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Alemanha pretende ser o motor da Rio + 10

(sv)27 de agosto de 2002

A delegação alemã na Conferência da ONU, em Johanesburgo, voa à África do Sul “livre de dióxido de carbono”.

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Acesso à água potável e combate à pobreza são alguns dos tópicos discutidos em JohanesburgoFoto: AP

Em média, cada membro da delegação da Alemanha enviada a Johanesburgo provoca a emissão de mais de sete toneladas de dióxido de carbono. O preço da emissão de cada tonelada, segundo as regras do Protocolo de Kyoto, é de oito euros. Logo, para cada delegado alemão deverá ser contado um total de 57 euros. "Isso representa o custo, até hoje não calculado, do nosso estilo de vida ocidental", explica o ministro alemão do Meio Ambiente, Jürgen Trittin.

A viagem da equipe até à África do Sul, além do transporte local e da energia gasta durante a Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, deverão causar danos à atmosfera equivalentes a um total de 1.280 toneladas de dióxido de carbono. Essas emissões custam, ainda seguindo os parâmetros de Kyoto, dez mil euros.

Desenvolvimento Limpo

O total em dinheiro, equivalente às emissões da delegação alemã, deverá ser investido em um programa de construção de casas na África do Sul, mantidas apenas por energias alternativas, como solar ou eólica. A decisão de "pagar" assim a participação na Rio + 10, acatada pelo Ministério alemão do Meio Ambiente, é uma sugestão da ONU aos participantes. "Isso é o que se chama de clean development mechanism (mecanismo de desenvolvimento limpo) e segue exatamente as diretrizes do Protocolo de Kyoto", observa Trittin.

Famílias sul-africanas de classe baixa ganham, através deste programa, empréstimos, para que possam financiar o acesso a formas de energia alternativas. Assim, essas famílias não só poupam os custos de energia convencional, como reduzem as emissões de dióxido de carbono, por casa, em 250 quilos por ano. "O que emitimos com a viagem a Johanesburgo, vamos poupar através do projeto na África do Sul", acentua o ministro.

Posição Alemã

Ambientalistas do país apostam na força da delegação alemã em Johanesburgo, liderada pelo verde Trittin e pela ministra da Cooperação Econômica, Heidemarie Wieczorek-Zeul. Também para Klaus Töpfer, diretor do Programa do Meio Ambiente da ONU, a Alemanha deverá assumir uma posição de liderança durante a conferência. "Foi assim no passado e eu acredito que a Alemanha fortaleceu ainda mais sua posição".

Pressão sobre os EUA

A pressão sobre o governo norte-americano deverá ser um dos principais tópicos da Rio + 10. Para a ministra alemã, a comunidade internacional deverá exigir dos EUA a ratificação do Protocolo de Kyoto, pois o país, "com seu consumo de energia, é o maior emissor de dióxido de carbono do mundo". Segundo Wieczorek-Zeul, a Alemanha já cumpriu quase todas as cláusulas do acordo de Kyoto, estando, assim, em uma posição confortável perante a comunidade internacional. "Por isso temos o direito de criticar os que ainda estão atrasados", comenta a ministra.

Pequenos e grandes pecadores

Outro ponto na pauta da delegação alemã em Johanesburgo deverá ser a abertura dos mercados por parte das nações industrializadas. "Também aí existem grandes e pequenos pecadores, mas de modo geral os países industrializados ainda são muito restritivos", afirma Wieczorek-Zeul. Relações comerciais mais justas e melhores chances de exportação são, para a ministra social-democrata, as premissas básicas no combate à pobreza.

Representantes do governo alemão afirmam esperar de Johanesburgo uma conferência de menos retórica e mais ação, que culmine na implantação de programas que facilitem o acesso de populações carentes à água potável e a fontes de energia renováveis. "Queremos nos mover das palavras para os atos", afirmou nesta segunda-feira (26) Carsten Staur, secretário-geral dinamarquês, em nome da União Européia.

Prioridades européias

Segundo Staur, as prioridades máximas da UE são reduzir o atual número de pessoas sem acesso a instalações sanitárias – hoje em torno de 2,4 bilhões – até o ano de 2015. Essa seria uma medida complementar ao objetivo da última conferência de 2000, realizada em Bonn, na Alemanha, que estipulou a meta de reduzir, nos próximos 15 anos, à metade o número de pessoas sem acesso à água potável em todo o mundo, estimado hoje em 1,2 bilhão de pessoas.

Organizações não-governamentais (ONGs) exigiram da UE a abertura de mercados à entrada de produtos dos países do Terceiro Mundo, com a redução gradual de taxas alfandegárias. Além disso, ONGs alemãs ressaltaram a necessidade de a UE exercer um papel de mediador na busca de acordos internacionais, com o objetivo de evitar o perigo crescente de catástrofes ambientais.