Diálogo de São Petersburgo
15 de julho de 2009
Durante séculos, as dinastias nobres russas e alemãs mantiveram relações próximas, mas a ascensão do nacionalismo em ambos os lados – no final do século 19 e início do século 20 – transformou os dois povos em inimigos.
Duas guerras mundiais culminaram na divisão da Alemanha, com uma "amizade teuto-russa" prescrita de um lado e, do outro, o medo de que "os russos" chegassem. Dos dois lados do rio Elba, a Otan e o Pacto de Varsóvia se opunham com grande poderio bélico.
Uma nova Guerra Fria
Foi o primeiro chanceler federal social-democrata da Alemanha, Willy Brandt, que começou a romper a tensão em 1969, após tentativas cautelosas de seu antecessor no governo alemão, Kurt Georg Kiesinger.
Em 1970, ambas as partes assinaram o Tratado de Moscou, que legitimava a situação territorial da Europa do pós-Guerra. Como consequência, o secretário-geral do Partido Comunista da URSS, Leonid Brejnev, foi o primeiro líder soviético a visitar a Alemanha Ocidental, em 1973.
No entanto, a União Soviética aproveitou a fase de menor tensão para se armar. Mísseis atômicos apontados para a Alemanha Ocidental e para a Europa Ocidental ameaçavam minar ainda mais as relações entre Washington e Moscou.
Helmut Schmidt, sucessor de Brandt como premiê alemão, conseguiu que a Otan respondesse a essa ameaça com mísseis de médio alcance, caso Moscou não cedesse. A implementação dessa resolução por Helmut Kohl, a partir de 1983, colocou a Europa à beira de uma nova Guerra Fria.
Desagregação do bloco soviético
Foi Mikhail Gorbachov, empossado como governante soviético em 1985, que começou a abrir e reformular o sistema político da URSS, o que despertou confiança no Ocidente.
O governo da Alemanha Oriental, sob Erich Honecker, tentou impedir essas mudanças, no entanto. O desejo de mudança levou a população da Alemanha comunista às ruas; milhares de pessoas tentaram sair do país pelas fronteiras recém-abertas da Hungria ou da República Tcheca. Para alemães do Leste e do Oeste, Gorbachov representava uma esperança.
E de fato, Gorbachov e Kohl acabaram se entendendo quanto ao modelo da reunificação alemã. Entre outras coisas, o país reunificado ingressou na Otan, algo que ninguém teria considerado possível anteriormente.
No dia 3 de outubro de 1990, selava-se a reunificação alemã. Um ano depois, a União Soviética se desintegraria. E por determinação do presidente Boris Ieltsin, a Rússia retirou da Alemanha – em 1994, conforme acerto prévio – os últimos soldados do antigo Exército Vermelho.
Uma reaproximação adiada
A base de confiança se manteve, mas uma autêntica amizade não chegou a se estabelecer entre os dois países. Afinal, durante a era Kohl, perdeu-se a chance de integrar a Rússia de forma igualitária numa estrutura de segurança europeia.
Em vez disso, a Otan foi se aproximando cada vez mais das fronteiras russas. Não é de se admirar que isso tenha acirrado ainda mais os temores de submissão ao domínio ocidental e reacendido o antigo ímpeto de hegemonia por parte de Moscou.
Uma importante tentativa de reaproximação entre a Alemanha e a Rússia foi a criação de um fórum de discussão bilateral, em 2001, por iniciativa do então premiê alemão, Gerhard Schröder, e do presidente Vladimir Putin.
O encontro anual, denominado Diálogo de São Petersburgo por ter se realizado pela primeira vez nessa cidade, reúne representantes da sociedade civil, políticos e empresários da Alemanha e da Rússia. Sua meta é promover o entendimento entre ambos os países e gerar ideias a serem absorvidas pelos governos.
Em oito grupos de trabalho dos quais participam aproximadamente 200 representantes alemães e russos, discutem-se questões políticas e econômicas, além de temas relacionados à sociedade civil, à mídia e às igrejas na Europa.
Este ano, o Diálogo de São Petersburgo se realiza pela primeira vez em Munique, de 14 a 16 de julho.
SL/dw
Revisão: Alexandre Schossler