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Alemanha investiga atentado de Madri

Neusa Soliz26 de março de 2004

Dois marroquinos suspeitos de participarem dos atentados de Madri viviam na Alemanha e estavam sendo observados pelo serviço secreto. União Européia aprova pacote de medidas de combate ao terrorismo.

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Ministra do Exterior da Espanha, Ana Palacio, no encontro de cúpula da UEFoto: AP

A Procuradoria Geral da República assumiu as investigações sobre suspeitos de envolvimento nos atentados terroristas de Madri que viviam na Alemanha. Na noite de quinta-feira (25), a polícia e a promotoria revistaram o apartamento de um suspeito em Darmstadt, perto de Frankfurt. Ele pertencia a uma pessoa presa na quarta-feira (24) na Espanha.

Participaram eles do planejamento?

Trata-se provavelmente de um marroquino nascido em 1975, segundo apurou o jornal Süddeutsche Zeitung. Para as autoridades alemãs de segurança, ainda não está claro se ele realmente participou do planejamento dos atentados na capital espanhola. A única certeza é que ele estava matriculado em Darmstadt como estudante de Engenharia Elétrica. Daí ser muito cedo para se afirmar que uma pista dos atentados de Madri leva realmente à Alemanha.

O Ministério espanhol do Interior confirmou a prisão de três marroquinos na quarta-feira em Ugena, a 35 quilômetros da capital. No dia seguinte, foram detidas mais duas pessoas na região da grande Madri. Com essas prisões, elevou-se a 18 o número de suspeitos detidos. Contra 11 deles foi expedido mandado de prisão.

O serviço secreto e a base terrorista na Alemanha

Um segundo suspeito, que vivia na Alemanha, mantinha estreitos contatos com uma mesquita em Frankfurt, informou o especialista em terrorismo Udo Ulfkotte, em entrevista a uma emissora local. O serviço secreto teria conhecimento, há bastante tempo, de que se tratava de um extremista islâmico, estando sob observação, bem como a mesquita em questão.

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Polícia realiza busca no prédio de uma organização islâmica em StuttgartFoto: AP

O canal de televisão n-tv foi o primeiro a informar que os dois marroquinos viviam legalmente na Alemanha e haviam sido classificados pelas autoridades de segurança como extremistas, potencialmente capazes de atos terroristas.

Na Alemanha, haveria 270 adeptos de Bin Laden, informa o semanário Der Spiegel em sua última edição, que traz "A base da Al Qaeda na Alemanha" como matéria de capa. As estimativas são do serviço secreto, que considera todos eles fanáticos religiosos de alta periculosidade. O egípcio naturalizado alemão Reda Seyam seria um dos agentes mais importantes da Al Qaeda na Europa.

"A Alemanha tem sido há anos um refúgio e uma área de preparativos para os terroristas" afirma outro especialista, Elmat Thevessen, em declaração ao canal ZDF. "Isso porque teve uma legislação muito liberal no passado e permitiu a existência de formas de vida alternativas no interior da sociedade. Muitos muçulmanos que não têm perspectiva em seus países de origem optam por viver na Alemanha, embora não se sintam em casa aí. Ao buscarem um sentido para a sua vida, tornam-se presas fáceis para os pregadores islâmicos", analisa.

Caso seja confirmado o envolvimento e que os dois marroquinos presos na Espanha nos atentados estavam sob observação na Alemanha, o serviço secreto alemão estaria diante de uma situação muito constrangedora, ao não ter notado os preparativos.

UE acorda para o combate antiterror

Ao mesmo tempo, isso demonstra a urgência de coordenar melhor o trabalho dos serviços secretos europeus. Isso é uma das medidas no plano de combate ao terrorismo, aprovado pelos chefes de Estado e governo da União Européia em seu encontro de cúpula quinta e sexta-feira (26), em Bruxelas. Suas informações deverão ser transmitidas à Europol, a polícia européia, cujas competências serão ampliadas.

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Tony Blair (esq) e Gerhard Schröder em BruxelasFoto: AP

Após o choque das bombas em Madri, a cúpula da UE decidiu levar a sério o combate ao terrorismo, aprovando uma cláusula de solidariedade que equivale a um tratado de assistência mútua. As forças armadas dos países membros poderão entrar em ação em caso de ataque terrorista. Como a Al Qaeda estendeu uma rede terrorista mundial, deve ser combatida através de medidas supranacionais, diz o comunicado de Bruxelas.

Unidos contra a ameaça terrorista: as medidas

Até junho, deverão ser aprovados os pacotes de leis elaborados após o 11 de setembro de 2001, cuja implementação fracassou até agora por conflito de interesses nacionais. Eles incluem o mandado de prisão europeu, o confisco de bens de pessoas envolvidas com o terrorismo e lavagem de dinheiro, a criação de bancos de dados e equipes de investigação multinacionais. Dados biométricos deverão ser incluídos nos passaportes e vistos.

O primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, exigiu a aplicação urgente das medidas: "Seu objetivo é terrorizar os terroristas. E isso não se faz declamando poesias. Temos que usar todos os meios de que a UE dispõe para combatê-los. É um grande desafio encontrar um meio termo entre a segurança coletiva e a liberdade individual", precisou.

Quem irá controlar a implementação dessas leis sempre adiadas é o novo coordenador de combate ao terrorismo, o holandês Gijs de Vries. Alguns chefes de Estado temem que se esteja criando mais um cargo burocrático. Muito mais importante, segundo eles, seria querer mudar as coisas realmente, aprovando as leis.

A existência de um novo inimigo comum - o terrorismo - está unindo a Europa, que na era da Guerra Fria cerrou fileiras contra o comunismo, observam alguns analistas alemães. O pacote de segurança não chega tarde demais, mas atrasado: a UE pagou caro - com 190 mortos e cerca de 1500 feridos na Espanha - a morosidade dos seus processos de decisão.