Alemanha a caminho da reforma no sistema de ensino
25 de agosto de 2005Mais maternais, melhor formação de educadores e um ensino mais estruturado na infância são algumas das recomendações da equipe de sete especialistas que se debruçaram durante dois anos sobre um projeto de reforma do sistema educacional alemão.
O presidente da comissão, Thomas Rauschenbach, defende que o Estado passe a oferecer vagas nos jardins-de-infância para crianças a partir de dois anos de idade, ao contrário do que acontece hoje – vagas apenas a partir dos três anos. A partir de 2010, os pais deverão contar com vagas para seus filhos em maternais já a partir do nascimento. A necessidade é maior, acima de tudo, no oeste alemão, a região com menor número de vagas para crianças pequenas.
Escolas em tempo integral
Outro alerta da comissão, que recebeu do governo a incumbência de sugerir novos rumos para o sistema educacional do país, é uma ampliação do número de escolas em tempo integral.
As propostas, observa Rauschenbach, não devem ser entendidas como uma intromissão do Estado em questões que dizem respeito à família, numa alusão direta à ideologia que reina em determinados círculos no país, de que uma criança, até completar os três anos de idade, não deve freqüentar a escola.
Neste caso, ela é mantida em casa – na grande maioria das vezes, em companhia da mãe, que, por sua vez, se vê impedida ou com dificuldades de exercer qualquer atividade profissional.
Mudança de cenário
Outro ponto a ser modificado, segundo a comissão, é a redução da idade das crianças que iniciam a escola primária. Pois as exigências das crianças e dos jovens, analisa Rauschenbach, mudaram nas últimas décadas, com um sensível aumento de influências externas e complexas exercidas pelo meio ambiente. "Os pais nunca assumiram completamente sozinhos a tarefa de criar uma criança.
No passado, sempre houve um número de pessoas que auxiliavam na educação – tios e tias, avós, irmãos mais velhos. Houve uma mudança sensível neste sentido e precisamos reagir a isso", comenta a ministra alemã da Família, Renate Schmidt.
Filhos de imigrantes
Os especialistas vêem a necessidade urgente de incentivar as crianças o quanto antes, inclusive aqueles que, para o governo, "não estão em condições" de auxiliar seus próprios filhos no aprendizado prematuro. A referência é aos filhos de imigrantes no país, que muitas vezes chegam à escola, aos seis ou sete anos de idade, sem falar alemão ou com dificuldades para entender o idioma.
Apenas no Estado da Renânia do Norte-Vestfália, 120 mil crianças descendentes de imigrantes foram enviadas à escola no último ano. Destas, 21 mil precisaram freqüentar de início um curso de alemão. No decorrer das aulas, o grau de dificuldade das crianças foi também bastante variado.
Silke Müller, diretora de uma escola em Bonn, observa que há uma série de preconceitos em relação a línguas estrangeiras, embora "o domínio de um outro idioma não seja necessariamente negativo". Para Müller, quando as crianças dominam perfeitamente uma outra língua, elas aprendem o alemão com rapidez.
"Por isso,aconselhamos pais estrangeiros a falar corretamente a língua materna em casa, mantendo-se atentos a que os filhos aprendam esse idioma corretamente. O problema é quando essas crianças falam em casa uma mistura, por exemplo, de alemão com turco", diz a educadora.
Posição desfavorável no ranking europeu
A importância da pré-escola vem sendo cada vez mais discutida no país. Ao contrário de outros países da União Européia, os educadores alemães não precisam de um diploma universitário para exercer a profissão, mas apenas de uma formação profissional de três anos. "Os educadores nos nossos jardins-de-infâncias se vêem ainda como simples babás", comentou recentemente uma alemã no semanário Frankfurter Allgemeine Sonntagszeitung.
Em comparação a outros países europeus, a Alemanha ocupa uma posição nada favorável no ranking de sistemas educacionais, o que explica os desastres registrados pelos testes do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), realizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Crianças nas nursery schools britânicas ou as écoles maternelles francesas têm muito mais capacidade de lidar com números e com o alfabeto, enquanto a Bélgica, a Itália e a Holanda possuem um programa de ensino definido, segundo o qual as crianças devem aprender na pré-escola a contar e em vários casos a ler.
Na Hungria e na Noruega, os jardins-de-infância dão às crianças e aos pais até mesmo várias opções dentro de uma mesma área, como por exemplo a possibilidade de escolher nas aulas de música entre o aprendizado de um instrumento ou a leitura de notas. Aos caixas do governo as mudanças previstas para o sistema educacional alemão devem custar em torno de 2,7 bilhões de euros.