Alemanha como modelo de reunificação para as Coreias
29 de setembro de 2015É cada vez menor o número daqueles que conseguem se lembrar que a Península Coreana já foi um único país. Os que vivenciaram esse tempo são hoje anciãos. Eles vivem de ambos os lados da fronteira, geralmente separados dos parentes do outro lado. Embora às vezes distanciados apenas uns poucos quilômetros, há mundos se interpondo entre eles.
Essa imagem desperta na Alemanha lembranças do próprio passado. Como demonstra uma enquete encomendada pela DW, a maioria dos alemães acredita que outros países também possam se beneficiar da experiência nacional.
Mais de 80% dos entrevistados foram da opinião de que a superação da fronteira interna alemã em 1990, após 50 anos de separação, tem caráter exemplar. Mas ela poderia ser um modelo para a Coreia?
Não, está convencido Han Un-suk, do Instituto Ásia-Oriente da Universidade de Tübingen. Nas atuais circunstâncias, assegura, é impossível aplicar o modelo alemão aos países irmãos asiáticos.
"No futuro previsível, a Coreia do Norte não vai entrar em colapso. A China, a aliada de Pyongyang, não é a União Soviética de 1989-90", opina o especialista.
Outro aspecto é que uma Coreia dividida corresponde aos interesses de muitos políticos japoneses, para quem um país reunificado, aliado à China, seria um pesadelo, prossegue o especialista em estudos asiáticos.
"Além disso, na Ásia Oriental não existe uma instância como a Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa (CSCE), capaz de guiar a um consenso os interesses em colisão e de contribuir para a unificação de ambas as partes da península."
Han aponta mais uma diferença em relação à Alemanha: devido à guerra entre as duas Coreias, de 1950 a 1953, os conflitos ideológicos são excessivamente marcantes, tanto entre o Norte e o Sul quando no interior da sociedade sul-coreana.
"A sociedade assimilou da mídia conservadora a imagem dominante de uma Coreia do Norte demonizada. São fracos os esforços para julgar o país de modo objetivo."
É semelhante a opinião do diplomata Rolf Mafael, que desde meados de 2012 é embaixador alemão em Seul. Embora haja pontos comuns nas circunstâncias histórico-ideológicas que levaram à divisão durante a Guerra Fria, as diferenças também são significativas.
"A Alemanha Oriental e a Ocidental nunca entraram em guerra si. Entre os dois povos era possível haver contato e intercâmbio, por isso esses laços eram muito mais fortes e se estabeleceram ao longo das décadas."
"Somos um só povo"
Em contrapartida, desde 1948 – portanto há quase sete décadas – a separação das Coreias está sedimentada. A sangrenta guerra de 1950-53 até hoje não foi superada, nos termos do direito internacional, já que nunca foi assinado um tratado de paz, apenas um acordo de cessar-fogo.
Na agenda da presidente sul-coreana Park Geun-Hye, o tema reunificação ocupa, bem demonstrativamente, o topo da lista de prioridades. No passado, ela o abordou muitas vezes em público, por exemplo, na visita à Alemanha no início da 2014.
"Somos um só povo", afirmou a chefe de Estado num discurso em alemão, na cidade de Dresden, repetindo um dito em voga após a Reunificação da Alemanha. "O dia vai chegar em que essas poderosas palavras, que uniram os cidadãos do leste e oeste da Alemanha, vão ecoar na Península Coreana."
Diferença de ótica entre as gerações
A Reunificação veio rápida, quase da noite para o dia. O professor Han enfatiza que isso seria inimaginável no caso da Coreia, onde um processo análogo necessitaria tempo. "Ele precisa ser preparado e planejado a longo prazo e com cautela. Primeiro necessitamos mudar nossa política social radicalmente. Sem esse passo, uma unificação levaria a perigosos conflitos sociais e, possivelmente, a uma catástrofe."
Ainda assim, prossegue, estudar a experiência alemã pode ajudar a constatar o que deu certo, o que não. "Por exemplo, na privatização de empresas estatais nós teríamos que agir de forma diversa. E no processo de unificação deveríamos nos esforçar pela maior participação possível das elites norte-coreanas." E a população do Norte não pode ter a impressão de estar sendo colonizada.
Entre a população do Sul, o tema da reunificação é avaliado de formas bem diversas. "Nas gerações mais jovens, o interesse é bem menos marcado do que entre os mais velhos, cuja própria experiência de vida se superpõe diretamente com a divisão do país", avalia Rolf Mafael.
As questões suscitadas por uma eventual reunificação também tomam direções inteiramente diversas. "Entre os jovens, o que determina a discussão, em geral, é a preocupação com as possíveis sobrecargas econômicas."
Nesse aspecto, as mídias desempenham um papel decisivo. "Elas acirram o medo dos problemas que uma reunificação poderia acarretar: o financiamento, a concorrência mais forte no mercado de trabalho. E os conflitos ideológicos internos da sociedade sobre a política para a Coreia do Norte, travados entre as alas conservadora e as progressistas, influenciam negativamente a visão dos assuntos ligados à reunificação."
Custos e benefícios
Naturalmente um processo desse porte também sai caro. "No caso de uma reunificação em 2020, o Ministério sul-coreano da Reunificação estima custos entre 379 bilhões e 1,261 trilhão de dólares", relata Han. E dez anos mais tarde, calcula-se que a iniciativa sairia ainda bem mais cara, entre 813 bilhões e 2,836 trilhões de dólares.
Diante de tais cifras, não espanta que seja muito pronunciada a apreensão quanto a efeitos negativos sobre o padrão de vida. No entanto, do ponto de vista do embaixador Mafael, esse medo é injustificado, tanto no médio como no longo prazo, quando as vantagens de uma reunificação predominariam.
"O padrão de vida cresceria, em especial no Norte. E o potencial econômico de uma Coreia reunificada, com um mercado de 75 milhões de pessoas, superaria francamente os custos iniciais."
O especialista Han, da Universidade de Tübingen, concorda. "O Parlamento coreano previu em 2014 que os lucros de uma reunificação simulada em 2015 de fato suplantariam de longe os custos. Num prazo de 45 anos, chegariam a ser três vezes superiores."
O tempo se esgota para as famílias
No que tange às pré-condições políticas para a reunificação, segundo Han Un-Suk só há um cenário concebível. "Ela não poderá se realizar através de concessões e acordos, e sim apenas com o colapso da Coreia do Norte. A causa de um colapso assim não deve ser a pressão, mas antes a abertura para fora e uma intensificação do intercâmbio e do comércio doméstico."
No entanto, as táticas confrontativas dos governos conservadores sul-coreanos, desde o fim da Política do Sol, têm servido antes para estabilizar a liderança norte-coreana.
E, enquanto isso, o tempo vai se esgotando para as famílias separadas. A cada ano milhares de cidadãos morrem sem jamais ter revisto seus parentes do outro lado da fronteira.