Agora no euro, Letônia pode ser inspiração para países em crise
11 de julho de 2013O primeiro-ministro da Letônia, Valdis Dombrovskis, diz conhecer o caminho certo a ser trilhado por um país para sair da crise. Para ele, a receita não é promover um crescimento econômico a qualquer custo, mas sim implementar reformas profundas e estruturais – ainda que doloridas.
Dombrovskis vê a Letônia como um aluno europeu exemplar e comemora as atuais altas taxas de crescimento, o orçamento equilibrado e a entrada do país na zona do euro, selada nesta semana e a concretizada em janeiro do ano que vem.
"O euro não é um fim em si mesmo, mas sim um instrumento nas mãos do governo que possibilita um maior crescimento econômico", afirma Inese Vaidere, representante letã no Parlamento Europeu.
Segundo ela, ex-professora do departamento de ciências Econômicas da Universidade da Letônia, os letões estão convencidos de que uma zona de moeda comum, como a do euro, pode atrair mais investimentos do que áreas onde vigora um câmbio nacional.
A opinião também é compartilhada pelo ex-ministro das Finanças Krisjanis Karins. "A entrada na zona do euro reduz os riscos para investimentos em nosso país", avalia ele, que atualmente representa a coalizão do governo letão no Parlamento Europeu.
Krisjanis calcula que, na vizinha Estônia, os investimentos estrangeiros dobraram nos últimos dois anos – o que ele espera que também aconteça com a Letônia.
Terapia de choque
O futuro novato na zona do euro trabalhou duro para ganhar essa chance. Há cinco anos, o país só conseguiu evitar uma quebra dos bancos graças à ajuda emergencial da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI). E, para ter acesso ao dinheiro, o governo em Riga precisou colocar em curso um drástico plano de austeridade.
Em 2009, salários e remunerações no setor estatal foram reduzidos em 30%; os gastos públicos foram cortados em 20% e muitos servidores públicos foram demitidos. A taxa de desemprego atingiu níveis recordes. Mas o governo de Dombrovskis continuou firme no plano de austeridade, o que faria com que o país fosse recompensado mais à frente: neste ano, a Letônia vai registrar um crescimento de 5% – e de maneira sustentável, como ressalta Karins.
"Não podemos manter uma vida acima das nossas condições por muito tempo. E isso vale para todos os países da Europa", afirma Karins.
Ainda nos tempos do boom econômico, causado pelo aumento de crédito que favoreceu o consumo na virada do milênio, a inflação no país báltico chegou aos dois dígitos. Com medo de uma hiperinflação após o início da crise, os letões rejeitaram o conselho até mesmo do FMI de desvalorizar o próprio câmbio a fim de melhorar a competitividade.
Em vez disso, o governo de Dombrovski optou pelo caminho impopular e com alto custo social, o chamado "rebaixamento interno", que tratou da redução de salários e de remunerações, sobretudo no serviço público.
Consenso político
Algo parecido ocorreu há poucos anos no sul da Europa, e a região questiona, agora, se o desempenho da Letônia pode ser um caminho para a saída da crise. Para Krisjanis Karins, não há receita milagrosa.
"A diferença entre nosso país e outros da Europa é que somos uma economia pequena, mas bastante aberta. Com isso, conseguimos impulsionar nosso crescimento por meio de exportação", explica Karins. Ele ressalta ainda que, em um país maior, com exportação fraca e forte demanda interna, talvez este não seja realmente o melhor caminho.
O político europeu não esconde que muitos de seus eleitores, segundo uma recente pesquisa de opinião, ainda se mostram um tanto quanto céticos com relação à adoção do euro no país. Ele observa, porém, que há alguns meses o índice de aprovação popular para a medida era ainda menor e mostrou confiança de que, em breve, a população passará a apreciar o euro.
Para Idese Vaidere, o consenso pluripartidário com relação à reforma política dos últimos anos foi algo importante para a entrada da Letônia na zona do euro. Apesar de ter havido protestos contrários ao pacote de austeridade, os partidos que formam o governo e também as associações sindicais mantiveram apoio à política de ajustes desde o início. Isso também seria importante para os países em crise no sul da Europa, afirma a economista.
"Se eu pudesse dar um conselho à Grécia, seria esse: as pessoas não devem apenas ir às ruas protestar, mas também pensar o que elas poderiam fazer para diminuir o gasto público", diz Vaidere.
A Letônia, ela lembra, reduziu a parcela de seu gasto público no PIB para 36%. Na Grécia, esse índice ainda é de 50%, o que mostra que o potencial de corte ainda não chegou ao limite.
Mas ainda fica no ar a pergunta sobre o futuro da economia da Letônia. Há pouco tempo, o país promulgou uma série de leis consideradas polêmicas na Europa, pois elas reduzem as taxas sobre capitais drasticamente a fim de atrair dinheiro das nações da antiga União Soviética – e possivelmente expandir o setor bancário letão.