Alemanha descobre rede neonazista em presídios
11 de abril de 2013As autoridades alemãs descobriram uma rede para troca de informações entre condenados radicais de direita que agia sob a proteção de uma entidade para auxílio a presidiários. O resultado da investigação, que chocou a opinião pública no país, aponta também para possíveis ligações com neonazistas fora da prisão, pertencentes à organização Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU, na sigla em alemão).
A origem da rede foi a penitenciária de Hünfeld, próxima à cidade de mesmo nome, no estado de Hessen, segundo confirmou o secretário de Justiça Jörg-Uwe Hahn. "Acredito poder afirmar agora que as primeiras atividades [da rede] foram em Hünfeld", afirmou.
A nova rede já tinha, entretanto, antecedentes conhecidos. Dezoito meses atrás, o ministro alemão do Interior, Hans-Peter Friedrich, proibiu a associação extremista de direita HNG – sigla para "organização de ajuda a presos políticos nacionais e seus familiares" – argumentando que a entidade rejeita o Estado de direito e glorifica o nazismo. A organização tinha centenas de membros e apoiava neonazistas condenados.
Após a proibição, presos extremistas de direita tentaram construir uma nova rede, de acordo com Hahn. "Nós encontramos materiais a partir dos quais podemos supor que lá, através de uma estrutura de associação, havia o intuito de se estender a rede não só em Hessen como em todo o país", afirmou o secretário.
Comunicação em código
Os investigadores descobriram a rede de informações secreta após coletarem e avaliarem nas últimas semanas cartas e outros documentos pessoais encontrados em várias prisões do estado. As autoridades descobriram que os membros da rede se comunicavam através de mensagens ocultas em cartas e anúncios publicados em revistas. Para isso, os nazistas usaram, de acordo com os jornais Süddeutsche Zeitung e Bild, códigos e símbolos.
O especialista em extremismo de direita Bernd Wagner não se surpreendeu com as redes secretas reveladas em Hessen. "Os presidiários sempre foram organizados", observa. "Há poucas prisões onde não há extremistas de direita. Desde os anos 60 até hoje, podemos observar a maneira como suas redes atuam nas prisões", disse à DW.
Neonazistas suspeitos presos em Hünfeld já foram transferidos e separados. Ao mesmo tempo, o controle sobre detentos radicais de direita foi acirrado. Além disso, os agentes penitenciários deverão ser treinados para poder interpretar as tatuagens de neonazistas presos. "A maioria deles já é reconhecida desta maneira", explica Hahn.
Em 17 de abril, começa em Munique o julgamento de Beate Zschäpe, suposta integrante da organização NSU, que seria responsável pela morte de pelo menos sete estrangeiros e dois alemães com raízes estrangeiras. Outros quatro suspeitos de apoiar o grupo também irão a tribunal. Até lá, mais detalhes sobre a rede de neonazistas presos podem vir à tona.