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Alemanha poderá ter escolas turcas em breve

11 de janeiro de 2020

Existem três escolas alemãs na Turquia, e agora o governo turco quer abrir instituições educacionais turcas na Alemanha. As negociações estão em andamento há meio ano, sob críticas e olhar desconfiado da política.

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Bandeiras de Turquia e Alemanha na entrada de uma escola internacional alemã em Istambul
Escolas internacionais alemãs na Turquia têm sofrido com barreiras legais e fechamentos temporáriosFoto: Getty Images/AFP/O. Kose

Para a Alemanha, negociar um acordo educacional com outro país não é nada extraordinário. Entretanto, essa percepção parece se transformar quando se trata de uma possível parceria com a Turquia.

Existem 140 escolas alemãs reconhecidas no exterior. Em todo o mundo, alunos destas instituições de ensino podem adquirir diplomas domésticos, internacionais e alemães. Em troca, outros países também mantêm escolas internacionais na Alemanha.

A Alemanha mantém acordos educacionais desta natureza com mais de 20 países. As escolas internacionais são particularmente importantes para os filhos de diplomatas, que recebem uma educação regular e contínua, apesar das frequentes mudanças de país.

Também na Turquia existem escolas internacionais alemãs. São três: em Ancara, Istambul e Izmir. A instituição em Izmir foi temporariamente fechada pelo governo turco em 2018. Justificação: não há base legal para a escola. Para mudar isso, o governo alemão tem negociado com a Turquia desde meados de 2019.

As discussões caminham para um "acordo de reciprocidade", segundo o porta-voz do Ministério alemão do Exterior, Rainer Breul. "Nosso grande interesse é que as escolas alemãs na Turquia obtenham base legal para seu trabalho", afirmou.

Consequentemente, a Turquia também teria o direito de abrir oficialmente escolas internacionais na Alemanha. De fato, já existem planos para que isso venha a ocorrer em Berlim, Colônia e Frankfurt, cidades onde vivem muitos turcos e alemães de descendência turca.

Escola alemã Lisesi, em Istambul
Ex-primeiros-ministros turcos Yilmaz, Erbakan e Davutoglu estudaram na escola alemã Lisesi, em IstambulFoto: picture-alliance/dpa/L.Say

Estados alemães têm poder de decisão

Um esboço do projeto já foi enviado aos governos dos estados alemães onde estas cidades estão situadas. Na Alemanha, a política escolar cabe exclusivamente aos estados. Seus secretários de Educação estão unidos pela aliança Conferência dos Secretários da Cultura (Kultusministerkonferenz, em alemão). Há decisões que são tomadas de forma conjunta, mas cada estado da Alemanha possui sua própria legislação escolar.

Fato é que a Turquia – assim como os outros países – não pode se apresentar como o órgão administrador das escolas. Este papel tem que ser assumido por associações privadas. No entanto, há o caso do instituto educacional turco-alemão TÜDESB.

A associação existe há 25 anos e possui laços próximos com a rede do polêmico clérigo turco Fethullah Gülen, que administra escolas e um jardim de infância em Berlim. O líder religioso é um dos maiores desafetos do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

As chamadas escolas substitutas podem escolher seus próprios métodos de ensino e contratar funcionários, mas devem aderir ao que é ensinado nas escolas públicas de cada país quando se trata do conteúdo de aprendizagem.

"Nunca seria um espaço onde se poderia ensinar coisas que não estão em concordância com os nossos valores", disse o ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, numa entrevista televisa sobre as negociações com Ancara. "Privilégios não são concedidos", acrescentou o porta-voz Breul.

Mas é exatamente isso que muitos políticos temem. Sevim Dagdelen, membro da facção parlamentar do partido A Esquerda no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) e presidente do grupo parlamentar alemão-turco, acusa o presidente Erdogan, por querer polarizar e dividir a sociedade alemã.

"Suas escolas são venenosas para a integração e para a democracia", disse Dagdelen. Ele diz que não consegue entender por que o governo alemão está mantendo conversações com a Turquia, levando-se em conta a atual situação política no país. "É fatal que o governo alemão esteja negociando com Erdogan a abertura de escolas particulares na Alemanha, enquanto o autocrata turco conduz os críticos intelectuais de seu país a prisões ou ao exílio."

Críticas às negociações ecoaram também a partir do grupo parlamentar da legenda populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD). O porta-voz de política educacional do partido, Götz Frömming, disse que o estabelecimento de escolas privadas turcas na Alemanha "promove a islamização do sistema educacional alemão". Segundo afirma, o governo alemão estaria entrando numa "negociata duvidosa com Ancara" para impedir o fechamento de escolas alemãs na Turquia.

Aluna durante aula de turco na escola primária TÜDESB, em Berlim
Escola primária do instituto educacional turco-alemão TÜDESB, localizada em Berlim, oferece aulas de turcoFoto: Getty Images/A. Rentz

Impedir a segregação da sociedade

"De qualquer forma, deve-se garantir que as escolas permaneçam livres de qualquer influência ideológica e política do Estado turco", disse Thorsten Frei, vice-presidente da bancada da União Democrata Cristã (CDU) e sua tradicional parceira, a União Social Cristã (CSU), no Bundestag.

As escolas são de suma importância para uma integração bem-sucedida. "Por isso, precisamos tomar um cuidado especial para garantir que na educação de crianças e jovens não ocorra uma segregação de nossa sociedade aberta e livre", afirmou Frei.

Em sua opinião, o estabelecimento de escolas internacionais turcas não deve se transformar na elaboração de um sistema escolar paralelo na Alemanha.

"A Alemanha opera menos de um punhado de escolas na Turquia, algumas das quais servem a um propósito muito específico, sob a orientação de nossa equipe da embaixada. E nada além disso deve ser permitido na Alemanha."

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