Preços dos alimentos
14 de abril de 2008O alerta veio do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial: as explosivas altas dos preços dos alimentos no mercado mundial colocam em risco a estabilidade social, política e econômica de diversos países do mundo, principalmente dos mais pobres, afirmaram neste domingo (13/04) em Washington os chefes das duas instituições.
Um dia antes, o Parlamento do Haiti destituiu o primeiro-ministro Jacques Edouard Alexis após uma semana de violentos protestos causados pela alta dos preços dos alimentos. A crise levou o presidente do Haiti a anunciar um plano de emergência que prevê uma redução de 15% do preço do arroz.
Segundo o Banco Mundial, mais de 30 países correm o risco de enfrentar uma situação semelhante à do Haiti. Nas Américas Central e do Sul, há risco de instabilidade social também na República Dominicana, na Nicarágua e na Bolívia. Os demais países estão localizados na África e na Ásia.
Origens da crise
De acordo com um estudo do Banco Mundial, os preços dos alimentos subiram 83% em todo o mundo nos últimos três anos, sendo que no caso do trigo a elevação chega a 181%. Cerca de 854 milhões de pessoas (mais de quatro vezes a população do Brasil) não têm o suficiente para se alimentar.
O organismo aponta como principais motivos para a alta nos preços dos alimentos o crescente uso de matéria-prima vegetal para a produção de combustíveis e os novos hábitos alimentares em países como a China, onde o crescimento econômico faz com que as pessoas passem a se alimentar melhor, elevando a procura por alimentos e, conseqüentemente, os preços.
O uso de vegetais para a obtenção de energia é visto com crescente desconfiança também na Europa. O argumento central é que a opção pelos biocombustíveis leva à derrubada de florestas e à escassez de alimentos.
Biocombustível: o vilão
Foi o que argumentou, em Washington, a ministra alemã da Ajuda do Desenvolvimento, Heidemarie Wieczorek-Zeul. Para ela, a estratégia de elevar o uso de biocombustíveis – adotada por vários países – deve ser repensada. Ela afirmou que entre 30% e 70% das recentes altas dos preços dos alimentos se deve à crescente produção de combustíveis a partir de vegetais.
"Se nos países industrializados os carros andarem com biocombustíveis e ao mesmo tempo as florestas tropicais na linha do Equador forem derrubadas, não haverá nenhum benefício ao clima", argumentou Wieczorek-Zeul. Pelos planos da União Européia (UE), os biocombustíveis deverão fornecer 10% da energia consumida pelo bloco de países em 2020.
O ministro alemão do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, não vê contradição entre a produção de alimentos e de energia e diz que a meta da UE é alcançável. "Podemos cobrir esses 10% com matéria-prima que não oferece concorrência à produção de alimentos nem é oriunda de florestas tropicais", afirmou.
Melhor qualidade de vida
Para Gabriel, a principal concorrência não é entre alimentos e biocombustíveis, mas entre alimentos e ração animal. Segundo ele, a melhoria dos padrões de vida em todo o mundo faz com que cada vez mais áreas agricultáveis sejam utilizadas para a produção de ração.
Por esse argumento, a melhora do PIB per capita em países como a China e a Índia leva a população local a consumir cada vez mais produtos como carne e leite, cuja produção necessita de ração animal, que por sua vez é produzida a partir de cereais.
"Quanto mais produtos à base de carne e leite são consumidos, mais cresce a demanda por cereais", afirmou o presidente da Associação dos Agricultores Alemães (DBV), Gerd Sonnleiter. Segundo ele, para produzir um quilo de carne são necessários de três a cinco quilos de cereais.
Mais dinheiro
No caso do Haiti, o Banco Mundial reagiu disponibilizando 10 milhões de dólares ao país. Mas a instituição alerta que o Programa Mundial de Alimentos da ONU necessita de 500 milhões de dólares para ajudar a combater o problema da falta de alimentos em todo o mundo. Até agora, apenas a metade desse valor foi cedido pelos países ricos.
O Banco Mundial também disse que aumentará seus recursos destinados ao desenvolvimento da agricultura nos países pobres de 800 milhões para 1 bilhão de dólares até 2011. O presidente da instituição, Robert Zoellick, afirmou que a atual situação coloca em risco todos os resultados positivos obtidos pela comunidade internacional na luta contra a pobreza nos últimos sete anos.