Alemanha investiga ligação de ataque em trem com EI
19 de julho de 2016As autoridades alemãs investigam nesta terça-feira (19/07) a ligação entre um adolescente afegão de 17 anos, que atacou a machadadas e facadas passageiros de um trem na Baviera, e o "Estado Islâmico". Até agora, porém, se limitaram a classificar o atentado, que deixou cinco feridos, como uma ação de motivação "política" e "religiosa islâmica", evitando o termo terrorismo.
A cautela se dá apesar de o "Estado Islâmico" ter reivindicado a autoria do atentado; ter divulgado um vídeo com imagens do que seria o jovem fazendo ameaças; e de uma bandeira da organização jihadista ter sido encontrada em seu quarto, junto a um papel escrito em pachto, parte em alfabeto árabe e parte no alfabeto latino, que pode ser uma carta de despedida. Esses objetos podem indicar que o jovem se radicalizou em curto espaço de tempo e por conta própria.
O fato de o jovem ter entrado na Alemanha como refugiado, vindo do Afeganistão, tem potencial para inflamar o debate sobre as políticas migratórias do governo Angela Merkel. Cerca de 1,5 milhão de pessoas pediram asilo no país no último ano e meio, e críticos veem riscos à segurança da Alemanha.
Gritos em árabe na hora do ataque
Segundo o investigador-chefe da promotoria de Bamberg, Erik Ohlenschlager, o ataque ao trem regional em Würzburg, na noite anterior, teve motivações políticas.
Ohlenschlager confirmou que o agressor gritou "Allahu akbar" (Deus é grande, em árabe) ao menos três vezes durante o atentado, e um delas foi gravada pela polícia durante uma ligação de emergência feita por uma testemunha.
Ele acrescentou que não há indícios de ligação do agressor com a milícia terrorista "Estado Islâmico", mas que ele certamente simpatizava com o grupo, como comprova a bandeira pintada a mão encontrada no quarto do jovem.
Segundo o investigador, o agressor queria se vingar do que infiéis fizeram a ele a seus "irmãos de fé". Por isso, ele teria embarcado no trem com a intenção de matar pessoas, ciente de que poderia perder a própria vida durante a ação.
No sábado passado, o agressor teria ficado sabendo que um amigo dele no Afeganistão morrera. Segundo o investigador, o jovem afegão era um muçulmano crente, que não havia despertado suspeitas de radicalização.
O investigador Lothar Köhler disse que a morte do amigo causou um profundo impacto no agressor, segundo o relato de testemunhas, e nos últimos dias ele telefonou várias vezes com pessoas ainda desconhecidas.
O agressor avançou sobre suas vítimas de forma virulenta, desferindo golpes no corpo e na cabeça, disse Ohlenschlager.
Conhecidos o descreveram como um muçulmano crente, sem aparência de fanático ou radical, disse o secretário. O jovem afegão seria uma pessoa calma e equilibrada, segundo as primeiras descrições. Ele frequentaria a mesquita principalmente em feriados religiosos.
O jovem chegou à Alemanha havia dois anos e recebeu refúgio como menor desacompanhado. Ele morou durante um tempo num abrigo em Ochsenfurt e, nas últimas semanas, morava com uma família.
Vítimas de Hong Kong
Quatro dos cinco feridos no ataque são de Hong Kong, afirmou o chefe de governo da região administrativa chinesa, Leung Chun-Ying, nesta terça-feira. Membros da representação comercial de Hong Kong em Berlim visitaram as vítimas no hospital de Würzburg, na Baviera, onde ocorreu o ataque.
Segundo o jornal South China Morning Post, trata-se de uma família e um amigo dela. Os quatro feridos são o pai, de 62 anos, a mãe, de 58, a filha, de 27, e o namorado dela, de 31 anos. Um quinto membro do grupo, o filho de 17 anos, escapou ileso. Segundo o jornal, o pai e o namorado da filha tentaram proteger o grupo do ataque.
Uma mulher de identidade não revelada foi ferida pelo agressor no momento em que este deixava o trem, disseram autoridades.
Herrmann disse que a família de Hong Kong deve ter se tornado alvo do ataque por acaso. Segundo ele, uma das vítimas continua internada em estado grave e corre risco de vida. Horas antes ele havia dito que dois feridos no ataque ainda corriam risco de vida, sem especificar quais seriam.
Perseguição e morte
O ataque aconteceu na noite de segunda-feira. Com uma faca e um machado, o jovem afegão atacou passageiros de um trem regional, deixando ao menos cinco feridos, e foi morto por policiais durante a fuga.
O ataque ocorreu pouco antes de o trem chegar a Würzburg. Além dos cinco feridos, 14 pessoas ficaram em estado de choque.
Segundo os investigadores, havia de 25 a 30 pessoas no trem no momento do ataque. O agressor fugiu pouco antes da chegada a Würzburg, quando o sistema de freios de emergência parou a locomotiva.
Herrmann disse que um comando especial da polícia estava por acaso na região, atendendo a uma outra ocorrência, e iniciou a perseguição do agressor. Este teria atacado os policiais, que revidaram e o mataram a tiros, disse o secretário.
AS/afp/dpa/rtr