Alemão desenvolve turismo sustentado
16 de janeiro de 2004Quem deixa o tumulto do turismo em massa na ilha Margarita, no Mar do Caribe, e chega à península Paria, com suas casas de barro e vegetação exuberante, pode imaginar que desembarcou em outro planeta. Pelos padrões econômicos, a península venezuelana é pobre, pois não tem indústria, e muitos habitantes são subnutridos. Mas do ponto de vista ecológico a região é muito rica, com suas florestas tropicais, praias paradisíacas, palmeiras, cacaueiros e muitas outras árvores frutíferas. Há também grande quantidade de pumas, tatus e macacos.
Com toda esta riqueza natural se tem que começar a fazer alguma coisa para diminuir a pobreza das pessoas, pensou Wilfried Merle, quando chegou em Paria como funcionário da Agência de Cooperação Técnica (GTZ), da Alemanha, que executa projetos pelo mundo afora. Merle criou então seu Projeto Paria e virou empresário.
Críticas, apesar de tudo
- Para começar, 16 anos atrás, Merle comprou uma praia de coqueiros, construiu nove bangalôs e uma via de acesso. Esta estrada já está bastante estragada, mas as cabanas na Playa Medina são de primeira classe. Outras duas praias igualmente belas e fontes de águas termais também atraem turistas para as cabanas do empresário alemão iluminadas a partir de energia solar. Mesmo assim não faltam críticas de ecologistas. Estes argumentam que todo turista causa danos à natureza, pois consome água, produz lixo e barulho e gera injustiça social. Wilfried Merle quer provar o contrário com o seu Projeto Paria:"Turismo também pode proporcionar justiça social, se for feito de maneira consciente, se envolver a população local, preservar a sua cultura, fomentar e principalmente proteger a natureza. Com sua visita, os turistas podem contribuir muito para preservar as riquezas naturais, que são nossa atração turística. Não temos indústria em nossa península, só natureza e ela é nosso potencial".
O ecoturismo floresce
- O turismo ecológico está vivendo um verdadeiro boom. Com os seus pacotes ecológicos, as grandes empresas do ramo atraem cada vez mais europeus estressados e os enviam para gozar a natureza em lugares distantes. Ávidas por lucro rápido, elas constroem grandes instalações hoteleiras e mandam o seu próprio pessoal para lá.O Projeto Paria faz o contrário. Em vez de um hotel com 200 quartos, Merle construiu 20 pousadas pequenas com dez quartos cada uma. E os empregados foram recrutados no próprio lugar.
Grande parte do pessoal de Merle não sabe ler nem escrever e, naturalmente, não fala alemão nem inglês. Por isso não admira que ele receba pouco mais de 200 turistas do Primeiro Mundo por ano. Mas, apesar de reveses e decepções, o empresário de 63 anos mantém firme sua visão de turismo sustentado em Paria. Ele quer concorrer com o turismo tradicional, sem ter de receber favor de pessoas bem intencionadas:
"Não queremos hóspedes que venham para cá porque simplesmente querem nos ajudar. Nós temos uma responsabilidade gigantesca para nos tornarmos capazes de concorrer. Nós não queremos oferecer só bons serviços e qualidade em tudo, mas também tentar desenvolver um turismo harmônico tanto com a natureza quanto com o social".
Futuras gerações como meta
- Merle gosta de exibir uma vitrine no hotel La Colina, em Carúpano, cheia de troféus internacionalmente importantes, os quais conquistou com o Projeto Paria. Ele tem orgulho também das doações que fez com o dinheiro que ganhou com turismo ecológico. Seus donativos foram para programas de bolsa de estudo, de transporte escolar, ambulatórios médicos, biblioteca e, principalmente, para iniciativas que fomentam a independência financeira das novas gerações.Com apoio da GTZ, Merle está construindo um centro ecológico na floresta de Paria, onde principalmente as crianças venezuelanas devem conhecer o valor das reservas naturais para que, quando adultas, combatam a ameaça de destruição de sua paisagem e com isto não cometam crimes ecológicos, como fizeram as nações industrializadas.