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Alemanha insiste que Moscou e Ucrânia voltem a negociar

18 de janeiro de 2022

Na Rússia, ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, afirmou ser difícil não entender envio de tropas russas à fronteira com a Ucrânia como "ameaça". Apesar de tom amigável, relação de Berlim e Kremlin é tensa.

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A ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, ao lado de seu colega russo, Sergei Lavrov, em Moscou
A ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, ao lado de seu colega russo, Sergei Lavrov, em MoscouFoto: SNA/imago images

Em meio a tensões entre o Kremlin e o Ocidente e o agravamento da crise na fronteira russa com a Ucrânia, a ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, realizou nesta terça-feira (18/01) sua primeira visita oficial a Moscou.

Durante o primeiro encontro cara a cara que teve com seu homólogo russo, Sergei Lavrov, depois de assumir a diplomacia alemã, há pouco mais de um mês, a política do Partido Verde, de 41 anos, insistiu na retomada veloz de negociações de paz no conflito da Ucrânia. 

Segundo Baerbock, as conversas são importantes para a segurança europeia.

Naquela que foi considerada sua primeira prova de fogo no novo cargo, a ministra reforçou a intenção de seu país de manter relações estáveis com a Rússia. Segundo Baerbock, essa estabilidade é uma necessidade, sob o contexto de tensões crescentes entre os dois países.

Por sua vez, Lavrov, o mais longevo ministro do Exterior na Europa, afirmou ser necessário fortalecer as relações bilaterais, e que Moscou busca um relacionamento construtivo e em pé de igualdade com Berlim, com base no respeito mútuo aos interesses das duas nações.

Mas, apesar do tom amigável, fato é que os laços entre os dois países vêm sofrendo fortes abalos.

Recentemente, Berlim expulsou dois diplomatas russos após um tribunal alemão julgar que o assassinato de um cidadão da Geórgia na capital alemã teve motivação política e teria sido organizado, em parte, pela embaixada russa. Moscou respondeu na mesma moeda, e expulsou diplomatas alemães.

A Alemanha também acusou a Rússia de estar por trás de ataques cibernéticos ao Parlamento alemão em 2015 e do envenenamento, no ano passado, do opositor russo Alexey Navalny, que passou alguns meses em Berlim para receber tratamento médico. O ativista foi preso desde que retornou para a Rússia, há um ano, logo ao chegar no aeroporto de Moscou.

Há poucas semanas, o Kremlin se irritou com o bloqueio da transmissão do canal em língua alemã da emissora estatal russa RT.

O peso da Ucrânia

A questão da Ucrânia – onde Baerbock esteve antes de seguir viagem para Moscou – também pesa sobre o relacionamento entre dois países. O Ocidente teme que Moscou esteja preparando uma invasão ao país vizinho, em razão do acúmulo de soldados e veículos militares russos na fronteira. 

O Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, deverá viajar a Kiev nesta quarta-feira para diálogo, e é o esforço diplomático mais recente para evitar que as tensões relativas à Ucrânia escalem para um conflito na Europa. Blinken também deverá ir a Berlim na quinta-feira.

Em Kiev, onde se reuniu nesta segunda-feira com o presidente Volodymyr Zelensky e o ministro do Exterior, Dmytro Kuleba, a ministra alemã afirmou que a diplomacia é a única maneira viável de resolver a crise, mas, ao mesmo tempo, se posicionou firmemente contra qualquer ação hostil de Moscou.

Apesar de o Kremlin negar qualquer intenção de invadir a Ucrânia, Baerbock disse, nesta terça-feira, que é difícil não interpretar o aumento da presença militar russa na fronteira como uma ameaça. 

A ministra se pronunciou a favor de reavivar as conversações entre Ucrânia e Rússia no formato Normandia, com a mediação da Alemanha e França. O último encontro desse tipo ocorreu em 2019.

Baerbock anunciou recentemente que irá, juntamente com o ministro francês do Exterior, Jean-Yves Le Drian, visitar a região de Donbass, no leste ucraniano, palco de uma insurgência promovida por separatistas pró-Moscou.

Segundo a ONU, mas de 14 mil pessoas morreram nos confrontos em Donbass desde 2014. "Necessitamos de progressos na implementação do acordo de Minsk”, afirmou, em referência ao processo de paz que ficou em suspenso após Ucrânia e Rússia se acusarem mutuamente de violações.

Gasoduto como "arma política"

Um dos pontos mais controversos da relação bilateral diz respeito ao gasoduto russo Nord Stream 2, construído para transportar gás natural desde o território russo, através do mar Báltico, até a Alemanha. Apesar de a obra ter sido completada recentemente, a agência reguladora do setor de energia da Alemanha ainda não aprovou o projeto.

Em Kiev, a ministra alemã afirmara que o funcionamento do gasoduto está em suspenso por não estar de acordo com as leis europeias de energia.

A iniciativa, orçada em 10 bilhões de euros, sofreu uma série de reveses e atrasos, além de se tornar o centro de uma disputa política. A Ucrânia e os Estados Unidos, ambos críticos ao gasoduto, afirmam que isso criará uma dependência energética da Europa para com a Rússia. Além disso, Moscou poderia usar o fornecimento de gás como um mecanismo de pressão política.

"A Alemanha já reiterou que, caso a energia seja utilizada como arma, isso terá consequências sobre o gasoduto”, afirmou a ministra. "Não teremos outra opção, mesmo que venhamos a pagar um alto custo econômico."

Já o primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, sinalizou também nesta terça-feira que a Alemanha pode considerar suspender o gasoduto se a Rússia invadir a Ucrânia, num momento em que aumenta a pressão sobre seu governo de adotar uma postura mais resoluta em relação ao Kremlin. Ele se encontrou com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, depois que diálogos entre a Rússia e países ocidentais sobre o deslocamento de tropas do Kremlin à fronteira com a Ucrânia terminaram sem solução.

No interior do governo alemão, Annalena Baerbock é conhecida por sua posição contrária ao gasoduto.

Lavrov, por sua vez, alertou Baerbock contra a politização do gasoduto. "Chamamos a atenção dos nossos colegas alemães para as tentativas contraproducentes de politizar esse projeto", reiterou.

Ele também disse que o Kremlin não retomaria as negociações sobre a Ucrânia se a Otan não atender às demandas russas, como uma proibição permanente de Kiev de integrar a Aliança Atlântica.

rc/rk (dpa, Reuters, AFP)