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Alemanha prepara a Copa da reunificação

(na / gh)24 de outubro de 2005

Quinze anos após a reunificação, o país-sede do próximo Mundial ainda luta contra o abismo entre o futebol jogado no Leste e Oeste.

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Mundial de 1974: Alemanha Oriental 1 x 0 Alemanha OcidentalFoto: AP

A Alemanha prepara-se para mostrar a milhões de torcedores e turistas de todo o mundo, durante a Copa 2006, não só um show de organização e futebol, mas também um país realmente reunificado, após a queda do Muro de Berlim em 1989.

A festa das torcidas nos estádios, porém, não poderá esconder as diferenças ainda persistentes das décadas de divisão. Sobretudo no futebol, o desequilíbrio entre o Leste e o Oeste do país ainda é profundo.

Bundesliga ocidental

Bundesliga 2003 Vereinslogos F.C. Hansa Rostock e.V.
Brasão do Hansa Rostock: último clube da ex-RDA na Bundesliga 2004/2005

Um exemplo disso é a atual temporada da Bundesliga. Pela primeira vez nos últimos 15 anos, o Campeonato Alemão da Primeira Divisão não conta com representantes do Leste, depois que o Hansa Rostock foi rebaixado à Segunda Divisão no último certame.

Na primeira temporada pós-reunificação, em 1991, o Rostock e o Dínamo Dresden (campeão e vice do último campeonato nacional da Alemanha Oriental) foram integrados à Bundesliga. Além disso, seis clubes orientais disputaram a Segunda Divisão da Alemanha unificada, dos quais hoje restam quatro.

Êxodo de jogadores

Quando o Muro caiu, os clubes ocidentais encontraram um celeiro de craques no Leste. Times como o Dínamo Berlim (vencedor de 44 títulos nacionais da República Democrática Alemã – RDA), Dínamo Dresden, Magdeburg, Carl Zeiss Iena, Lokomotiv Leipzig, Hansa Rostock, União Berlim e Chemnitz eram potências do futebol do bloco socialista.

Mas não demorou, porém, para entrarem em decadência, devido aos problemas econômicos que atingiram todos o setores do Leste, e principalmente por causa do êxodo em massa de jogadores. Calcula-se que cerca de 500 craques migraram para o Oeste. Em meados dos anos 90, os ossis (como são chamados ainda hoje os habitantes da ex-RDA) formavam a base da seleção alemã.

Matthias Sammer
Matthias Sammer (d) foi o primeiro jogador do Leste a atuar na seleção alemã unificadaFoto: AP

Mathias Sammer, Ulf Kirsten, Jens Jeremies, Carsten Janker, Alexander Zikler e outros nomes oriundos da "linha de produção da RDA" – marcada por intensos treinos técnicos e físicos – não tiveram problemas para se integrar à equipe nacional da Alemanha unificada.

E a atual seleção, comandada por Jürgen Klinsmann, simplesmente desmorona quando falta o capitão oriental Michael Ballack. Embora o jogador do Bayern de Munique não faça questão de dizer que vem do Leste, como é o caso, por exemplo, do treinador do Hamburgo, Thomas Doll.

Reconstrução do futebol do Leste

Doll, Kirsten, Sammer e Andreas Thom criaram um "círculo" de ex-jogadores do Leste para tentar melhorar a situação dos clubes da região. O assunto também é discutido pela Federação Alemã de Futebol (DFB), que já facilitou a ascensão dos clubes amadores do Leste às divisões profissionais. A entidade, porém, resiste a dar uma injeção financeira aos clubes orientais, temendo reclamações dos times ocidentais.

Depois do rebaixamento do Rostock, o presidente do Comitê Organizador (CO) da Copa do Mundo, Franz Beckenbauer, chegou a sugerir a ampliação da Bundesliga de 18 para 20 clubes, abrindo duas vagas para o Leste. A idéia é discutida com tanta cautela pelos cartolas da DFB e da Liga Alemã de Futebol que sua concretização é pouco provável.

Diferença histórica

As cicatrizes deixadas pela geopolítica da Guerra Fria, ainda visíveis nos diferentes setores da sociedade alemã, parecem até ser mais marcantes no futebol. Das 12 cidades-sedes da Copa 2006, apenas Leipzig situa-se em território que foi da Alemanha Oriental. O Estádio Olímpico de Berlim, onde será disputada a final em 9 de julho de 2006, fica no lado Oeste.

Isso, certamente, não impedirá que os ossis torçam pela seleção alemã. Pelo menos Leipzig pode gerar até uma certa nostalgia dos tempos de glória do futebol alemão oriental. De 1952 a 1990, a equipe da RDA disputou 293 partidas, das quais ganhou 138, empatou 69 e perdeu 86.

Sua fase mais forte foi em meados da década de 70, quando se classificou pela única vez para uma Copa do Mundo. A maior conquista da equipe foi a vitória de 1 a 0 sobre a Alemanha Ocidental na fase preliminar do Mundial de 1974, fato que foi mais festejado do que a medalha de ouro na Olimpíada de Montreal em 1976.

A Alemanha pós-Muro une forças para organizar uma supercopa da reunificação. Em campo, porém, a fusão do futebol oriental com o ocidental – tricampeão mundial (1954, 1974 e 1990) – ainda não gerou a esperada seleção imbatível. Muito pelo contrário: 15 anos após a reunificação, a Alemanha luta contra o abismo persistente entre o futebol jogado nas duas partes de seu território, e sua seleção para a próxima Copa ainda é uma incógnita.