Alemanha e China: excelentes relações bilaterais
10 de novembro de 2005Ao chegar em Berlim, nesta quinta-feira (10/11), como parte de seu giro pela Europa, Hu Jintao, chefe de Estado e de partido da China, encontra o país numa fase de difíceis negociações para uma nova coalizão de governo.
Porém, a China encara com tranqüilidade e pragmatismo os tortuosos caminhos da democracia. Como provam as declarações recentes do ministro do Exterior Li Zhaoking, em Pequim:
"Não creio que seu país se encontre em dificuldades extremas. Trata-se de uma questão interna da Alemanha. A meu ver, não importa quem esteja no poder. Todos os políticos alemães desejam relações amigáveis conosco, todos consideram importantes as relações estratégicas com a China."
Tudo indica que Li Zhaoxing tenha razão. Após ser eleito chanceler federal em 1998, Gerhard Schröder continuou sem interrupção a política de seu antecessor, Helmut Kohl, sobretudo no tocante à economia. E, assumindo o cargo de premier, Angela Merkel provavelmente não fará mudanças significativas na política com a China.
Não mexer em time que está ganhando
Fato é que as relações bilaterais teuto-chinesas atravessam um momento excelente, como mostram diversos inidicadores. A conferência sobre energias renováveis, iniciada esta semana na capital chinesa, foi, por exemplo, financiada e preparada em grande parte pela Alemanha.
Além disso, 20 mil chineses estão atualmente matriculados nas universidades alemãs. E, desde o início da gestão da colizão social-democrata-verde, há sete anos, o comércio bilateral entre esses dois países triplicou .
Por outro lado, Eberhard Sandschneider, professor de Sinologia de Berlim, aponta para uma reorientação na política externa, que também poderia influenciar diretamente as relações teuto-chinesas:
"A futura chanceler federal Merkel tem enfatizado que se esforçará consideravelmente para voltar a melhorar as relações transatlânticas, das quais a China é atualmente um aspecto essencial. Por exemplo, na questão de uma posição conjunta frente à ascensão – não apenas econômica, como potencialmente militar – do país. Isso demonstra diferenças nítidas entre Washington e a Europa, ou Berlim."
Embargo: resquício da Guerra Fria?
Tais diferenças se fazem sentir, sobretudo, quando se fala de um eventual fim do embargo armamentista, imposto após o sangrento massacre do movimento democrático na China, em 1989.
Quando a UE cogitou uma suspensão do embargo, Washington e Tóquio levantaram sérias objeções. E, num debate parlamentar de abril passado, Schröder se pronunciou com veemência – porém sem sucesso – pelo fim da sanção, cuja manutenção Angela Merkel defendeu, com bons argumentos.
Tudo leva a crer que Hu Jintao pressionará por uma suspensão, durante as conversações em Berlim. Seu ministro do Exterior enfatizou a posição chinesa, falando à imprensa na sexta-feira (04/11):
"O embargo de armas da UE representa uma discriminação política. Os chefes de Estado europeus com que falei acreditam tratar-se de um resquício da Guerra Fria. Injustificado, inútil, nocivo, mesmo."
Evitando temas incômodos
O assunto é visivelmente incômodo para a Alemanha. Por isso, o vice-porta-voz do governo, Thomas Steg, declarou que a suspensão não será tema importante durante a visita do presidente chinês. Como se trata de um embargo europeu, somente uma resolução unânime dos chefes de Estado e governo da UE poderá acabar com ele, antecipou Steg.
Em contrapartida, os direitos humanos também ficarão praticamente de fora das conversas, embora as organizações especializadas no tema desejassem um empenho maior pelos direitos humanos e pela liberdade.
Ao invés disso, Berlim se concentrará, como no passado, nos contatos econômicos. Estes estão intimamente entrelaçados com as discussões políticas programadas para os três dias da visita de Hu Jintao.
A "euforia chinesa" passou
Embora durante a visita do chefe de Estado esteja prevista a assinatura de contratos no valor de 1,4 bilhão de euros, vem-se registrando nos últimos tempos um certo esfriamento da antiga euforia do empresariado alemão em relação à China.
Cada vez mais se tematizam as dificuldades das empresas alemãs no mercado chinês, em especial a proteção insuficiente da propriedade intelectual. Hu Jintao não deixará de ser interpelado sobre o assunto, não só em sua estada na Alemanha, como também nas demais estações deste giro europeu (Inglaterra e Espanha).
O professor Sandschneider explicita o problema: "Uma empresa altamente especializada, entrando no mercado chinês com tecnologia de ponta em nível internacional, não tem como saber se sua tecnologia não será logo pirateada. Sendo, em seguida, oferecida como produto concorrente, não só na China, como em nossos próprios mercados."