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Alemanha suspende uso da vacina de Oxford

15 de março de 2021

Seguindo a decisão de outros países europeus, Ministério da Saúde alemão anuncia interrupção da aplicação do imunizante da AstraZeneca após relatos de coágulos. Fabricante nega relação, e OMS não vê motivo para alarde.

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Symbolbild Injektionsflasche mit Spritze AstraZeneca
Foto: Christian Ohde/CHROMORANGE/picture alliance

O governo federal da Alemanha anunciou nesta segunda-feira (15/03) que seguirá a decisão tomada por outros países europeus e suspenderá o uso da vacina contra covid-19 desenvolvida pelo laboratório AstraZeneca com a Universidade de Oxford, após relatos de algumas pessoas vacinadas que desenvolveram coágulos no sangue, que podem provocar trombose ou embolia pulmonar.

O Ministério da Saúde alemão informou que a decisão se baseava em uma recomendação do Instituto Paul Ehrlich (PEI, na sigla em alemão), responsável pela regulação e aprovação de medicamentos no país.

"Depois de novos relatos de tromboses em vasos sanguíneos no cérebro em conexão com a vacinação na Alemanha e na Europa, o PEI considera que uma investigação mais aprofundada é necessária", disse a pasta. "A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) irá decidir se e como os novos achados afetarão a aprovação da vacina", acrescentou.

Mais cedo nesta segunda, Markus Söder, presidente do partido CSU, havia dito que era necessário haver um “anuncio muito claro” de especialistas alemães sobre se a vacina era “boa ou ruim”.

Logo depois do anúncio da Alemanha, França, Itália e Espanha também informaram que estavam suspendendo o uso da vacina de Oxford de forma cautelar, juntando-se a uma crescente lista de países europeus que suspenderam nos últimos dias o uso do imunizanze, apesar dos atrasos nos programas de vacinação contra a covid-19.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), a fabricante AstraZeneca, o governo britânico e a Universidade de Oxford afirmam não haver até o momento indicação de uma relação entre a vacina e os casos relatados ou de aumento de registros de coágulo sanguíneo em relação à média histórica.

Na sexta-feira, a OMS afirmou que "não há razão para deixar de usar" a vacina de Oxford contra a covid-19. A declaração foi dada pela porta-voz da agência em Genebra, a médica Margaret Harris. Ela disse que os países devem “continuar a utilizar a vacina da AstraZeneca” e que qualquer preocupação com segurança deve ser investigada, mas, no momento, não existem razões para suspender a aplicação das doses.

A vacina da AstraZeneca foi aprovada para uso na União Europeia no final de janeiro, porém vem enfrentando algumas dificuldades. Inicialmente, houve dúvidas sobre sua eficácia em pessoas com 65 anos ou mais, depois sanadas com a divulgação de um novo conjunto de dados de ensaios clínicos. O bloco comprou 400 milhões de doses da vacina, mas a farmacêutica foi forçada a reduzir as entregas previstas devido a problemas de produção.

Suspensão do uso

Os problemas mais recentes com a vacina de Oxford começaram na semana passada. Na quinta-feira, autoridades de saúde da Dinamarca suspenderam o uso do imunizante como medida de “precaução” depois de uma mulher de 60 anos morrer por problemas sanguíneos após ser vacinada.

A Agência de Medicamentos da Dinamarca informou em comunicado nesta segunda que a mulher teve “sintomas muito incomuns”, incluindo baixo número de plaquetas e coágulos em vasos sanguíneos de diâmetros variados.

Outros países acompanharam a Dinamarca e também suspenderam o uso da vacina.

A Noruega, um dos primeiros países a seguir a decisão dinamarquesa, informou no sábado que três pessoas com menos de 50 anos estavam recebendo tratamento médico hospitalar com sintomas parecidos depois de terem sido vacinadas.

No domingo, a Holanda também suspendeu o uso da vacina, e na segunda-feira uma agência holandesa de medicamentos informou ter registrado dez relatos de efeitos colaterais em pessoas vacinadas que incluíam casos de possíveis coágulos sanguíneos e embolia.

A Islândia, a Irlanda e a Bulgária também suspenderam o uso do imunizante.

A Áustria parou de usar doses de um lote da AstraZeneca na semana passada depois que uma mulher morreu por trombose múltipla após ser vacinada. Estônia, Letônia, Lituânia, Luxemburgo e Romênia também suspenderam o uso do mesmo lote de 1 milhão de doses, enviadas para 17 países da UE.

Fora da Europa, a Tailândia suspendeu brevemente o uso do imunizante antes de anunciar que a vacinação seria retomada nesta terça-feira.

Na segunda-feira, autoridades de saúde da Indonésia disseram que iriam adiar o uso da vacina devido aos relatos de coágulos sanguíneos na Europa e aguardariam uma nova análise da Organização Mundial de Saúde sobre a segurança do imunizante.

A Índia já aplicou mais de 28 milhões de doses da vacina de Oxford, que é produzida no país pelo Instituto Serum com o nome Covishield. Autoridades de saúde em Nova Déli afirmaram na semana passada que fariam uma nova análise de efeitos colaterais, apesar de nenhum caso de problema devido a coágulo sanguíneo ter sido relatado no país até o momento.

AstraZeneca defende segurança da vacina

A agência de medicamentos do Reino Unido afirmou na segunda-feira que as evidências “não sugerem” que a vacina de Oxford provoca coágulos sanguíneos e pediu que as pessoas continuem a se vacinar.

Na noite de domingo, a AstraZeneca informou que não identificou risco de coágulos sanguíneos associados à sua vacina. Segundo o laboratório, uma análise cuidadosa de dados de segurança relativos a mais de 17 milhões de pessoas já vacinadas com o imunizante na União Europeia e no Reino Unido não encontraram evidências de maior risco de embolia pulmonar, trombose em vasos sanguíneos ou redução das plaquetas.

Na quinta-feira, a Agência Europeia de Medicamentos afirmou não haver indícios de que a vacina de Oxford teria provocado os casos de tromboembolismo e que o imunizante é seguro para uso.

O órgão está realizando uma investigação aprofundada e deve fazer um novo pronunciamento nesta terça-feira, e destacou que o número de casos de trombose e embolia identificados entre as pessoas que receberam a vacina não é maior do que o registrado na população em geral.

Além da vacina de Oxford, a EMA já autorizou o uso na União Europeia dos imunizantes produzidos po Pfizer-Biontech, Moderna e Johnson & Johnson.

Aposta de Bolsonaro

A vacina de Oxford foi a principal aposta feita pelo governo federal brasileiro para imunizar sua população, por meio de um acordo assinado em julho de 2020 entre a AstraZeneca e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). No mês seguinte, o presidente Jair Bolsonaro editou uma medida provisória abrindo crédito de R$ 1,9 bilhão para adquirir a tecnologia e 100 milhões de doses até meados de 2021, que seriam produzidas na Fiocruz a partir do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) importado da China.

A previsão inicial da Fiocruz era entregar 30 milhões de doses ainda em 2020, o que não se confirmou. Houve atrasos na importação do IFA, e as primeiras doses do imunizante vieram prontas da Índia e foram aplicadas em brasileiros apenas em 23 janeiro deste ano. Em seguida, um problema no equipamento da Fiocruz que coloca lacres de alumínio nas vacinas novamente atrasou o cronograma. A fundação espera entregar nesta semana o primeiro lote da vacina produzida no Brasil, com 1 milhão de doses, e em seguida elevar o ritmo de entrega.

Por esse motivo, cerca de 80% das doses de vacinas contra a covid-19 aplicadas no Brasil até agora são da chinesa Coronavac, produzida em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo, segundo cálculo da Rede Análise Covid-19. Esse imunizante foi desacreditado por Bolsonaro ao longo de 2020, que chegou a chamá-lo de “vacina chinesa de João Doria”, mas voltou atrás e em janeiro comprou 100 milhões de doses da vacina.

O governo federal já anunciou também a compra de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin e de 10 milhões de doses do imunizante russo Sputnik V, mas ambos ainda não possuem aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Autoridades brasileiras até o momento não se pronunciaram sobre possíveis casos de coágulos em conexão com a vacina de Oxford.

bl (ots, AFP, DW)