Alemanha faz megaoperação contra extremistas de direita
10 de outubro de 2023Promotores alemães informaram nesta terça-feira (10/10) que a polícia realizou uma série de batidas em vários estados do país devido a um plano para realizar ataques com explosivos no setor de fornecimento de energia da Alemanha, além do sequestro do ministro da Saúde, Karl Lauterbach.
Os suspeitos têm ligação com o movimento Reichsbürger (Cidadãos do Impédio Alemão), cujos membros são acusados de conspirar para derrubar o sistema político alemão e instalar um novo governo.
As batidas ocorreram simultaneamente nos estados de Renânia-Palatinado, Renânia do Norte-Vestfália, Turíngia, Hesse, Baviera e Baden-Württemberg.
Na Renânia-Palatinado, um homem de 52 anos e uma mulher de 32 anos foram presos. Ele é suspeito de ter espionado o funcionamento de linhas de alta tensão, enquanto a mulher teria operado vários grupos de aplicativo de mensagem por meio dos quais outros apoiadores teriam sido recrutados. Ela também teria criado um documento com instruções para a fabricação de explosivos.
Além disso, o Ministério Público de Koblenz e o Departamento de Polícia Criminal do Estado da Renânia-Palatinado estão investigando uma mulher de 53 anos que supostamente sabia dos planos dos extremistas, mas não os denunciou.
Na Renânia do Norte-Vestfália, conforme a Promotoria Geral de Düsseldorf, um homem de 49 anos foi preso por, supostamente, ter um "papel de liderança regional" no grupo, seja nos supostos ataques planejados ao fornecimento de energia ou em uma planejada "reunião constituinte" após a formação de um "novo governo".
Armamentos na Croácia
Um homem de 61 anos, preso em Hesse, teria participado de reuniões do grupo e concordado em trabalhar no sequestro de Lauterbach. Ele também teria oferecido sua garagem para armazenar armamentos temporariamente.
Esse mesmo homem deveria integrar uma delegação que, após a execução do atentado contra o setor de energia, viajaria de navio pelo Mar Báltico até águas russas. A ideia do grupo era negociar uma "colaboração" com as autoridades estatais russas e adquirir equipamentos militares.
O Ministério Público de Munique informou que um suspeito preso na cidade de Wolfratshausen, ao sul da capital bávara, também havia concordado em participar do sequestro do ministro da Saúde e em obter armas de fogo na Croácia para essa finalidade.
No estado de Baden-Württemberg, no sul da Alemanha, policiais detiveram um suspeito de ter fornecido ao Reichsbürger um servidor que funcionaria para espalhar teorias conspiratórias. Ele também teria participado da administração de um grupo fechado de aplicativo de mensagem.
Ministro agradece
O ministro da Saúde alemão, Karl Lauterbach, demonstrou gratidão na plataforma X (antigo Twitter).
"Agradeço aos investigadores, a quem provavelmente devo minha vida", escreveu.
Os promotores ligaram os indivíduos detidos nesta terça ao subgrupo Patriotas Unidos, integrado ao movimento Reichsbürger, que já teria planejado um golpe de Estado anteriormente e também uma nova Constituição baseada no Império Alemão de 1871.
Cinco supostos membros desse subgrupo estão sub judice desde maio. O Superior Tribunal Regional de Koblenz acusou quatro homens e uma mulher de planejarem um golpe e de terem a intenção de matar o ministro da Saúde.
O que é o grupo Reichsbürger
Membros do movimento Reichsbürger negam a existência da Alemanha democrática do pós-guerra e acreditam que o Estado atual não passa de uma construção administrativa ainda ocupada pelas potências ocidentais – EUA, Reino Unido e França. Para eles, valem as fronteiras do Império Alemão até 1937.
Os autoproclamados "Reichsbürger", que se traduz como "Cidadãos do Império Alemão" – fundado em 1871 – compõem vários pequenos grupos e indivíduos, localizados principalmente nos estados de Brandemburgo, Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental e Baviera.
Os integrantes não aceitam a legalidade das autoridades governamentais da Alemanha, recusam-se a pagar impostos e imprimem seus próprios passaportes e carteiras de motorista. Também produzem camisetas e bandeiras para fins publicitários.
Eles desconsideram, ainda, o fato de que tal atividade é ilegal, sem reconhecimento das autoridades alemãs. Em seus sites, anunciam com orgulho sua intenção de "continuar a luta contra a República Federal da Alemanha".
gb (AFP, dpa, ots)