Reconstrução do Haiti
22 de abril de 2010
Os Estados Unidos estão preocupados em impedir uma onda de imigração ilegal vinda do Haiti. O Brasil, em adotar uma política externa capaz de conquistar maior de liderança no mundo. Canadá e França, com sua ligação histórica. E Venezuela e Cuba, em angariar simpatizantes para o projeto bolivariano. Todos esses interesses convergem para a reconstrução do Haiti.
As motivações de cada país resultam mais em cooperação do que em competição. Para Antonio Jorge Ramalho, professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), a ideia de que Brasil e Estados Unidos estariam em uma disputa de poder no Haiti não passa de boato.
"Não vejo competição alguma. O que houve foi uma intervenção muito rápida dos americanos no aeroporto de Porto Príncipe. Não havia torre, não havia radar, não havia possibilidade de funcionamento do aeroporto, e os americanos, como tinham capacidade de restabelecer isso em horas, fizeram-no com o conhecimento e acordo tanto do governo haitiano quanto da Minustah", explica.
Segundo Ramalho, que também integra a assessoria de Defesa da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República do Brasil, o que houve foi falta de cuidado diplomático em informar a comunidade internacional do que estava sendo feito.
As forças de paz da Organização das Nações Unidas (Minustah) trabalham em conjunto com as tropas norte-americanas, francesas e canadenses, que devem deixar o Haiti assim que terminar a fase de atendimento emergencial no país. Pelas contas do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), esse trabalho deve durar ainda 12 meses. A preocupação imediata é oferecer abrigo para todos antes do início da temporada de furacões, em junho.
ONU só arrecadou até agora metade do necessário
Além de trabalhar contra o tempo, a ONU precisa de mais dinheiro. De acordo com a porta-voz da OCHA em Genebra, Elisabeth Byrs, até agora foram arrecadados apenas 51% de US$1,4 bilhão necessário para a ajuda emergencial. "Isso significa que ainda temos que achar juntos US$ 733 milhões de dólares para implementar os programas humanitários antes do final do ano", diz. Só para a construção de abrigos são necessários US$ 55 milhões.
Diante dos números e das necessidades, diz Byrs, não há espaço para disputa, e sim para cooperação. "Graças às competências desses países, foi possível colocar o Haiti de volta nos eixos. Não existe competição. Precisamos reconstruir melhor esse país e esperamos que o espírito de solidariedade continue, que o Haiti não seja esquecido outra vez. Cada país que estiver interessado em ajudar é bem-vindo."
O que existe é uma convergência de expectativas por razões distintas, como define o professor da UnB. Os norte-americanos estão preocupados em barrar a imigração ilegal e também em impedir que o Haiti seja utilizado como base para o tráfico de drogas e armas. "Eles querem evitar essa situação, por isso mandaram um contingente tão grande para prestar assistência lá, mantendo os haitianos no Haiti, prestando solidariedade, mas também atendendo a este seu interesse", diz.
Brasil entende melhor realidade do Haiti
O papel do Brasil foi o de intermediar o diálogo entre o Haiti e a cooperação internacional. "O Brasil tem a capacidade de entender os problemas haitianos porque, em alguma medida, temos alguns problemas muito semelhantes. Então para os brasileiros é mais fácil compreender essas realidades, as tensões, as dificuldades e traduzir isso para os representantes de países desenvolvidos", diz Ramalho. Segundo o professor, o Brasil tem feito um trabalho importante em ajudar outros países a adaptar seus projetos de cooperação às condições locais.
A política externa brasileira também se movimenta para ampliar a liderança no mundo. Para o Haiti, o Brasil destinou cerca de US$ 350 milhões, volume sem precedentes. Até então, a média destinada à cooperação internacional era de US$ 1 milhão por ano. Com a ajuda, o Brasil se aproximou dos Estados Unidos, que destinam cerca de US$ 500 milhões para cooperação internacional a cada três anos.
Cuba e Venezuela correm por fora
Longe do trabalho conjunto da comunidade internacional, Venezuela e Cuba preferem tratar diretamente com os oficiais do governo haitiano. "Chávez vem utilizando a cooperação como um instrumento para angariar simpatias e alianças para o projeto bolivariano.
Eles agem em paralelo, também de forma cooperativa, e isso é importante para o governo haitiano no que diz respeito a aporte de recursos. Mas não é algo compartilhado com os demais membros da comunidade internacional presentes no Haiti. É mais ou menos o que faz Taiwan", diz Ramalho.
Autora: Francis FrançaRevisão: Roselaine Wandscheer