África-UE
26 de novembro de 2008Numa conferência realizada esta semana em Paris, teoricamente prevista para fortalecer os laços entre a Europa e a África, representantes de vários países africanos manifestaram consternação a respeito da nova política de migração do bloco europeu. "A Europa quer se transformar num bunker", afirmou Cheijk Tidiane Sy, ministro senegalês do Interior.
A referência imediata do ministro é o Pacto sobre Migração e Asilo, aprovado há poucas semanas pelos governos da União Européia (UE), cujo critério majoritário para controlar a imigração é o mercado de trabalho dos 27 países do bloco e não a situação dos refugiados em busca de asilo.
Predileção por qualificados
Taieb Fassi Fihri, ministro do Exterior do Marrocos, aponta essa fixação da UE em "imigrantes qualificados" como um erro. "A Europa deveria reconhecer que, nos próximos anos, precisará de até 30 milhões de imigrantes oriundos de países não europeus, tanto imigrantes qualificados quanto não qualificados", diz Fihri.
Segundo as novas diretrizes da UE, a Frontex (agência de proteção de fronteiras) deverá implementar um controle mais rígido da região marítima costeira dos países do bloco, a fim de detectar imigrantes ilegais antes que estes pisem em território europeu.
Além disso, os refugiados que forem detidos deverão ser deportados o mais rápido possível, também para "servir de exemplo" para outros africanos que pretendam chegar à Europa. Também as legalizações em massa, como as realizadas pela Espanha até alguns anos atrás, só poderão acontecer após acordo com países vizinhos europeus.
Difícil cooperação
Para os representantes dos países ao sul do Mar Mediterrâneo, a política migratória européia é um erro. Jacques Barrot, responsável em Bruxelas pela política de migração da UE, revida as acusações de que o bloco ignore quaisquer preceitos humanitários. "Sabemos que o fenômeno da migração tem também um lado humano. Por trás dessas correntes migratórias estão indivíduos, que precisam, obviamente, ser tratados de forma correta", justifica Barrot.
Para as autoridades dos países de origem e aqueles chamados "de trânsito", de onde muitos refugiados partem para chegar à Europa, a UE deveria facilitar as condições de acesso de imigrantes ao bloco. Os europeus, por outro lado, exigem uma melhor cooperação desses países no combate a migração ilegal. Em tal clima de desconfiança, parece pouco provável que possa ser realmente estabelecida uma parceria intercontinental em questões de imigração.