Pesquisa: alemães têm mais medo de Trump do que da covid-19
10 de setembro de 2020Apesar da pandemia do novo coronavírus, os alemães estão tão otimistas e com tão poucos medos como não se registrava há muito tempo. O resultado surpreendeu os pesquisadores responsáveis pelo estudo, que é realizado há 28 anos em nome da seguradora R+V. No topo da lista dos temores dos alemães está o presidente dos EUA, Donald Trump.
Justamente no conturbado ano de 2020, os cidadãos alemães apresentaram o menor índice de ansiedade em décadas. Evidentemente, a maioria dos alemães usa proteção para a boca e o nariz em público e são cuidadosos, mas poucos declararam ter medo de uma infecção por coronavírus. Também por isso, o índice da média percentual dos temores dos alemães caiu de 39% para 37% – o valor mais baixo desde o início da pesquisa em 1992.
"Os alemães não estão de forma alguma reagindo em pânico à pandemia", explicou Brigitte Römstedt, chefe do centro de informações da R+V. "Muitas preocupações retraíram." Segundo ela, as pessoas estão com o sentimento de que "tudo está sob controle e podemos lidar com isso" – ao contrário de alguns anos atrás, quando o medo de guerra, terrorismo, imigração e extremismo aterrorizava os alemães.
Para o estudo, 2.400 homens e mulheres acima de 14 anos de idade foram entrevistados na Alemanha. Entre o início de junho e o final de julho, os pesquisadores perguntaram aos entrevistados sobre seus maiores temores políticos, econômicos, pessoais e ecológicos e descobriram que o surto de covid-19 no país não gerava significativas preocupações.
Somente 32% dos entrevistados (eram 35%, no ano anterior) temem uma doença grave, justamente num ano dominado pelo novo coronavírus. "Da mesma forma, apenas cerca de um em cada três entrevistados teme que ele próprio ou pessoas ao seu redor pudessem ser infectados com o coronavírus", disse Römstedt. No início do mês, a pesquisa de opinião pública Deutschlandtrend, encomendada pela emissora pública ARD, chegou a uma conclusão semelhante.
Prosperidade acima do medo da covid-19
Os alemães permanecem bastante calmos apesar do crescente número de infecções e o conhecimento de que o perigo permanecerá por um tempo. Apenas 42% dos entrevistados afirmaram temer que a globalização possa levar a uma frequência maior de pandemias.
"Em vista à rápida disseminação global do vírus, esperávamos valores mais altos aqui. De acordo com nossas descobertas, no entanto, as pessoas têm muito mais medo de que o vírus ameace sua prosperidade do que sua saúde", disse Römstedt.
A lista dos dez maiores temores dos alemães (percentual dos entrevistados que citaram determinado tópico – variação em relação à pesquisa anterior):
- Mundo mais perigoso por meio da política de Donald Trump (53%/-2)
- Aumento do custo de vida (51%/+8)
- Custos aos contribuintes ligados à crise da dívida da UE (49%/+5)
- Piora na situação econômica (48%/+13)
- Desastre naturais/Clima extremo (44%/+3)
- Tensão pela chegada de estrangeiros (43%/-12)
- Estado sobrecarregado com os refugiados (43%/-13)
- Poluentes em alimentos (42%/+0)
- Pandemias mais frequentes devido à globalização (42%/novo)
- Cuidados na velhice (41%/-4)
As mudanças climáticas ocuparam apenas a 11ª colocação na lista, com 40% dos entrevistados citando o comumente debatido tema na pesquisa.
As estimativas econômicas para 2020 seguem sombrias. Uma desaceleração é considerada certa, alguns especialistas até mencionam uma recessão profunda. De acordo com estimativas do governo federal da Alemanha, o Produto Interno bruto (PIB) deve encolher cerca de 6% neste ano.
Dados que não deixam de afetar o humor dos alemães. Os temores econômicos e uma possível perda do emprego voltaram a figurar entre os principais medos dos alemães. O medo do aumento do custo de vida, por exemplo, ocupa a segunda colocação, com 51%.
O professor e cientista político da Universidade de Heidelberg, Manfred Schmidt, que há anos aconselha a seguradora R+V na avaliação das pesquisas sobre os medos, afirma que tudo se resume à segurança financeira. "O medo de que uma segunda onda de infecções de coronavírus possa trazer outra desaceleração econômica ainda mais profunda contribui para a incerteza generalizada sobre o futuro da economia", disse Schmidt.
E, evidentemente, ainda há a questão do desemprego, que ocupa a 13ª posição na lista dos maiores temores dos alemães. Cerca de 40% dos entrevistados citaram que temem um aumento do desemprego, o que representou um aumento de 12% em relação à pesquisa anterior.
Em 3 de novembro, os americanos irão às urnas para determinar quem será o próximo presidente dos EUA. Para muitos alemães, a reeleição de Donald Trump seria terrível. O presidente americano está no topo da lista dos principais medos dos alemães, com 53%. Trump também encabeçou em 2018 o ranking da pesquisa da seguradora R+V.
Schmidt afirmou que considera "justificados" tais temores. "Com sua política externa, Trump causa repetidamente sérias complicações internacionais", disse o Schmidt. O cientista político citou como exemplos a guerra comercial com a China ou ataques contra Estados aliados como a Alemanha. "Os EUA estão se retirando da cooperação internacional."
Medo de imigração registra maior queda
A pesquisa aponta ainda que questões políticas que antes causavam grandes temores entre os alemães perderam em relevância. As preocupações com a imigração foram as que registraram as maiores quedas. Após um declínio de mais de dez pontos percentuais, elas estão no nível mais baixo em cinco anos. Em 2020, 43% dos entrevistados disseram temer que o influxo adicional de estrangeiros levasse a tensões entre alemães e estrangeiros residentes na Alemanha (55%, no ano anterior) e que o Estado está sobrecarregado com o grande número de refugiados (56%, no ano anterior).
Além disso, a pesquisa encomendada pela seguradora R+V apontou outro resultado surpreendente: os cidadãos alemães voltaram a ter mais confiança na política e nos políticos. Atualmente, apenas cerca de 40% dos alemães temem que os políticos não estejam à altura de suas funções – este valor nunca foi tão baixo.
De acordo com os autores da pesquisa, este resultado reflete a boa gestão geral do governo na crise da pandemia do coronavírus. Römstedt resumiu a percepção popular dos políticos: "Os políticos ainda não são alunos-modelos, mas passaram de ano".