Alemanha vê onda de trabalho por pouco dinheiro
10 de maio de 2005"Pobreza apesar de emprego". Este é o nome de um estudo publicado recentemente por cientistas sociais e que reconheceu o crescimento alarmante do número de pessoas que se dividem no país entre dois ou até três empregos para pagar as contas e se alimentar.
Mais de um milhão de trabalhadores na Alemanha que estão à disposição de seus patrões no sistema full-time recebem menos da metade da média salarial nacional. Essas pessoas geralmente têm mais de um emprego, e freqüentemente sua jornada de trabalho ultrapassa as 50 horas semanais.
Dia longo
O dia para elas costuma começar às 5 horas. E, na verdade, não tem hora para terminar. Um sacrifício grande por apenas 950 euros em um mês. O suficiente para alimentar dois filhos, pagar combustível e aluguel?
Não é como Harry Dauben gostaria que fosse, mas para o entregador de jornais a resposta é 'sim'. De caixa em caixa de correio em Colônia, toda manhã e por seis dias na semana, ele sua o corpo para não entrar no rol dos desocupados.
"Eu faço exercício suficiente", diz. E com pressa, pois o dia para Dauben é curto – são 240 edições em 90 minutos. Na seqüência, ele pega seu automóvel para despachar cartas em nome de empresas privadas.
O rapaz ainda entrega pizzas à noite para complementar o orçamento, já que a tarefa de jornaleiro não lhe oferece todos os recursos financeiros necessários para sobreviver.
A vida de Jörg Hönning é tão complicada quanto a de Dauben. Ele já tem 32 anos e recebe 400 euros mensalmente para atender telefones e prestar informações, em um call center. Isso cobre apenas o aluguel do apartamento e o resto é complementado nos finais de semana, quando ele se transforma em motorista de táxi.
Com 700 ou, com sorte, até 800 euros ao mês, e mais de 50 horas de trabalho por semana, ele consegue se alimentar, ter um teto para dormir, comprar tênis baratos na internet, mas usa o dinheiro que recebe dos pais no Natal para ter um novo par de jeans.
Será?
Para o governo alemão este tipo de coisa não deveria acontecer no país. "Um emprego full-time deveria ser o suficiente para manter o trabalhador acima da linha da pobreza e ainda garantir uma forma decente de vida", diz um estudo oficial.
Isto não significa nada para o "telefonista-motorista". "A questão é aquilo de que você precisa. Eu já reduzi minhas necessidades, mas preciso de dinheiro para comer e pagar o aluguel."
Tendência
Enquanto isso, a economia alemã faz pressão para que os salários destes tipos permaneçam baixos. Economistas como Hilmar Schneider, do Instituto para o Futuro do Emprego, de Bonn, acha que os custos dos empregos adicionais precisam se manter baixos para o desenvolvimento deste setor. E que a competição dentro deste mercado deveria aumentar.
"Precisamos nos preocupar em fazer o trabalho básico se tornar novamente atraente", afirmou. "Isto não significa perigo para as pessoas altamente qualificadas ou para trabalhadores especializados em determinadas áreas."