fiscal, diz Vilks. Para o ministro, uma moeda forte regional seria essencial, já que melhora o clima de investimentos e a liquidez do país.
A adesão ao euro é vista de forma positiva sobretudo pela geração jovem e pelos letões com uma renda maior. Inese Klimovica, de 32 anos, é gerente de exportações de uma firma da capital, Riga, especializada no design de velas. Recentemente, recebeu até um prêmio pelo grande potencial exportador.
"O Japão é um dos nossos maiores mercados de exportação, e os japoneses pagam nossas contas em euro", explica Inese. "Pessoalmente, eu sou a favor do euro. Vivemos no século 21. Viajar também vai ficar muito mais fácil.”
Sua empresa também exporta para outros países da UE e para Suíça e Coreia do Sul. Além disso, está tentando entrar no mercado russo, onde também se paga com o euro. A partir de 2014, quando a moeda europeia for introduzida oficialmente, Inese diz que economizará com o câmbio. Atualmente, dez empregados recebem o salário em lats e também os custos de produção são contabilizados na moeda letã.
Para governo, economia está preparada
Mas nem todos compartilham uma ideia positiva em relação ao euro. "Obviamente, a decisão de aderir à zona do euro – como antigamente por ocasião da entrada na União Europeia – é uma religião na Letônia", afirma Janis Urbanovics, líder da bancada parlamentar do partido de oposição Centro da Harmonia.
Urbanovics e o outro partido de oposição no Parlamento, a União Verde e de Camponeses, são da opinião que a Letônia deveria ter postergado a introdução do euro. Ele aponta para a Polônia, país-membro da UE onde "se discute quando o euro será introduzido, enquanto o interesse pelo euro continua o mesmo."
A Letônia se prepara para evitar se tornar uma nova Grécia, ou seja, um peso para a zona do euro. No final de 2008 e ao longo de 2009, o país sofreu a pior recessão da União Europeia, devido a um déficit orçamentário descontrolado. O maior banco do país, o Parex, foi estatizado.
Em 2008, a Letônia recebeu 7,5 bilhões de euros em ajuda financeira internacional, montou um pacote de austeridade econômica – e se recuperou. Hoje, a economia letã é a que mais cresce na União Europeia e, por esse motivo, Vilks diz não ter nenhuma preocupação com o seu país: "Para os bancos, a Letônia possui agora uma estrutura regulatória mais rigorosa. E o Parlamento aprovou um acordo de estabilidade orçamentária."
Morten Hansen, diretor do Departamento de Economia da Stockholm School of Economics em Riga, diz que a Letônia aprendeu uma lição com o passado. Mas, apesar de muita coisa ter sido feita desde 2005, ele diz que ainda é preciso realizar reformas estruturais, como melhorias nos setores de educação e assistência social, nas áreas de política regional e no mercado de trabalho.
Lija Strasuna, economista-chefe do Swedbank, tenta minimizar as preocupações com uma possível inflação. Segundo ela, um aumento de preços devido somente ao euro não deverá acontecer. "Mas se a economia continuar crescendo dessa forma, e as pessoas continuarem a gastar dinheiro, de fato, os preços vão subir", alerta.
A atual crise econômica talvez tenha enfraquecido os argumentos para a adesão ao euro – os letões também estão assistindo à luta de alguns países do sul da Europa pertencentes à zona de moeda única para não afundar. Por outro lado, o governo está determinado a espalhar sua atitude positiva pela sociedade: na virada do ano, todo o país deve fazer eventos para celebrar as vantagens da zona do euro e os benefícios da moeda comum.