Alemanha articula com europeus melhor forma de armar curdos no Iraque
21 de agosto de 2014Especialistas das Forças Armadas alemãs estão avaliando, a pedido do governo em Berlim, de que maneira o país pode ajudar os curdos no norte do Iraque nos confrontos contra a milícia extremista "Estado Islâmico" (EI). A Alemanha garante estar disposta a enviar equipamentos de guerra para a zona de confronto – e não apenas materiais "não letais", como aparelhos de visão noturna e coletes à prova de bala. Caso necessário, a Alemanha quer enviar armamento.
"A entrega de armas será feita com grande cautela e em sintonia com os parceiros europeus e internacionais", defendeu o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, ao anunciar a proposta.
A ministra da Defesa alemã, Ursula von der Leyen, justificou a decisão como necesária para interromper a "terrivelmente rápida e indescritível brutalidade" das ações da milícia islâmica no Iraque.
Em tom parecido, os dois ministros ressaltaram que novas ações do "Estado Islâmico" ainda poderiam afetar os interesses dos alemães na área de segurança. "As consequências seriam devastadoras", disse Steinmeier.
Apesar de o governo Angela Merkel tender cada vez mais pelo envio de armas, a ideia vem recebendo duras críticas por parte da população. Segundo uma pesquisa de opinião publicada pela revista Stern, 63% dos alemães são contra o armamento dos curdos. Entre as mulheres, a rejeição chega a 75%.
Ajuda europeia
Além da Alemanha, França, Itália e Reino Unido se preparam para enviar armas aos curdos. De acordo com Jens Flossdorf, porta-voz do Ministério alemão da Defesa, os militares alemães agora tentam definir, até a próxima quarta-feira, quem pretende enviar o quê, a fim de evitar sobreposições.
Mas pelo menos uma dificuldade já foi detectada até agora: embora tenham bastante familiaridade com armas de produção russa, como o fuzil AK-47, os curdos não sabem manusear armas usadas pelos militares alemães, como o fuzil G36. Eles precisariam passar por um treinamento antes de utilizar os equipamentos.
"Mas esse treinamento não precisa ser necessariamente com soldados alemães em solo iraquiano", explica Flossdorf. Ele ressaltou que os instrutores poderiam ser treinados em outro local: "Capacetes podem ser simplesmente entregues. Já com equipamentos de rádio a coisa funciona de maneira diferente."
O porta-voz ressalta ainda que está descartado o envio de grandes equipamentos de alta tecnologia. Segundo levantamentos, entre os principais desejos dos curdos estariam mísseis antitanque do tipo Milan, que há quatro décadas fazem parte do arsenal das Forças Armadas alemãs.
Pressão da oposição
Na noite de terça-feira, Steinmeier defendeu entre seus correligionários do SPD o envio de armas ao Iraque. Como repasse de armamento para zona de conflitos pode ser considerado uma quebra dos paradigmas da política externa alemã, o assunto pode gerar resistência dentro do partido.
"Diante dessa severa crise, temos que tomar decisões duras", disse Steinmeier, em uma mensagem de três páginas entregue à bancada. "Não há respostas fáceis. E isso também não significa que podemos fugir das difíceis."
O ministro diz que o governo alemão encontra-se diante de um dilema entre uma austera política de exportação e os especiais interesses externos e de segurança do país, levando em consideração as demandas de seus aliados.
Um dos argumentos mais fortes usados por Steinmeier em sua carta está no apelo em tentar garantir mais segurança na região em conflito para a passagem de ajuda humanitária. Para isso, afirma, é preciso conter o "Estado Islâmico" no país.
O governo federal se mostrou aberto à inclusão do Parlamento nas discussões. Aos deputados, porém, não caberão decisões a respeito. "O envolvimento do Parlamento nessa discussão deve ser entendido apenas a título de informação", esclareceu Steffen Seibert, porta-voz do governo.
A oposição, porém, discorda. "O governo não pode definir sozinho, sem a participação do Parlamento, sobre um possível envio de armas", contesta Katrin Göring-Eckhart, líder do Partido Verde. Também dentro do governo há quem defenda maior participação dos parlamentares na decisão.
"Eu acho que, num assunto como esse, não se pode ignorar o Parlamento", disse o ministro do da Cooperação e Desenvolvimento Gerd Müller.
A única decisão que não gerou polêmica foi a ajuda humanitária que a Alemanha está concedendo aos necessitados na área de conflito, com a qual o país já gastou 25 milhões de euros. O valor ainda pode subir, segundo dados apresentados por Steinmeier e Von der Leyen.