Alemanha e Israel, 40 anos de relações especiais
12 de maio de 2005O anúncio oficial do estabelecimento de relações diplomáticas entre a Alemanha e Israel, a 12 de maio de 1965 – aprovado pela Knesset, o Parlamento israelense, já em março daquele ano – foi precedido de um longo processo de aproximação entre os dois países após a dolorosa experiência do Holocausto.
No início o comércio
Depois que os dois países selaram um acordo de reparação em Luxemburgo, no ano de 1952, o então chanceler federal, Konrad Adenauer, mostrou interesse em estender as relações para o patamar diplomático, mas as feridas não estavam então suficientemente cicatrizadas para esse passo.
Estaleceu-se então, em Colônia, em 1955, uma Missão Comercial, cuja principal tarefa era comprar, com os recursos financeiros resultantes das reparações, as mercadorias de que o jovem Estado de Israel necessitava. Somente em inícios da década de 60 tornou-se público que entre essas mercadorias se encontravam também armas – comercializadas obviamente em transações secretas.
No caminho o Waldorf Astoria
Em 14 de março de 1960, encontraram-se em "terreno neutro", no Hotel Waldorf Astoria de Nova York, Adenauer e o então primeiro-ministro israelense, David Ben Gurion. O encontro entrou para a história, porque a "química" entre os dois funcionou desde o primeiro momento.
A aproximação entre os dois Estados nos anos subseqüentes lançou sombras sobre as relações da Alemanha com os países árabes – também no esteio dos jogos políticos da República Democrática Alemã (RDA), comunista.
No começo de 1965, o presidente do Egito, Gamal Abdel Nasser, convidou o líder do partido SED e chefe de governo Walter Ulbricht a visitar o Cairo. Em contrapartida, o chanceler federal Ludwig Erhard ofereceu a Israel a troca de diplomatas, ao que Nasser respondeu com a ameaça de reconhecimento da RDA.
A RDA não foi reconhecida oficialmente, mas em compensação a maioria dos países árabes cortou as relações diplmáticas com a Alemanha depois de 12 de maio de 1965. Demorou anos até que a situação se revertesse e Bonn, então capital da República Federal da Alemanha, voltasse a receber diplomatas árabes.
Sempre o compromisso derivado da história
Ainda que a Alemanha nem sempre tenha estado de acordo com os sucessivos governos israelenses, o país tornou-se nestas quatro décadas o mais importante aliado político de Israel na Europa e o segundo maior parceiro comercial daquele país, depois dos Estados Unidos.
Por outro lado, a Alemanha evitou durante muito tempo assumir um papel ativo nos esforços pela paz no Oriente Médio, pelo menos até que israelenses e palestinos demonstrassem, por meio do Acordo de Oslo de 1993, estar dispostos eles mesmos a cooperar neste sentido.
Desde então, políticos alemães têm se empenhado com freqüência como mediadores entre as duas partes, refletindo o compromisso que a Alemanha sente perante Israel, derivado da história e expresso por sucessivos governos, independemente de sua orientação partidária.
O social-democrata Willy Brandt afirmou em 1973: “As relações teuto-israelenses têm um caráter especial, uma característica que permanece intocável. Para nós, não pode haver nunca uma neutralidade do coração e da consciência”. E o democrata-cristão Helmut Kohl fez coro, muitos anos depois: "Ninguém quer enterrar e esquecer a história, o que seria terrível. Um povo que não conhece a sua história não conhece o presente e é incapaz de moldar o futuro".