Alemanha medeia processo de guerra ou paz
4 de fevereiro de 2003O mestre de cerimônia da decisão política das Nações Unidos poderá ser o embaixador alemão na ONU, Günter Pleuger, pois em função do aumento das pressões dos Estados Unidos sobre o grêmio máximo das Nações Unidas é provável que o processo sobre guerra ou paz seja decidido durante a presidência alemã. O diplomata Pleuger, de 61 anos de idade, vai presidir a reunião decisiva, na quarta-feira (5), na qual o secretário de Estado americano, Colin Powell, pretende apresentar novas provas de que o Iraque não cumpriu a resolução 1441 que determinou a eliminação de suas armas de destruição e programas bélicos, como o presidente dos EUA, George W. Bush, anunciou em seu pronunciamento à Nação.
Presidência é só mediação
Berlim é terminantemente contra uma ação militar isolada dos EUA para desarmar o Iraque e derrubar o seu presidente Saddam Hussein. É igualmente contra a legitimação de uma guerra pela ONU. Mas, como presidente do Conselho de Segurança, não pode influenciar uma decisão contra uma resolução que autorize um ataque militar no Iraque pelos EUA e seu aliado incondicional – a Grã-Bretanha.
Ao contrário dos dois aliados, além da França, China e Rússia, a Alemanha não pode vetar uma decisão no Conselho, porque não é membro permanente. O país assumiu no primeiro dia de 2003 como membro temporário, por dois anos, sem direito a veto. O Conselho aprovou a resolução 1441, por unanimidade, em novembro de 2002, ameaçando Bagdá com sérias conseqüências, caso não coopere com os inspetores de armas da ONU. Mas agora, após o relatório sobre os primeiros 60 dias de inspeções, o grêmio está dividido.
Estreito espaço de manobra
Washington e Londres enfrentam dura resistência com a sua exigência para que os inspetores encerrem rápido seus trabalhos, sobretudo por parte de Berlim e Paris. A posição de Schröder, contra uma guerra e a favor de que os inspetores devem ter o tempo que acharem necessário para procurar armas ilegais no Iraque, estreitou o espaço de manobra de seus diplomatas em Nova York. De forma que, na presidência do Conselho de Segurança nas próximas quatro semanas, eles terão que se equilibrar entre o papel de mediadores e o de defensores dos interesses nacionais.
O ministro alemão das Relações Exteriores, Joschka Fischer, também terá de praticar um certo equilíbrio na reunião de quarta-feira em Nova York. Na roda de ministros, Fischer servirá de mediador. Para a imprensa, ao contrário, será o advogado da posição oficial alemã contra uma guerra, com ou sem mandato da ONU.
O processo permanecerá em aberto, independente da força de persuasão do material de Powell. Pois, para o presidente Bush, uma resolução do Conselho de Segurança da ONU seria "desejável", mas não indispensável para uma intervenção militar no Iraque, a fim de garantir "a segurança interna americana e paz no mundo", como disse em seu pronunciamento à Nação.
Alemães optariam por abstenção?
Diplomatas acham provável que a Casa Branca dispense uma nova resolução, no caso de se delinear uma maioria fraca em seu favor, pois gostaria de uma aprovação unânime, como a de novembro passado. A luta continua e os mediadores têm uma tarefa espinhosa. O direito de veto da França ainda poderá ser a favor dos Estados Unidos, pois o presidente Jacques Chirac apoiou o discurso pacifista de Schröder, mas não fechou totalmente a porta para o curso belicista de Bush.
Se Paris escancarar essa porta, uma nova resolução empurraria Berlim para a defensiva. Por isso, diplomatas especulam a hipótese de a diplomacia alemã optar por uma abstenção como saída. Se a votação for ainda em fevereiro, o papel alemão de mediador serviria como justificativa para uma renúncia ao não anunciado por Schröder.
"Não esperem de nós a aprovação de uma resolução que legitime a guerra", disse o chefe de governo alemão, na véspera dos 40 anos do tratado de amizade entre Alemanha e França. Durante as comemorações, em 22 de janeiro, Chirac anunciou que os dois países tinham a mesma posição na questão do Iraque.