Alemanha precisa de mais engenheiros
19 de fevereiro de 2006Christoph Meilgen teve que enfrentar cartas de rejeição similares àquelas recebidas pelos cinco milhões de desempregados na Alemanha, mas seu doutorado em engenharia mecânica o ajudou a conseguir uma posição a qual muitos desempregados aspiram: poder rejeitar duas ofertas e persistir pela que queria.
"As companhias estão em busca de conhecimentos práticos e técnicos além daqueles aprendidos na escola", afirma Meilgen, que conseguiu uma posição na empresa de testes de materiais LVQ-WP, na região industrial do Ruhr, no oeste da Alemanha, depois de defender sua tese na Universidade Técnica de Kaiserslautern neste mês. "Mas há necessidade de engenheiros, você não precisa aceitar qualquer oferta."
A posição de Meligen não é nada incomum para os recém-graduados em engenharia. Setenta e três por cento das empresas alemãs de médio porte dizem que encontrar empregados qualificados será tarefa prioritária nos próximos cinco anos, segundo uma apuração feita em fevereiro pela TNS Infratest.
A posição da Alemanha como líder em tecnologia pode estar em perigo se as companhias não forem capazes de encontrar novos talentos, afirma Michael Schwartz, porta-voz da Associação Alemã de Engenheiros (VDI).
"Atualmente a Alemanha possui uma carência de 15 mil engenheiros, 11.500 deles em empresas de pequeno e médio porte", disse ele. "As dificuldades que muitas companhias de pesquisa e desenvolvimento estão tendo em preencher vagas poderiam prejudicar ou mesmo parar com inovações."
Programa encoraja mais estudantes a "fazer coisas"
Após ver o número de estudantes que ingressam no campo da engenharia cair 12% desde uma alta de 87.542 em 2003, a VDI, junto com um grupo de 44 parceiros, incluindo a Deutsche Welle como parceira de mídia, decidiu começar uma iniciativa chamada Sachen machen (Fazer coisas).
Financiado pela VDI e seus parceiros, o programa, anunciado para durar ao menos cinco anos, tem como objetivo fazer da Alemanha o "lar" de novas tecnologias por volta de 2015, chegando a ser o líder mundial per capita em graduações em matemática, técnicas, TI e ciências naturais; empregados em pesquisa e desenvolvimento; gastos em pesquisa e registros de patentes.
"Nós não podemos nos permitir não ser bem-sucedidos", disse Schwarz, referindo-se à meta do programa de aumentar o interesse pelo campo técnico entre os estudantes e otimizar a cooperação entre a ciência e empresas. "Se não houver ninguém para preencher as posições no futuro, não será possível oferecer produtos e serviços."
Há os que não conseguem encontrar emprego
Este é um argumento que 64 mil engenheiros alemães desempregados não compreendem. Há vários fatores impedindo que esses engenheiros consigam um emprego, segundo Beate Raabe, da Agência Federal de Trabalho.
"Muitos desses desempregados têm acima de 50 anos de idade e algumas companhias têm a preconcepção de que eles não estão suficientemente atualizados", explicou ela em uma entrevista concedida ao jornal Münchner Merkur.
Enquanto companhias estão à procura de engenheiros mecânicos e engenheiros elétricos, o mercado para arquitetos e engenheiros civis está saturado, segundo Schwarz.
Empregos afetam mais do que apenas engenheiros
Aqueles que obtêm um emprego geralmente conseguem salários acima da média. Apesar de o recém-graduado Meilgen ter-se recusado a dizer quanto ganharia em seu novo emprego, os salários iniciais costumam estar entre 30 mil e 45 mil euros por ano. Quem já tem mais experiência geralmente recebe uma média de 65 mil euros ao ano, segundo as estatísticas do VDI. Em 2003, o mais recente ano registrado, a média salarial anual dos alemães foi de 26.700 euros, de acordo com Agência Federal de Estatísticas.
Se as vagas abertas para engenheiros fossem preenchidas, os benefícios sociais decorrentes poderiam dar um impulso à economia alemã e ao mercado de trabalho, acrescentou Schwarz.
Com seus salários e poder aquisitivo acima da média, os engenheiros recém-empregados têm o potencial de criar 2,3 postos de trabalho adicionais em outros campos, inclusive produção e varejo, resultando teoricamente em 35 mil novos empregos, se as estimativas da VDI de 15 mil vagas para engenheiros fossem preenchidas.
Alemães são céticos quanto a inovações Made in Germany
Além de preencher vagas de trabalho, uma das mais difíceis tarefas da Sachen machen será convencer os alemães das habilidades de seu país, o que muitos outros países já reconhecem.
Apesar de ter registrado mais patentes do que qualquer outro país europeu, uma pesquisa feita em 2004 pela VDI mostrou que apenas 6% dos alemães acham sua terra natal a mais inovadora. O Japão e os Estados Unidos marcam respectivamente 40% e 21%.
Internacionalmente, no entanto, engenheiros alemães continuam gozando de reputação positiva graças a marcas como Mercedes, Zeiss e Siemens. Um estudo de 2005 feito pela Enst & Young apontou que 28% das companhias internacionais pesquisadas consideram os empregados alemães os mais qualificados da Europa.
"Nós não podemos ser mais baratos que os trabalhadores na China, Índia ou Leste Europeu, mas nós podemos ser melhores", disse Sepp Heckmann, o presidente da Deutsche Messe, na conferência de imprensa na abertura da Sanchen machen no início de fevereiro. "Esta é a nossa chance".