Alemanha e o desafio de reduzir o lixo plástico
31 de janeiro de 2018Pepinos, fatias de queijo, pastilhas para máquina de lavar louça. Estes são apenas alguns dos muitos exemplos de itens embalados em plástico encontrados em supermercados alemães. A imagem de sustentabilidade associada ao país parece não combinar com a onipresença das embalagens feitas a partir de petróleo.
De acordo com o Departamento de Estatísticas da União Europeia (Eurostat), a Alemanha é o maior consumidor de plástico da Europa. E a tendência é que o consumo continue aumentando devido a mudanças de estilo de vida – como compras pela internet, comida e bebida para viagem, e pessoas que vivem sozinhas.
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Todos os anos, 8 milhões de toneladas de plástico poluem os oceanos do mundo, de acordo com estimativas da Fundação Ellen MacArthur, representando um perigo para a vida marinha e a saúde humana.
Como os plásticos nunca se decompõem totalmente, nosso rastro de chinelos usados, garrafas de plástico e microplásticos liberados a cada lavagem de roupas sintéticas permanecerá por gerações, de acordo com os cientistas.
Na Alemanha, alguns começam a perceber o impacto no meio ambiente do uso de plásticos. Tom Ohlendorf, especialista em embalagens da organização WWF, no país, aponta uma mudança na mentalidade de alguns compradores e varejistas que preferem as opções livres de plástico.
"A consciência dos varejistas e consumidores aumentou", diz Ohlendorf. "Basta olhar para iniciativas como supermercados sem embalagens que surgiram em várias cidades alemãs."
Deixar o plástico de lado
Uma pequena loja no bairro de Kreuzberg, em Berlim, é um dos negócios pioneiros do movimento livre de plásticos. Chamado Original Unverpackt (Original sem embalagem, em tradução livre), o supermercado, com suas paredes de azulejos brancos e prateleiras de madeira, abriu as portas há três anos.
Nele, os clientes enchem recipientes com grãos, legumes e até mesmo xampu. Além de produtos frescos, o,local vende escovas de dente de bambu, preservativos fair-trade e sacolas de pano com a frase "Não existe planeta B".
Estabelecimentos do tipo ainda são um fenômeno de nicho, sendo que muitos ainda escolhem os produtos que compram pelo preço. Mas a mudança também está surgindo nos consumidores convencionais. Agora, redes gigantes de supermercados estão falando sobre diminuir as suas pegadas de plástico também.
Os clientes dos supermercados da rede Edeka e das lojas de produtos orgânicos Denn's Biomarkt podem, por exemplo, usar seus próprios recipientes para comprar de queijos a produtos vendidos no balcão de carnes, seguindo os passos de uma série de cafeterias em Berlim e outras regiões que incentivam os clientes a adquirirem copos reutilizáveis.
O segundo maior varejista de alimentos da Alemanha, a rede de supermercados Rewe, decidiu adotar novos recipientes de ervas secas e madeira para as maçãs orgânicas. A rede também está avaliando os resultados de um projeto-piloto que tentou desencorajar os clientes em algumas de suas lojas de usar sacos de plástico translúcidos para comprar frutas e vegetais. A empresa afirmou à DW que ainda não está claro se implementará o esquema em todas as suas lojas.
Aterros sanitários repletos de plástico
Tobias Quast, especialista em resíduos e recursos na organização ambiental Friends of the Earth International, em Berlim, diz haver apenas "tentativas iniciais" de cortar o consumo de plástico, e não uma verdadeira mudança.
"Esses projetos-piloto mostram que é completamente possível expandir a ideia ecologicamente responsável do uso de recipientes reutilizáveis", disse à DW. "Mas os planos em andamento na política e no varejo alemães não são, de longe, suficientemente ambiciosos."
Hábitos de compras mais ecológicos e políticas como um imposto sobre as empresas que produzem resíduos plásticos e a cobrança por sacolas plásticas em lojas não parecem ter diminuído a quantidade de plástico que flui para os aterros sanitários alemães.
Os dados mais recentes da Eurostat mostram que o uso de embalagens em geral e de plástico em particular aumentaram na Alemanha nos últimos anos. O total de resíduos de embalagens foi de 18,1 milhões de toneladas em 2015, tendo aumentado por três anos consecutivos.
Grupos ambientalistas criticam a nova legislação alemã sobre embalagens – que entrará em vigor em janeiro de 2018 – por não trazer avanços suficientes. A lei visa fortalecer a reciclagem, e reduzir a prevalência de garrafas de utilização única e embalagens em geral.
Impulso da Europa
Em breve, a Alemanha pode receber um novo impulso da União Europeia para reduzir o consumo de plástico. Citando a quantidade de plástico nos oceanos e nos peixes que ingerimos, Bruxelas afirmou que planeja tornar todas as embalagens plásticas do bloco recicláveis até 2030. Os países europeus produzem anualmente 25 milhões de toneladas de resíduos plásticos – e menos de um terço é reciclado.
Observadores apontam que a nova abordagem do bloco seguiu a proibição da China de importar resíduos plásticos, o que pode forçar a União Europeia a incinerar ou aterrar seu plástico.
Diversas startups em toda a Europa estão testando diferentes abordagens para embalar produtos. A Miwa – com sede em Praga, na República Tcheca –, por exemplo, desenvolveu recipientes reutilizáveis para transportar produtos alimentícios de produtores para consumidores, gerando o mínimo de resíduos. A companhia testou o processo numa rede de fornecedores e planeja abrir suas primeiras lojas no outono europeu de 2018.
A empresa, que ganhou recentemente um prêmio de inovação, foi fundada por Petr Baca, que trabalhou por muitos anos com design de embalagens e desenvolveu uma consciência sobre o problema de resíduos.
Só é preciso "perceber o impacto negativo das embalagens de utilização única", afirmou Baca à DW. Para ele, a tecnologia é parte da resposta para "ajudar as pessoas a superar a mentalidade atual sobre embalagens descartáveis, que é em grande parte responsável pela poluição em massa de todo o planeta".
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